O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, renunciou ao cargo nesta quarta-feira (23), pressionado por uma investigação contra ele por seu suposto envolvimento em um esquema de exportação ilegal de madeira para os Estados Unidos e Europa.

“Apresentei meu pedido de exoneração (ao presidente Jair Bolsonaro), que foi aceito”, anunciou em Brasília à imprensa Salles, um dos ministros mais questionados, principalmente por conta do aumento do desmatamento na Amazônia brasileira e do desmonte de programas de proteção ambiental.

Salles, de 46 anos, informou ainda que será substituído por Joaquim Álvaro Pereira Leite, encarregado da Secretaria da Amazônia e Serviços Ambientais do Ministério do Meio Ambiente.

O ex-ministro esteve sob pressão e havia rumores de sua renúncia há várias semanas, especialmente depois que o Supremo Tribunal Federal ordenou uma investigação no final de maio por seu suposto envolvimento em um esquema de exportação ilegal de madeira para Estados Unidos e Europa, o que ele sempre negou.

Apesar de tudo, continuou a ter o apoio público de Bolsonaro, que após a abertura da investigação disse que ele era um “ministro excepcional”, mas que enfrentava obstáculos para realizar seu trabalho por causa de alguns setores “interessados” do Ministério Público e de “xiitas ambientais”, como costuma definir órgãos estatais de controle ambiental, como ICMbio e Ibama.

No anúncio, Salles defendeu sua gestão, na qual, segundo ele, buscou um equilíbrio entre sustentabilidade e “respeito ao agronegócio, aos empresários de todos os setores, mineração, imobiliário”.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

– “Já vai tarde” –

O governo Bolsonaro, e em particular o ministro Salles, são acusados por indígenas, acadêmicos e organizações ambientalistas nacionais e internacionais de ter favorecido o aumento do desmatamento, reduzindo os recursos dos órgãos de controle e defendendo a abertura da região amazônica à agricultura e à mineração.

Salles também era malvisto por setores do agronegócio, que consideravam que sua política ambiental prejudicava a imagem internacional do Brasil, uma potência agroexportadora.

O anúncio foi muito festejado pelos órgãos ambientais, que desde que este ex-secretário do Meio Ambiente do estado de São Paulo assumiu o cargo no governo de Bolsonaro, em janeiro de 2018, não param de pedir sua renúncia, principalmente após o alarmante aumento dos incêndios e do desmatamento na Amazônia.

“Para imprimir, emplacar e gritar bem alto pelas ruas: CAIU! #JÁVAITARDESALLES”, escreveu a ONG Observatório do Clima no Twitter.

Já o Greenpeace emitiu uma nota afirmando que “mudar o ministro não garante que o governo Bolsonaro mudará seu projeto antiambiental nefasto e que vem sendo dolosamente implementado”.

A organização ambientalista acrescentou que o novo ministro “é subordinado de Salles e aliado aos interesses do agronegócio”.

Após sua renúncia, o governo divulgou o perfil do novo ministro, formado em administração de empresas e que antes de ingressar no governo era membro da Sociedade Rural Brasileira, uma das entidades representativas do setor agropecuário do país.

Ele também foi proprietário de uma empresa de café.

– “Passando a boiada” –

Em abril do ano passado, o ministro enfrentou um de seus momentos mais polêmicos, quando foi filmado dizendo em uma reunião de gabinete com Bolsonaro que o governo deveria aproveitar a atenção global voltada para a pandemia para legalizar as atividades agrícolas e extrativistas em áreas protegidas.


“Nós temos a possibilidade nesse momento que a atenção da imprensa está voltada exclusiva quase que exclusivamente pro covid (…) e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”, disse Salles, causando indignação.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias