Entre os dias 21 e 27 de julho, São Paulo recebe um intercâmbio histórico: 49 estudantes indígenas do curso de enfermagem da Faculdade Indígena Intercultural (Faindi), da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), participarão de uma imersão em saúde nos renomados Hospital São Paulo e Hospital Sírio-Libanês, com apoio do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP).
Mais do que uma simples visita técnica, essa experiência representa um encontro único entre a tecnologia de ponta da medicina contemporânea e os saberes ancestrais dos povos indígenas. Os estudantes, que já aplicam práticas tradicionais de cuidado em suas aldeias, terão a oportunidade de conhecer de perto ferramentas tecnológicas e estruturas hospitalares de referência nacional, enriquecendo seus conhecimentos sem abrir mão de suas identidades e práticas originárias.
Formação de enfermagem indígena: um modelo Único na América Latina
O curso de Enfermagem da Faindi é um projeto pioneiro e único na América Latina, com uma proposta pedagógica inovadora. Ele forma enfermeiros indígenas capacitados para atuar tanto nas comunidades tradicionais quanto em qualquer unidade de saúde do país. “Trata-se de um projeto construído a partir das demandas das próprias etnias, que lutaram para garantir uma formação técnica de excelência, sem abrir mão de sua identidade cultural”, explica Ana Cláudia Trettel, coordenadora do curso.
A Unemat se destaca como pioneira na América Latina na oferta de cursos de graduação e pós-graduação voltados à qualificação de professores indígenas. Com mais de 20 anos de experiência em Educação Superior Indígena, a instituição já formou 450 professores de mais de 34 etnias e especializou outros 140, além de oferecer o mestrado profissional em Ensino em Contexto Indígena Intercultural. Atualmente, mais de 93% das etnias de Mato Grosso são beneficiadas por esses cursos.
Jornada transformadora e de aprendizado mútuo
Os 49 estudantes que chegam a São Paulo são de diversas etnias de Mato Grosso e enfrentam uma longa jornada de três dias de ônibus, partindo de Tangará da Serra (cerca de 1.780 km). Para muitos, esta será a primeira vez em uma grande metrópole como São Paulo. A expectativa é de um intercâmbio transformador, com aprendizados mútuos entre os futuros profissionais de enfermagem, as instituições e os profissionais de saúde envolvidos.
Sergio Cleto, presidente do Coren-SP, expressa o orgulho pela parceria: “Essa iniciativa é uma oportunidade única de unir saberes tradicionais e tecnologia avançada. Com simulações, palestras e visitas técnicas, o Coren-SP tem a honra de participar da formação desses profissionais, valorizando a diversidade cultural e promovendo um cuidado humanizado e científico.”
Este intercâmbio representa uma história de superação, um diálogo essencial entre diferentes mundos e uma forte afirmação da ciência e da cultura. É uma demonstração viva de um Brasil profundo, potente e diverso, que pulsa e se inova para além dos grandes centros urbanos.