XANGAI/CINGAPURA (Reuters) – Investidores do setor de tecnologia da China preocupavam-se mais uma vez com reguladores nesta terça-feira, temendo que a reportagem da mídia estatal que comparou os jogos de internet ao ópio sinalize um novo “front” na enxurrada de escrutínio que está sendo direcionada às grandes empresas.

O artigo foi posteriormente alterado para remover a historicamente carregada referência ao ópio, mas, junto da abertura de uma investigação em distribuidoras de chips automotivos, a ação agitou os mercados ainda doloridos das vendas na semana anterior.

A ação chinesa Tencent, gigante da mídia social para jogos, caiu 6% e foi momentaneamente destituída de seu posto de empresa mais valiosa da Ásia, com as ações do setor de semicondutores caindo enquanto as mudanças parecem desfazer a promessa das autoridades, de dias atrás, de uma pegada mais branda.

“Esse fluxo de ‘potenciais’ regulamentações constitui um tsunami de incertezas”, disse Richard Kramer, sócio-gerente da Arete Research.

A Administração Estatal para Regulamentação do Mercado da China disse que iniciou uma investigação sobre distribuidoras de chips automotivos porque suspeita de aumento de preços.

O artigo da mídia estatal que desencadeou as vendas de tecnologia nesta terça-feira, publicado no Economic Information Daily, mencionou um videogame da Tencent e pediu mais restrições para lidar com o vício das crianças em jogos, inicialmente descrito como “ópio espiritual”.

O veículo é afiliado à maior agência de notícias estatal da China, a Xinhua. O artigo logo desapareceu do site do jornal e do WeChat – e as ações da Tencent se recuperaram um pouco – depois, reapareceu sem a menção ao “ópio espiritual”.

NADA FORA DOS LIMITES

Investidores acreditam que uma grande mudança está ocorrendo na China, à medida que o governo busca agressivamente uma reforma com o objetivo de cortar as pressões do custo de vida às custas das empresas.

As vendas caóticas na semana passada, desencadeadas pelo vazamento de detalhes de uma repressão no setor de educação, encerraram o pior mês para as ações chinesas em quase três anos, com os investidores preocupados sobre qual pode ser o próximo alvo.

“Vemos pouco risco de propagação global pela afirmação da China de maior controle sobre certos setores, mesmo que isso potencialmente provoque volatilidade do mercado”, disseram analistas do BlackRock Investment Institute em nota.

“Continuamos taticamente neutros em relação às ações da China e vemos um afrouxamento adicional da política monetária e fiscal como benéfico para os ativos cíclicos na China.”

(Por Tom Westbrook em Cingapura e Andrew Galbraith, Brenda Goh, Samuel Shen e Winni Zhou em Xangai)

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