A música pop que vem da Coreia do Sul é um dos estilos musicais mais tocados do mundo. E, apesar de parecer coisa de adolescente, as bandas e artistas do chamado K-pop não estão para brincadeira. Para se ter uma ideia, a mais conhecida entre elas, o grupo BTS — e a empresa que o representa, a BigHit Entertainment — estão até listados na bolsa de valores do país. São legiões de fãs ao redor do mundo que consomem tudo o que eles fazem, seja usar um novo penteado, maquiagem, roupas e até mesmo um mero visual de aeroporto ganha a chance de tornar-se uma tendência.

Mesmo que você não os conheça, o impacto cultural da península coreana já é tão forte no ocidente que não é de admirar que músicos como G-Dragon, Kai, Jackson Wang e Lisa sejam apenas alguns dos rostos de marcas de moda de luxo internacionalmente conhecidas. De olho no mercado asiático, grifes tradicionais de alta costura, como as francesas Chanel, Louis Vuitton, Dior e Céline, apostam maciçamente em diversos artistas coreanos para atrair consumidores mais jovens e dispostos a gastar o que for para vestirem-se como seus ídolos. Isso acontece porque todos os vídeos e músicas do gênero são feitos para produzir o máximo impacto, seja nas roupas ultra coloridas, no uso sobreposto de objetos e na atitude dos fãs.

A consultora e especialista em mercado de Luxo, Malu Bertotti, diz que é cada vez mais comum ver marcas tradicionais se unindo ao conteúdo coreano. “As marcas têm buscado formas de se conectar com os novos consumidores e para isso buscam inserir elementos de valor percebido por essas novas gerações, criando um diálogo entre a tradição e o DNA da marca e a vanguarda”, explica. O abuso dos logos é o que primeiro salta aos olhos ao perceber como esses artistas se vestem. Porém, isso não impede que uma marca secular como a joalheria Cartier traga um tom sombrio para o movimento colorido e assim garanta um lugar nesse mercado. Quando não são os próprios modelos da passarela e das campanhas publicitárias, os artistas são contratados como embaixadores das marcas, ou seja, só podem ser vistos em público usando certas grifes.

Febre de consumo

Apesar da febre de consumo do pop coreano gerar uma grande rede de falsificações, os dados comerciais dessas marcas no ano da pandemia não foram um desastre graças ao consumo na Ásia. A francesa Louis Vuitton decidiu apostar pesado na região, inaugurando ou reformulando suas gigantescas lojas no Japão, Coréia do Sul e China. O gigante conglomerado de Luxo, LVMH, que controla, além da Louis Vuitton, Dior, Céline e tantas outras, fechou 2020 com um faturamento de U$ 5,4 bilhões. Segundo o comunicado da empresa, a reação aconteceu devido à “recuperação” americana e ao “forte “ crescimento asiático.

Ao contrário do vizinho autoritário, a Coreia do Sul provou ser um ponto consolidado de vendas de luxo ao longo de 2020 e agora em 2021. De acordo com um relatório da “Agility Research and Strategy” lançado em maio de 2020, mesmo durante o início da pandemia, em janeiro e fevereiro de 2020, as três principais lojas de departamento de Seul tiveram um superávit nas vendas, em relação ao mesmo período de 2019. Só a rede “Lottes” apresentou um crescimento de 16,5% em relação ao mesmo período do ano passado. Os desfiles de alta costura da última temporada europeia, mostraram que o estilo criativo e colorido, não é apenas um mercado de nicho e sim uma tendência global a ser copiada e reproduzida no varejo. Até quem nunca ouviu uma única música de K-Pop vai ser obrigado a reconhecer o poderio coreano na moda.