A Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao), embora privilegie a via diplomática, aprovou uma intervenção armada contra os militares que tomaram o poder em 26 de julho no Níger e ativaram a sua “força de reserva”.

Mas os especialistas duvidam da viabilidade de uma operação militar de alto risco e difícil de executar.

– Força de intervenção difícil de mobilizar –

A “força de reserva” é comandada pela Cedeao para missões relacionadas com a manutenção da paz, como já fez na Serra Leoa, Libéria, Guiné-Bissau e Gâmbia.

No entanto, a Cedeao “nunca chegou a um acordo sobre quais missões específicas deveria realizar”, explica Marc-André Boisvert, pesquisador sobre o Sahel no Centre FrancoPaix em Montreal.

Além disso, seu estabelecimento “depende da vontade dos países contribuintes”, o que “exige muitas negociações” entre eles.

Embora Senegal, Benin, Nigéria e Costa do Marfim estejam dispostos a enviar tropas para o Níger, eles enfrentam fortes críticas internas.

Há também “uma enorme desconfiança” entre os países da Cedeao, insiste Boisvert.

“Os Estados africanos têm muita inveja de sua soberania em geral e particularmente em assuntos de segurança e defesa”, afirma Elie Tenenbaum, pesquisador do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI).

Além disso, “é difícil liberar pessoal nesses exércitos, que são frágeis e carentes de recursos”, acredita.

– Equilíbrio de forças com vantagem para Niamey –

O exército nigerino tem cerca de 30.000 homens, dos quais 11.000 estão mobilizados em operações no terreno, segundo informações do presidente deposto Mohamed Bazoum em 2022.

Mali e Burkina Faso afirmaram que considerariam qualquer intervenção externa como uma “declaração de guerra” contra eles, embora suas tropas também estejam ocupadas em operações antijihadistas em seu próprio território.

Por enquanto, apenas um país da Cedeao, a Costa do Marfim, especificou quantos soldados estaria disposto a enviar: mil.

Mas uma intervenção exigiria a mobilização de “entre 3.000 e 4.000 soldados”, considera o general senegalês Mansour Seck.

– Operação militar de alto risco –

Segundo todos os especialistas consultados, uma operação militar no Níger seria de alto risco.

Por um lado, uma ofensiva terrestre obrigaria as forças da Cedeao a percorrer muitas centenas de quilômetros de território hostil até chegarem a Niamey, onde o presidente nigerino Bazoum está detido.

Uma operação aérea que envolvesse a tomada do estratégico aeroporto da capital seria igualmente complicada.

Os chefes do Estado-Maior da Cedeao “querem tomar o aeroporto de Niamey e bombardear o palácio presidencial, mas nós temos uma defesa antiaérea moderna capaz de derrubar seus aviões”, afirma Amadou Bounty Diallo, analista e ex-militar nigerino.

Para o general Seck, “a pista de pouso seria facilmente ocupada pelos golpistas, basta colocar milhares de jovens” sobre os quais os pilotos não vão atirar para libertá-la.

Os 700 homens que compõem a Guarda Presidencial, ponta de lança do golpe de Estado, manifestaram a sua união em 26 de julho, mas há dúvidas sobre como reagiriam caso ocorresse uma intervenção externa.

Para alguns, eles agiram de forma unânime “para evitar um banho de sangue (…), mas caso se materialize uma situação de guerra”, muitos se desmobilizariam, comenta um assessor do presidente Bazoum.

Para uma fonte de segurança nigerina, uma possível intervenção “iria uni-los”.

– Consequências imprevisíveis –

Ninguém pode prever as consequências de uma intervenção em Niamey, que poderia deixar vítimas civis.

Apoiadores do regime militar, que se manifestam regularmente na capital, dizem que viriam apoiar seu exército.

“Tudo isso para libertar um presidente que os golpistas já disseram que executariam no caso de uma operação da Cedeao”, lembra o analista Elie Tenenbaum.

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