Um grave caso de racismo avança em Porto Alegre. O estudante Sérgio Renato da Silva Júnior, de 24 anos, estudante de Políticas Públicas da UFRGS recebeu vários ataques racistas nas redes sociais de sua namorada, a psicóloga Amanda Klimick, de 23 anos, testemunha dos fatos. O suspeito será ouvido essa semana segundo Andréa Mattos, delegada titular da Delegacia de Combate à Intolerância, em Porto Alegre.

Em uma série de chocantes mensagens, o suspeito faz afirmações de cunho racial e eugenista. “Pensa que assim como no gene o negro é dominante, ele também exala um cheiro típico, libera substâncias no ambiente e na troca com parceiros. Por isso, os europeus são protetores, “patriarcais”, porque se não fosse isso eles perderiam potencialmente a etnia. As mulheres sempre foram muito protegidas contra influências de estranhos, sobretudo negros”, diz a mensagem. Ele também afirma que Amanda “merece coisa melhor”. Várias mensagens com esse tipo de teor foram enviadas ao longo de dias.

Os registros das conversas e demais elementos foram entregues à polícia no dia 30. A delegada Andréa confirma que o suspeito já respondeu a termos circunstanciados por outros delitos este ano em Arroio do Meio e na Capital. Ele tem antecedentes por injúria, perturbação da tranquilidade e perseguição, segundo ela.

O suspeito reagiu dizendo que “está saindo uma enxurrada de fake news muito graves a meu respeito” e informou que deve buscar assessoramento jurídico. Nestea terça- feira, ele ainda disse que “não há a menor carga de racismo ou injúria” em suas mensagens, e que “deve esse debate às autoridades”.

A coordenação do Programa de Pós-Graduação em Filosofia afirmou em nota que “examinou de forma tempestiva – e não de agora – uma série de denúncias de discurso discriminatório e de ódio por parte de discente do Programa, recebidas em julho deste ano”. No dia 12 de agosto, o programa encaminhou denúncias ao Núcleo de Assuntos Disciplinares da universidade, que recebeu as informações e recomendou a abertura de um processo disciplinar.

Uma mensagem feita por Sérgio no Instagram teve mais de 30 mil curtidas. “A minha intenção ao combater o racismo e ir com essa história até o final, além de servir de exemplo para muitos negros, estou procurando justiça. Mas eu tenho ciência de que eu não estou combatendo o racismo. O racismo será combatido quando nós negros tivermos a capacidade de tomar espaços dentro da esfera de poder brasileira, seja no setor público, seja no setor privado, seja na política”, diz.

Nota da UFRGS

Em razão de mensagens que circulam nas redes sociais envolvendo relatos de que um estudante de curso da UFRGS haveria feito manifestações ofensivas, a Secretaria de Comunicação Social esclarece que a Instituição repudia qualquer forma de discriminação. Ressalve-se que, no caso em questão e em toda situação congênere, esta tipificação somente poderá ser caracterizada após a avaliação pelas instâncias competentes, condicionada inicialmente à decisão da direção do curso ao qual o estudante esteja vinculado pela abertura ou não de procedimento investigatório.

Nota do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

A respeito de recentes denúncias de ataques racistas perpetrados por um membro de seu corpo discente, e diante do caráter pouco informativo das notas publicadas recentemente por outras instâncias da Universidade, o Programa de Pós-Graduação em Filosofia vem tornar públicas, não apenas suas posições, mas sobretudo as ações que vem tomando para ver punidas e coibidas quaisquer formas de discriminação, racismo, injúria racial, desrespeito e assédio, em ações ou palavras, no âmbito do Programa.
Já tivemos a oportunidade de explicitá-lo por ocasião do início do atual semestre letivo em nossa Carta à Comunidade do PPGFil e temos traduzido esse compromisso em ações concretas.
Em conformidade com seus deveres institucionais e observando as normas da UFRGS, a coordenação do PPGFil examinou de forma tempestiva – e não de agora – uma série de denúncias de discurso discriminatório e de ódio por parte de discente do Programa, recebidas em julho deste ano. Tendo constatado a gravidade dos fatos, o Programa encaminhou no último dia 12 de agosto tais denúncias ao Núcleo de Assuntos Disciplinares (NAD) da UFRGS, que emitiu um juízo de admissibilidade sobre as informações trazidas e recomendou à unidade responsável (no caso, o IFCH), a abertura de processo disciplinar.
Nesse sentido, o Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFRGS junta-se publicamente à pressão da comunidade universitária e da sociedade civil para que não haja complacência com infrações de nossos códigos disciplinares e, em especial, com violações dos direitos e garantias fundamentais protegidos por nossa Constituição.
Declaramos ainda nosso compromisso de continuar trabalhando para que eventos semelhantes não se repitam.
Porto Alegre, 04 de outubro de 2021

Com informações de G1.