Cantar Sueli Costa é para os fortes. Ela compõe com um equilíbrio preciso entre o que tem força para ser popular e o que preserva sua identidade sofisticada, firmada em uma inteligência harmônica imaculável. Sua música requer uma entrega imersiva de mergulhadores escafandristas, jamais de navegadores de superfície, e parece reclamar diante de uma interpretação ou um arranjo menos criterioso.

Wanderléa é forte. Ela tem uma marca inconfundível estampada no vibrato que faz obrigatório nos finais de frase, o mesmo que soaria exagero em outras vozes, mas sua força não está direcionada para a interpretação que sugere a canção de Sueli Costa. Apesar da vida banhada por acontecimentos trágicos, sua alma não se armou de lamentos e sua voz nunca chorou – blindagem que lhe garantiu o trono na expansiva Jovem Guarda, mas que a limita nas aventuras mais introspectivas de Sueli Costa.

Sua voz está grande em sua técnica intuitiva. Ela tem brilho, cria nuances, está leve e se diverte. Conta com os arranjos audaciosos de Agenor de Lorenzi e encara pedreiras de referências ingratas, como 20 Anos Blue, gravada por Elis. A superfície linear, no entanto, parece intransponível em Amor Amor, com arranjo que parece seguir o conceito de contenção emocional. Alma é feita sem a explosão que Simone usou para gravá-la em 1982. O disco é uma curiosidade de carreira, mas a verdade de Wanderléa não está aqui.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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