Cinquenta anos não são cinquenta dias, e o atleticano da capital mineira soltou, na noite de quinta-feira (02), um grito entalado na garganta, como se espinha de peixe frito atravessada.

A catarse coletiva, que começou ao final do jogo de domingo passado, contra o Fluminense, no Mineirão, em que após outra de suas ‘viradas’ mágicas (o Galo é o time da virada… o Galo é o time do amor… lelelelele) os mineiros derrotaram os cariocas por 2×1, gols do super herói Hulk, atingiu o Olimpo durante a madrugada de sexta-feira, depois da confirmação do título antecipado de campeão brasileiro de 2021, na partida contra o Bahia, na Fonte Nova em Salvador: 3×2. Sim; de virada!

Mais de 100 mil pessoas passaram pela Praça 7, no centro de Belo Horizonte, local onde as torcidas tradicionalmente festejam seus clubes. Um show com o cantor Bell Marques animou a multidão até a chegada do caminhão do Corpo de Bombeiros com o elenco bicampeão. Avessos a populismo rasteiro e a egocentrismo desenfreado, o presidente do clube, Sergio Coelho, diretores e os tais 4 R’s (os mecenas do Galo), ao contrário do ‘onipresente’ Kalil, deram as caras no evento, mas deixaram as estrelas, Cuca e jogadores, brilharem ao lado da fanática legião atleticana.

Porém, a festa linda, legítima, justa e sem nenhum caso de violência grave desagradou a prefeitura e o prefeito, que alegaram não ter sido pedida a autorização prévia para o evento. No hipismo, um cavalo e o jóquei são chamados de ‘conjunto’, pois o conjunto Kalil e PBH resolveram botar água no chope dos alvinegros, em vez de se juntar à alegria da cidade.

A prefeitura tascou uma multa de pouco mais de 3 mil reais na crista do Galo – cada vez mais Forte e Vingador – por conta da alegada ausência de autorização necessária, mas o prefeito, um ex-presidente polêmico do Clube, que divide o amor e o ódio da torcida, apesar da conquista da Libertadores da América de 2013 e da Copa do Brasil de 2014, mas que deixou os cofres do Atlético em ruínas, além de parentes e amigos próximos no quadro de funcionários, não gostou nem um pouco do valor: ‘Multa de 3 mil é ridículo; era melhor nem ter multado’.

FAMÍLIA E ESTÁDIO

Kalil é um desafeto antigo e confesso de Ricardo Guimarães, um dos mecenas do Atlético, e também do atual presidente do Clube, Sergio Coelho. O Galo constrói atualmente sua arena, a Arena MRV (construtora de Rubens Menin, outro mecenas, ao lado do filho Rafael), que será a mais moderna da América Latina, um sonho antigo do torcedor alvinegro.

Dono de uma soberba e vaidade peculiares, Alexandre Kalil tem como ídolo o pai, Elias, já falecido e um dos grandes presidentes da Instituição, e não suporta a mais remota possibilidade – hoje, uma realidade sem volta – de ver o nome de sua família em segundo lugar na história do Galo, por causa dos novos protagonistas do Clube: Ricardo Guimarães, dono do banco BMG; Rubens e Rafael Menin, donos da construtora MRV; Renato Salvador e Sergio Coelho).

Tudo o que a prefeitura de Belo Horizonte podia ter feito para atrasar e encarecer as obras do futuro estádio do Galo, ela fez. Obviamente, dentro da lei. Inclusive, espetou quase 150 milhões de reais em obras e ajustes condicionantes, elevando brutalmente o valor final. Curioso é que o mesmo rigor jamais foi visto com, por exemplo, os empresários de ônibus da capital – Kalil e o sindicato que representa o setor são alvos de uma CPI na Câmara dos Vereadores de BH.

O Galo possui, seguramente, o hino mais apaixonado – e apaixonante! – do futebol nacional, mas tem o samba ‘Vou Festejar’, de Beth Carvalho, como seu segundo, digamos, mantra. A atitude, em tese, invejosa e mesquinha do prefeito, casa como uma luva com o coro da massa: ‘você pagou com traição, há quem sempre lhe deu a mão’. Prefeito: é hora de deixar a história prosseguir e o Galo ganhar novos ídolos.

Por isso, pare com infantilidade e ciúme besta e curta o momento mágico do Clube que o senhor tanto ama. Kalil, Menin, Coelho, Guimarães, enfim, sobrenomes jamais serão maiores ou mais importantes que o Clube Atlético Mineiro, ainda que isso soe dolorido e estranho aos ouvidos ‘cheios de vaidade’ (eita!!! Essa doeu, hein?) de Vossa Senhoria, Alexandre o Grande.