A Interpol revelou nesta quinta-feira (4) os detalhes da captura no Brasil de um repressor da última ditadura argentina, Gonzalo Sánchez, uma tarefa que exigiu vários meses de monitoramento, em meio à pandemia de coronavírus.

“Em janeiro de 2020, agentes da Polícia Federal brasileira chegaram à casa de Gonzalo Sánchez no município costeiro de Angra dos Reis, mas o ex-oficial da Prefeitura Naval (Guarda Costeira) argentina desapareceu novamente”, afirmou a Organização Internacional da Polícia Criminal, com sede em Lyon, em nota.

Em prisão domiciliar após uma primeira prisão em 2013, Sánchez, de 69 anos, foi procurado por Buenos Aires por crimes contra a humanidade. Recentemente, o Supremo Tribunal Federal autorizou sua extradição.

Em coordenação com seus braços no Brasil e na Argentina, a Interpol lançou, então, uma operação de busca na região de Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro.

“Um grupo de trabalho foi estabelecido com funcionários da Polícia Federal local e se iniciou uma investigação 24 horas por dia, 7 dias por semana”, detalhou a Interpol.

O grupo de trabalho começou com o que sabiam do fugitivo: que havia sido pai de um menino brasileiro e que pertencia a uma comunidade religiosa local.

A Interpol não antecipou a chegada da pandemia de coronavírus no Brasil, porém, o que “complicou os esforços de vigilância (…) dificultando o disfarce da presença da polícia”. Também impediu Sánchez de participar das reuniões de sua comunidade religiosa.

Um dia após o Dia das Mães (10 de maio), a Interpol recebeu informações, segundo as quais “um grupo de pessoas próximas a Sánchez, incluindo seu filho de 7 anos, estava viajando pela costa em direção ao interior de Taquari”.

Graças às informações fornecidas pelos habitantes locais, ele foi finalmente encontrado em uma casa nos arredores da cidade, com a família e amigos próximos.

“Ninguém demonstrou resistência, e Sánchez foi preso”, relatou a Interpol.

Gonzalo Sánchez já está na Argentina para ser processado por crimes de lesa-humanidade.

Segundo a Justiça deste país, ele foi membro dos comandos repressivos da ESMA, campo de tortura e extermínio liderado pela Marinha de Guerra, onde desapareceram cerca de 5.000 prisioneiros políticos do regime.

É acusado das mortes do escritor e jornalista Rodolfo Walsh e da adolescente sueca Dagmar Hagelin, sequestrados em 1977. Seus corpos nunca foram encontrados.