Após a morte do petista Marcelo Arruda, que foi assassinado no último sábado (09) pelo bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho, em uma festa privada em Foz do Iguaçu, no Paraná, a IstoÉ Gente conversou com a neuropsicanalista da USP Priscila Gasparini Fernandes, que fez uma análise e explica sobre intolerância política que ocasionou a tragédia.

“O ser humano precisa evoluir emocionalmente, traz da infância pensamentos e crenças que ficam enraizados, e o que contrariar isto, gerará um conflito imenso, pois não consegue ampliar a visão de mundo com discernimento. São reações de desamparo, fragilidade, angústia frente ao que é diferente do que ele acredita, fazendo com que desqualifique, crie repulsa, inferiorize o outro, como se ele fosse sempre o certo, o dono da razão”, começou a psicóloga.

“Na psicanalise este sentimento primitivo de discriminação entre o ‘Eu” e o “Outro” é chamado de “Eu-prazer” e explica que o indivíduo se identifica com o que lhe satisfaz, e tudo o que ele não gosta, projeta no outro, onde ele se basta, é o correto, o bom, o inteligente, o que não é bom é do outro, e este outro deve ser excluído, pois é visto como ameaça a sua integridade”.

“Esta é uma defesa que fica guardada e é utilizada quando necessária, porém de uma maneira mais elaborada durante a vida, pelo sistema psíquico, com regras e conceitos que se adequem a sociedade, levando em conta as diferenças de crenças, sociais e políticas de cada um. Esta é uma pequena explicação sobre o desenvolvimento psíquico que sempre se dará de acordo com evolução e progresso individuais. Em alguns casos, indivíduos criam estigmas de poder, que limitam direitos criando desigualdade e desqualificação de grupos com ideais diferentes dos seus, o que gera conflitos, agressões e mortes”, concluiu Priscila Gasparini Fernandes.

Entenda o caso

Na noite do último sábado (09), o agente penitenciário Jorge José da Rocha Guaranho invadiu uma festa e matou a tiros o aniversariante, o guarda municipal Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu (PR). O evento celebrava os 50 anos de Arruda, que era filiado ao PT e fez uma comemoração temática com bandeiras e cores do partido e foto do ex-presidente e pré-candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva.

Por volta das 23h de ontem (9), Guaranho invadiu o local, acompanhado da mulher e do filho, e começou a xingar quem estava na festa e a gritar “aqui é Bolsonaro”, de acordo com testemunhas e com o boletim de ocorrência. De acordo com relatos, o aniversariante não conhecia o bolsonarista.