23/09/2022 - 17:33
Em quatro regiões ucranianas antes ocupadas pela Rússia, comissão da ONU afirma ter encontrado evidências de execuções, tortura e violência sexual, além de bombardeios em áreas civis. Crianças estariam entre as vítimas.A Comissão de Inquérito do Conselho de Direitos Humanos da ONU informou nesta sexta-feira que seus investigadores encontraram provas de crimes de guerra cometidos por forças russas na Ucrânia.
"Com base em provas recolhidas pela comissão, concluímos que crimes de guerra foram cometidos na Ucrânia", afirmou Erik Mose, que presidiu as investigações.
A comissão foi criada em maio para investigar alegações de crimes de guerra cometidos após a invasão russa da Ucrânia, que teve início em 24 de fevereiro. Até o momento, os trabalhos se concentram em quatro regiões: Kiev, Kharkiv, Sumy e Tchernihiv.
"Ficamos estarrecidos com o grande número de execuções nas áreas que visitamos. A comissão investiga atualmente mortes desse tipo em 16 cidades e vilarejos", explicou Mose.
"É claro que se trata de um incidente mais recente, mas certamente pretendemos observar o ocorrido em Izium também", afirmou, em referência à cidade onde centenas de corpos foram encontrados em supostas valas comuns, o que Moscou ainda nega.
Autoridades ucranianas afirmam que 436 corpos foram exumados em um local próximo à recentemente reconquistada pelas tripas de Kiev.
"A maior parte tem sinais de morte violenta, e 30 corpos têm sinais de tortura. Há corpos com cordas nos pescoços, mãos amarradas, membros quebrados e ferimentos à bala", disse o governador da região de Kharkiv, Oleg Synegubov.
Ao ser questionado se também foram cometidos crimes contra a humanidade, Mose disse que a comissão ainda não chegou a uma conclusão.
Como se deram as investigações?
Os investigadores da ONU conversaram com mais de 150 vítimas e testemunhas e visitaram 27 cidades e vilarejos, onde examinaram covas e centros de detenção e tortura, supostamente utilizados pelas forças invasoras.
A equipe também investigou dois casos de maus tratos de cidadãos russos por soldados ucranianos.
"Amanhã [24/09] fará sete meses desde o início das hostilidades na Ucrânia. Estamos preocupados com o sofrimento que o conflito armado internacional na Ucrânia causou à população civil", afirma a comissão em comunicado.
"Isso é ilustrado por dados atualizados regularmente pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), referentes às mortes e ferimentos, e pelo Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), no que diz respeito aos refugiados e pessoas forçadas a se deslocarem internamente", diz a nota. "A descoberta recente de novas valas demostra a gravidade da situação."
O que foi descoberto?
O relatório da comissão destaca diversas áreas onde atividades russas foram particularmente nocivas, incluindo ataques indiscriminados em áreas civis, execuções, tortura e violência sexual e de gênero.
Os investigadores relatam que o "uso de armas explosivas de amplo alcance em áreas povoadas é fonte de danos e sofrimentos enormes para os civis".
Além disso, uma variedade de ataques ocorreram "sem distinguir entre civis e combatentes", incluindo o uso de "munições de fragmentação ou sistemas de lançadores múltiplos de foguetes, assim como ataques aéreos em áreas povoadas".
O texto menciona 16 cidades e vilarejos onde estão em andamento investigações sobre execuções com "alegações verossímeis" em muitos mais casos.
Houve "testemunhos consistentes de maus tratos e tortura" colhidos de vítimas ucranianas, algumas das quais disseram ter sido levadas para centros de detenção na Rússia, onde permaneceram durante semanas. Outras vítimas foram dadas como desaparecidas.
Crimes contra crianças
A comissão também apresentou relatos de espancamentos, choques elétricos e nudez forçada de prisioneiros nos centros de detenção russos.
Mose disse que também foram encontradas provas de um número não divulgado de soldados russos que cometeram crimes sexuais ou violência de gênero. As vítimas tinham entre 4 e 82 anos de idade.
A Comissão de Inquérito do Conselho de Direitos Humanos da ONU documentou casos nos quais crianças foram estupradas, torturadas ou confinadas ilegalmente.
rc/lf (AP, AFP, Reuters)