24/09/2016 - 11:36
Depois de nove meses de negociações, o Grupo NotreDame Intermédica (GNDI) fechou ontem a compra da Unimed ABC. Com a operação, que deve ser divulgada na segunda-feira e não teve valor revelado, a gestora de hospitais e planos de saúde se consolida como a terceira maior operadora no segmento médico-hospitalar do País.
Essa é a terceira aquisição feita pelo grupo desde 2014, quando o fundo americano Bain Capital pagou, segundo estimativas do mercado, cerca de R$ 2 bilhões pelo controle da NotreDame Intermédica. Desde então, a empresa subiu duas posições no ranking das maiores operadoras do País em número de beneficiários no segmento médico-hospitalar.
Segundo dados da Associação Nacional de Saúde (ANS), que ainda não consideram a aquisição, o ranking é liderado pela Amil, com 3,87 milhões de vidas, seguido por Bradesco (3,81 milhões), NotreDame Intermédica (1,958 milhão), Hapvida (1,943 milhão) e Sulamérica (1,75 milhão).
Com a aquisição da Unimed ABC, a NotreDame Intermédica incorpora 70 mil vidas, um hospital, cinco centros clínicos e duas unidades de atendimento 24 horas. Para ser concretizada, a operação deve passar pelo aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) e da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Segundo o presidente do Grupo NotreDame Intermédica, Irlau Machado Filho, a compra faz parte da estratégia de expansão do grupo que, apesar da crise e da contração do setor, espera fechar o ano com um crescimento de 9% na carteira de beneficiários. “Além das aquisições, estamos crescendo graças a uma combinação de gestão eficiente, controle de custos e preços de planos que chegam a ser 20% mais baratos do que a concorrência”, resume Machado Filho.
Com 12 hospitais próprios e atuação concentrada no Rio de Janeiro e em São Paulo, a empresa consegue atender 65% dos sinistros em rede própria, eliminando custos. Segundo Machado Filho, procedimentos dentro de casa chegam a ser 40% mais baratos do que os feitos em rede credenciada.
O desempenho da operadora – que fechou 2015 com faturamento de R$ 2,9 bilhões (crescimento de 18% em relação a 2014) e um aumento de 20% no número de beneficiários (saúde e odontológico) – destoa do cenário geral do mercado de planos de saúde. Pela primeira vez em dez anos, o setor registrou retração em 2015, reflexo da crise e do aumento do desemprego – os planos oferecidos por empresas respondem por dois terços do mercado. Com isso, quase 2 milhões de beneficiários deixaram os planos desde o início do ano passado.
Na avaliação de Paulo Furquim de Azevedo, coordenador do Centro de Estudos em Negócios do Insper, em função da atenção aos custos e dos preços mais competitivos, a empresa pode ter se beneficiado do movimento de ‘downgrade’ que o setor tem vivido.
Para Azevedo, além da crise em si, o setor sofre com um alto grau de ineficiência, o que faz com que empresas que eliminem algumas imperfeições, consigam se destacar. “Companhias que chegam com alta tecnologia de informação e de gestão estão conseguindo um espaço de transformação não só em planos, como em hospitais e laboratórios”, afirma, citando outro modelo em expansão: as clínicas populares de consulta médica, como Dr. Consulta.
Para Walter Cintra Ferreira Jr, professor da FGV e coordenador do curso de especialização em administração hospitalar e de sistemas de saúde, o movimento de consolidação do mercado tende a se fortalecer ainda mais. “Quem não tem escala e gestão não consegue mais se estabelecer nesse mercado.”