VENEZA, 17 NOV (ANSA) – As inundações que assolaram Veneza ao longo dos últimos dias expuseram o dilema da cidade em relação ao turismo de massa, que é um dos principais motores da economia local, mas fomenta um crescente incômodo nos moradores, especialmente em situações de crise.   

No último sábado (16), entre uma “acqua alta” e outra, turistas invadiram uma Praça San Marco ainda inundada e não perderam a oportunidade de tirar fotos com suas galochas no ponto mais visitado da cidade e de fazer fila nas passarelas montadas pelas autoridades municipais.   

Na sexta-feira (15), a água na Lagoa de Veneza subira 154 centímetros acima de seu nível médio; neste domingo (17), a cheia foi de 150 centímetros. Ambas as inundações alagaram 70% do centro histórico da capital do Vêneto, e a Prefeitura estima que os danos das enchentes da última semana cheguem a 1 bilhão de euros.   

“Precisávamos de uma trégua e gostaríamos de um pouco de respeito pelo que aconteceu. Ninguém respeita mais Veneza, não há mais educação, as pessoas se comportam pior que em suas casas”, disse Nicolò Sito, dono de uma loja em San Marco que vende objetos feitos com vidro de Murano.   

Já o veneziano Gianni Naia, que vive no distrito de Castello, o menos turístico e mais populoso da cidade, defendeu um limite à entrada de forasteiros. “É preciso estabelecer um número fechado, isso é evidente. Tem muita gente, pessoas que sujam, se enfiam em todo lugar, se espalham como ovelhas. Não dá mais para caminhar na cidade, temos de sair de noite. [Os turistas] Andam com os celulares nas mãos e sequer olham onde estão, apenas para dizer ‘estive em Veneza'”, acrescentou.   

Em diversas zonas do município, cidadãos trabalham para limpar o sal deixado pela água marinha e tentar limitar os danos.   

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Enquanto isso, as autoridades torcem para que a água pare de subir e permita que a cidade volte à normalidade.   

Medidas – Nos últimos anos, Veneza impôs uma série de medidas contra o turismo de massa, como multas pesadas para punir comportamentos impróprios. Mas a principal iniciativa está prevista para entrar em vigor em 1º de julho de 2020: uma taxa de até oito euros para turistas que não pernoitam no centro.   

A chegada em massa de viajantes e a proliferação de aluguéis de curto prazo – como os oferecidos no site Airbnb – fizeram explodir o preço de moradias e provocam o esvaziamento populacional do centro histórico. A regiao era lar de 174 mil pessoas em 1951, mas em 2018 eram apenas 53 mil moradores, queda de 70%.   

Nesse período, a população dos bairros em terra firme, que contam com preços mais acessíveis, saltou de 97 mil para 178 mil, crescimento de 83,5%. (ANSA)


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