Inveja, rancor, ciúme? Kalil queria multa maior para Galo bicampeão

Coluna: Ricardo Kertzman

Ricardo Kertzman é blogueiro, colunista e contestador por natureza. Reza a lenda que, ao nascer, antes mesmo de chorar, reclamou do hospital, brigou com o obstetra e discutiu com a mãe. Seu temperamento impulsivo só não é maior que seu imenso bom coração.

Inveja, rancor, ciúme? Kalil queria multa maior para Galo bicampeão

Inveja, rancor, ciúme? Kalil queria multa maior para Galo bicampeão

Cinquenta anos não são cinquenta dias, e o atleticano da capital mineira soltou, na noite de quinta-feira (02), um grito entalado na garganta, como se espinha de peixe frito atravessada.

A catarse coletiva, que começou ao final do jogo de domingo passado, contra o Fluminense, no Mineirão, em que após outra de suas ‘viradas’ mágicas (o Galo é o time da virada… o Galo é o time do amor… lelelelele) os mineiros derrotaram os cariocas por 2×1, gols do super herói Hulk, atingiu o Olimpo durante a madrugada de sexta-feira, depois da confirmação do título antecipado de campeão brasileiro de 2021, na partida contra o Bahia, na Fonte Nova em Salvador: 3×2. Sim; de virada!

Mais de 100 mil pessoas passaram pela Praça 7, no centro de Belo Horizonte, local onde as torcidas tradicionalmente festejam seus clubes. Um show com o cantor Bell Marques animou a multidão até a chegada do caminhão do Corpo de Bombeiros com o elenco bicampeão. Avessos a populismo rasteiro e a egocentrismo desenfreado, o presidente do clube, Sergio Coelho, diretores e os tais 4 R’s (os mecenas do Galo), ao contrário do ‘onipresente’ Kalil, deram as caras no evento, mas deixaram as estrelas, Cuca e jogadores, brilharem ao lado da fanática legião atleticana.

Porém, a festa linda, legítima, justa e sem nenhum caso de violência grave desagradou a prefeitura e o prefeito, que alegaram não ter sido pedida a autorização prévia para o evento. No hipismo, um cavalo e o jóquei são chamados de ‘conjunto’, pois o conjunto Kalil e PBH resolveram botar água no chope dos alvinegros, em vez de se juntar à alegria da cidade.

A prefeitura tascou uma multa de pouco mais de 3 mil reais na crista do Galo – cada vez mais Forte e Vingador – por conta da alegada ausência de autorização necessária, mas o prefeito, um ex-presidente polêmico do Clube, que divide o amor e o ódio da torcida, apesar da conquista da Libertadores da América de 2013 e da Copa do Brasil de 2014, mas que deixou os cofres do Atlético em ruínas, além de parentes e amigos próximos no quadro de funcionários, não gostou nem um pouco do valor: ‘Multa de 3 mil é ridículo; era melhor nem ter multado’.

FAMÍLIA E ESTÁDIO

Kalil é um desafeto antigo e confesso de Ricardo Guimarães, um dos mecenas do Atlético, e também do atual presidente do Clube, Sergio Coelho. O Galo constrói atualmente sua arena, a Arena MRV (construtora de Rubens Menin, outro mecenas, ao lado do filho Rafael), que será a mais moderna da América Latina, um sonho antigo do torcedor alvinegro.

Dono de uma soberba e vaidade peculiares, Alexandre Kalil tem como ídolo o pai, Elias, já falecido e um dos grandes presidentes da Instituição, e não suporta a mais remota possibilidade – hoje, uma realidade sem volta – de ver o nome de sua família em segundo lugar na história do Galo, por causa dos novos protagonistas do Clube: Ricardo Guimarães, dono do banco BMG; Rubens e Rafael Menin, donos da construtora MRV; Renato Salvador e Sergio Coelho).

Tudo o que a prefeitura de Belo Horizonte podia ter feito para atrasar e encarecer as obras do futuro estádio do Galo, ela fez. Obviamente, dentro da lei. Inclusive, espetou quase 150 milhões de reais em obras e ajustes condicionantes, elevando brutalmente o valor final. Curioso é que o mesmo rigor jamais foi visto com, por exemplo, os empresários de ônibus da capital – Kalil e o sindicato que representa o setor são alvos de uma CPI na Câmara dos Vereadores de BH.

O Galo possui, seguramente, o hino mais apaixonado – e apaixonante! – do futebol nacional, mas tem o samba ‘Vou Festejar’, de Beth Carvalho, como seu segundo, digamos, mantra. A atitude, em tese, invejosa e mesquinha do prefeito, casa como uma luva com o coro da massa: ‘você pagou com traição, há quem sempre lhe deu a mão’. Prefeito: é hora de deixar a história prosseguir e o Galo ganhar novos ídolos.

Por isso, pare com infantilidade e ciúme besta e curta o momento mágico do Clube que o senhor tanto ama. Kalil, Menin, Coelho, Guimarães, enfim, sobrenomes jamais serão maiores ou mais importantes que o Clube Atlético Mineiro, ainda que isso soe dolorido e estranho aos ouvidos ‘cheios de vaidade’ (eita!!! Essa doeu, hein?) de Vossa Senhoria, Alexandre o Grande.