Na esteira dos dois planos anunciados nesta semana – na quarta-feira pela Stellantis e na terça-feira pela Toyota -, a Anfavea, entidade que representa as montadoras instaladas no Brasil, revisou o cálculo dos investimentos previstos no setor. Agora, como informado nesta quinta-feira, 7, pelo Estadão, a associação calcula em R$ 117 bilhões os investimentos ativos, considerando os ciclos iniciados em 2021.
Esse montante engloba as montadoras tanto de carros, cujos planos anunciados ou em curso passam de R$ 95 bilhões até 2032, quanto de caminhões e ônibus. No mês passado, a Anfavea divulgou uma estimativa de investimentos da ordem de R$ 100 bilhões até 2029, porém revisou o cálculo diante dos anúncios bilionários dos últimos dias.
A série de investimentos foi desencadeada pelo lançamento, no fim do ano passado, dos incentivos fiscais voltados à descarbonização e segurança dos carros produzidos no Brasil.
O maior deles foi anunciado pela Stellantis: R$ 30 bilhões de 2025 a 2030. Antes da Stellantis, a Toyota anunciou na terça-feira que vai investir R$ 11 bilhões na produção de automóveis híbridos.
Nesta quinta, na apresentação dos resultados do setor em fevereiro, o diretor-executivo da Anfavea, Igor Calvet, destacou que o setor vive um momento de otimismo que vai redundar até o fim do ano em “muito mais investimentos”.
“Se colocar na ponta do lápis os valores anunciados de 2021 até este ano, são R$ 117 bilhões. Apenas nos dois primeiros meses do ano, falamos em mais da metade: R$ 66 bilhões”, disse Calvet, lembrando que o montante é recorde. “O setor tem vivido um bom ciclo.”
Na quarta-feira, representantes da Anfavea estiveram com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para defender os benefícios do Mover, nome do programa federal que prevê, em cinco anos, incentivos fiscais de R$ 19,3 bilhões para as montadoras. Criado via Medida Provisória no fim do ano passado, o programa ainda depende de regulamentação.
Ao explicar por que as montadoras estão anunciando novos investimentos, a direção da Anfavea citou, além do Mover, a aprovação da reforma tributária e a volta, em janeiro, do imposto de importação sobre carros híbridos e elétricos, uma forma de o governo forçar a produção nacional das novas tecnologias.
O presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, sustentou que as empresas não tinham motivos para investir na produção nacional de carros eletrificados quando a alíquota para importar esses veículos era zero. “Isso fez com que as empresas tomassem a decisão pelos investimentos”, comentou.
Fora isso, Leite pontuou que o Mover tem, em sua essência, o incentivo à produção local, uma vez que o foco tributário e regulatório do programa está voltado a produtos em que o Brasil tem vantagem competitiva, como o biocombustível. Mais uma vez, o presidente da Anfavea disse que o Mover, junto com a reforma tributária, trouxe previsibilidade para o setor.
Embora a Anfavea não tenha previsões do impacto no emprego, o presidente da entidade prevê um grande potencial de geração de postos de trabalho com os novos investimentos.
Com as montadoras operando ainda com ociosidade elevada, Leite afirmou, no entanto, que não acredita em aumento de capacidade instalada da indústria como um todo. A previsão é que as montadoras produzam menos de 2,5 milhões de veículos neste ano, bem menos do que o potencial das fábricas, de 4,5 milhões de unidades.