Por Anthony Deutsch e Stephanie van den Berg

AMSTERDÃ (Reuters) – Uma investigação reaberta há seis anos sobre a traição à família de Anne Frank identificou um suspeito surpreendente que seria o delator responsável por levar os nazistas a encontrarem-na junto a outros judeus em um esconderijo à beira de um canal em Amsterdã em 1944.

Os nazistas encontraram Anne e os demais judeus em 4 de agosto daquele ano depois que o grupo ficou dois anos escondido. Eles foram deportados e Anne morreu no campo de concentração de Bergen Belsen aos 15 anos.

Uma equipe que incluiu o agente aposentado do FBI Vincent Pankoke e cerca de 20 historiadores, criminologistas e especialistas em dados identificaram uma figura relativamente desconhecida, o tabelião judeu Arnold van den Bergh, como principal suspeito de revelar o esconderijo.

Alguns outros especialistas enfatizaram que as evidências não são conclusivas.

O membro da equipe de investigação Pieter van Twisk disse que a principal evidência do caso é um bilhete não assinado destinado ao pai de Anne, Otto, encontrado em um antigo dossiê sobre uma investigação pós-guerra, que cita especificamente Van den Bergh e alega que ele deu a informação aos nazistas.

O bilhete afirma que Van den Bergh tinha acesso a endereços de esconderijos de judeus como membro do Conselho Judaico de Amsterdã, que operou durante a guerra. O tabelião teria passado essas informações aos nazistas para salvar sua própria família.

Investigadores confirmaram que Otto, único membro da família a sobreviver à guerra, tinha conhecimento do bilhete, mas optou por nunca falar sobre ele em público.

Twisk especula que Otto provavelmente decidiu ficar em silêncio sobre o episódio pois não sabia se a acusação era verdadeira, não queria divulgar informações que pudessem incentivar ainda mais o antissemitismo ou não desejava que as três filhas de Van den Bergh fossem culpadas por algo que o pai pudesse ter feito.

“Otto esteve em Auschwitz”, disse Twisk. “Ele sabia que pessoas em situações difíceis às vezes fazem coisas que podem não ser moralmente justificáveis.”

Embora outros integrantes do Conselho Judaico de Amsterdã tenham sido deportados, Van den Bergh pôde permanecer na Holanda. Ele morreu em 1950.

O historiador Erik Somers, do instituto holandês NIOD para estudos de guerra, holocausto e genocídio, elogiou a extensa investigação, mas mostrou-se cético quanto à sua conclusão.

Ele questionou a centralidade do bilhete anônima nos argumentos da responsabilidade de Van den Bergh e disse que a equipe de investigação fez suposições sobre as instituições judaicas de Amsterdã nos tempos da guerra que não são apoiadas por outras investigações históricas.

Segundo Somers, há muitas razões possíveis para Van den Bergh nunca ter sido deportado, pois ele “era um homem muito influente”.

Miep Gies, uma das pessoas que ajudou a família Frank, manteve o diário de Anne a salvo até a volta de Otto. Ele foi publicado pela primeira vez em 1947. Desde então, foi traduzido para 60 idiomas e capturou a imaginação de milhões de leitores em todo o mundo.

A Fundação Anne Frank House não esteve envolvida na investigação do caso, mas partilhou informações dos seus arquivos com os investigadores.

As descobertas da nova pesquisa serão publicadas em um livro da autora canadense Rosemary Sullivan, “A Traição de Anne Frank”, que será lançado na terça-feira.

(Reportagem de Anthony Deutsch, Stephanie van den Berg, Toby Sterling)

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