A três dias do primeiro turno da eleição presidencial francesa, os investidores estão prudentes e acompanham as pesquisas com muita atenção, na tentativa de antecipar um resultado que pode ser chave para o futuro da zona euro.

“Quem governará? Essa não é realmente a questão (…) O que queremos medir é, antes de tudo, o risco para o euro”, afirma o economista Samy Chaar, do banco privado Lombard Odier, em Genebra.

Os mercados temem uma vitória da candidata de extrema direita, Marine Le Pen, que defende a saída do euro e da União Europeia, após um referendo. A hipótese é improvável, mas, caso se torne realidade, pode enfraquecer a estrutura europeia.

O primeiro turno acontece neste domingo (23), e o segundo turno, em 7 de maio.

“Pôr o euro em xeque, a segunda divisa mais usada no mundo em termos de fluxos comerciais e de poupança, constituiria um grave risco para os investidores internacionais e seus clientes”, avalia Chaar.

Segundo Eric Brard, responsável mundial de gestão de taxas em Amundi, até agora “não há movimentos financeiros de desconfiança, nem de especulação”.

Essa relativa tranquilidade se explica pelas informações que bancos, analistas e imprensa foram reunindo nas últimas semanas.

“Em todo o mundo, os analistas examinam há várias semanas os artigos da Constituição francesa e os mecanismos eleitorais franceses”, explica um “trader” que pede para não ser identificado.

Os investidores também se deram conta de que “mesmo se Marine Le Pen for eleita, seria muito difícil para ela aplicar sua política” de saída do euro, devido às barreiras constitucionais e políticas, conclui Chaar.

– Prudência e rigor –

Por isso, “o ambiente está tranquilo nos mercados, mas a prudência é de praxe, porque não queremos que se repitam episódios como o Brexit, ou a eleição de Donald Trump”, eventos que surpreenderam um grande número de observadores, lembra Christopher Dembik, responsável por pesquisa econômica para o Saxo Banque.

O resultado do primeiro turno nunca foi tão incerto, com as pesquisas mostrando uma diferença cada vez mais apertada entre os quatro principais candidatos (Emmanuel Macron, Marine Le Pen, François Fillon e Jean-Luc Mélenchon).

Para os investidores, um duelo entre Le Pen e Mélenchon é bastante improvável, mas, se acontecer, terá forte impacto nos mercados, segundo Dembik.

Alguns especialistas mencionam o risco de “bank run”, ou pânico financeiro, que leva a uma retirada em massa dos depósitos bancários por parte dos clientes, e “uma degradação muito rápida da nota [da dívida] francesa”.

Cada um tem seus métodos para tentar prever o resultado eleitoral. Além de monitorarem as sondagens atentamente, alguns especialistas observam os “sites” de apostas, e outros analisam a audiência dos candidatos nas redes sociais.

“Todo o mundo se prepara um pouco da mesma maneira”, comenta Chaar.

“Sem mudar necessariamente a estrutura das carteiras [de ações] colocamos ‘airbags’ que não saem muito caros, se tudo vai bem, e que podem gerar ganhos, se as coisas forem mal”, acrescenta.

Alguns investidores se concentram ainda nas divisas consideradas fortes, como o franco suíço. Também há os que ativam contratos de seguro para se proteger, se os mercados financeiros vacilarem.

“Há, porém, um cansaço autêntico entre os investidores internacionais. Alguns nos dizem que é a última vez que investem em euros, porque estão cansados de ver o euro regularmente na berlinda”, diz um “trader”.