Assim como em outros setores da economia, a participação feminina no mercado financeiro tem crescido de forma expressiva. Apesar de ainda ser minoria — apenas 23%, de acordo com estudo da XP Investimentos —, é muito mais fácil encontrar mulheres que aplicam suas economias nos últimos dez anos. O número de investidoras saltou de 15 mil para 1,4 milhão. Isso representa cerca de nove vezes mais mulheres cuidando de suas finanças em dez anos. Uma expansão impressionante, ainda que um pouco abaixo do aumento de 11 vezes no contingente de homens investindo no mesmo período. “Vale destacar que durante a pandemia as mulheres foram mais impactadas com uma perda de trabalho, 4.2% versus 3% dos homens. Esse cenário de maior preocupação com o trabalho frente a um cenário macroeconômico mais desafiador fez com que o interesse das mulheres por investimento ficasse maior”, declara Marcella Ungaretti, head de ESG do Research da XP Investimentos.

A educadora financeira Simone Sgarbi pondera que apesar de o número ainda ser pequeno proporcionalmente, já pode ser considerado uma grande vitória. Hoje, a sua cartela de clientes é formada, em sua grande maioria, por 85% de mulheres.

As mulheres estão ganhando cada vez mais espaço no mercado financeiro
ARROJADA A advogada Alessandra Zanetti investe em criptomoedas há mais de dez anos e não se arrepende (Crédito: GABRIEL REIS)

Segundo ela, por terem a tendência de estudar mais a respeito de investimentos, antes de efetivamente começarem a aplicar, o primeiro aporte delas costuma ser mais arrojado do que o realizado pelos homens. “As mulheres tendem a manter seus investimentos por mais tempo, os homens pulam mais de um investimento para o outro”, afirma Simone. De acordo com a pesquisa, o valor médio do primeiro investimento das mulheres na B3 foi de R$ 463, enquanto o dos homens foi de R$ 71.
Não obstante o arrojo nas primeiras aplicações no mercado, as mulheres são mais cautelosas e resilientes. Esse é o caso da empresária Fran Rorato, que começou a investir em títulos públicos desde 2015. “Sou muito conservadora nas minhas aplicações. Sempre me arrisquei muito empreendendo, mas o que entra eu nunca arrisquei em um mercado volátil. Acumular é um baita prazer e, como se diz por aí, os juros compostos são a outra maravilha do mundo”, conta.

Estudo realizado pela empresa de serviços financeiros Bankrate em 2021 constatou que 16% das mulheres eram mais propensas a investir em criptoativos — contra apenas 11% dos homens. A advogada Alessandra Zanetti é um exemplo. Investidora nesse mercado há mais de dez anos, ela se tornou também empreendedora serial que tem participação em algumas startups nesse segmento. “Desde cedo atuei com tecnologias disruptivas. Em relação a criptoativos, invisto há mais de dez anos”, conta.

O estudo da XP também destaca algumas características positivas que as mulheres trazem para o mercado de criptomoedas, como a aversão ao risco, disciplina e paciência. “Essas características podem ser muito valiosas no mundo dos investimentos, onde a paciência e a disciplina podem ser fundamentais para tomar decisões racionais e não se deixar levar pelas emoções”, afirma Maurício Zanetti, CEO da startup KRYP.TOOLS.As mulheres estão ganhando cada vez mais espaço no mercado financeiro

No entanto, apesar do crescimento do número de mulheres investidoras, ainda há uma grande lacuna de gênero no setor. “É encorajador ver algumas empresas do segmento, como Mercado Bitcoin, usando mulheres investidoras para falar sobre o mercado de criptoativos nas redes sociais. Essa estratégia pode ajudar a atrair mais o público feminino”, comenta Zanetti.

Devido a alguns fatores, assim como a volatilidade do mercado financeiro, o público feminino, de acordo com o professor do curso de Ciências Contábeis da Universidade Estácio José Carlos Carota, adquiriu um conhecimento sem precedentes inserindo-se no mercado de renda fixa e variável e buscando as melhores alternativas para seus investimentos. “Certamente esta participação do público feminino no mercado financeiro vai avançar de forma gradual, seja no mercado de trabalho ou aplicando”, avalia.

Influenciadores impactam o mercado financeiro

Os mercados financeiros e de capitais estão cada vez mais atentos ao poder de comunicação e de alcance dos produtores de conteúdo digital. Assumindo um papel de protagonismo na difusão de temas ligados a esse universo, os influencers de investimento no Brasil somavam 94,1 milhões de seguidores em junho do ano passado. A constatação é da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (ANBIMA), em parceria com o Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados (IBPAD). As postagens curtas, a praticidade na leitura e a atualização em tempo real são algumas das razões que mantiveram o Twitter como a mídia predileta dos influencers.

Mas esses números expressivos também trazem preocupação. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), reguladora do mercado de capitais brasileiro, solicitou ao Twitter dados de influenciadores da Fintwit, comunidade da rede que soma 266 influencers, com aproximadamente 74 milhões de seguidores. “É preciso lembrar que a profissão de educador financeiro não é regulamentada. A medida da CVM é necessária para o amadurecimento do setor”, avalia Tiago Feitosa, analista e especialista em mercado financeiro. O Twitter concentra 66,2% das publicações, seguido por Instagram (13,4%), YouTube (11%) e Facebook (9,5%).As mulheres estão ganhando cada vez mais espaço no mercado financeiro