Israel anunciou que atingiu, nesta segunda-feira (23), mais de 1.300 alvos do movimento islamista Hezbollah no sul e no leste do Líbano, em bombardeios que deixaram 492 mortos, incluindo 35 crianças, e 1.645 feridos, no dia mais mortal em quase um ano de confrontos na fronteira entre os dois países.

Anteriormente, o Exército israelense também anunciou um ataque em Beirute que, segundo uma fonte próxima ao Hezbollah, foi dirigido contra um comandante do movimento pró-iraniano no sul do país, Ali Karake, número três do grupo islamista. Contudo, segundo o grupo islamista, o comandante está “bem” e em um “lugar seguro”.

O Ministério da Saúde do Líbano informou que nos ataques morreram 492 pessoas, incluindo 35 crianças e 58 mulheres, enquanto outras 1.645 ficaram feridas. O ministro Firass Abiad disse que “milhares de famílias” foram deslocadas.

O Exército israelense afirmou que um “grande número” de membros do Hezbollah morreram durante o dia, sem mencionar números.

Em um vídeo, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, recomendou aos libaneses “se afastarem das zonas perigosas” enquanto o exército termina sua “operação” no sul do país e no Vale do Beca, no leste.

Já o premiê libanês, Najib Mikati, denunciou um “plano de destruição” contra seu país e apelou à ONU e aos “países influentes” para “dissuadir” o governo israelense desta “agressão”.

O Hezbollah, um poderoso ator político e militar no Líbano, abriu uma frente na fronteira com Israel há quase um ano, após o início da guerra na Faixa de Gaza, em apoio ao seu aliado islamista Hamas, que governa o pequeno território palestino.

– “Os bombardeios não param” –

“É uma catástrofe, um massacre”, disse à AFP Jamal Badran, médico do hospital do Socorro Popular em Nabatiye, uma cidade no sul do Líbano. “Os bombardeios não param, nos bombardearam enquanto transportávamos feridos”, contou.

Tomadas pelo pânico, milhares de famílias fugiram das zonas bombardeadas, explicou Abiad. A preocupação também se espalhou pela capital, Beirute, cujos habitantes e empresas receberam mensagens de alerta da administração israelense em seus celulares.

Fotógrafos da AFP observaram grandes engarrafamentos nos arredores de Sidon, uma grande cidade no sul do Líbano, devido às centenas de carros cheios de famílias que tentavam abandonar a área.

Em um comunicado divulgado mais cedo, o Exército israelense indicou que havia “atingido mais de 1.100 alvos no Líbano nas últimas 24 horas”, incluindo “edifícios, veículos e infraestruturas”.

“Apontamos principalmente contra as infraestruturas de combate”, declarou o chefe do Estado-Maior do Exército, Herzi Halevi, afirmando que suas tropas “se preparavam para as próximas fases” da operação.

Por sua vez, o Hezbollah afirmou que lançou “dezenas de foguetes” contra duas bases israelenses “em resposta aos ataques do inimigo israelense no sul e no [vale do] Beca’, após ter apontado contra outros três alvos israelenses pela manhã.

– Sirenes em Haifa –

As sirenes de alarme soaram no fim da tarde na cidade de Haifa, no norte de Israel, cujos habitantes correram para os abrigos antiaéreos. No domingo, alguns foguetes atingiram pela primeira vez as imediações dessa cidade.

“Não tenho medo por mim, mas pelos meus três filhos”, comentou Ofer Levy, um funcionário da alfândega de 56 anos, morador de Kiryat Motzkin, no norte de Israel. “Nenhum país pode viver assim”, acrescentou.

Os confrontos de artilharia entre o Hezbollah e o Exército israelense se multiplicaram desde a onda de explosões na semana passada de “pagers” e walkie-talkies utilizados por membros do Hezbollah, atribuídas a Israel, e que deixaram 39 mortos e quase 3 mil feridos em redutos do movimento islamista no Líbano, segundo as autoridades.

O Irã, aliado do Hezbollah, advertiu Israel nesta segunda-feira sobre “as consequências perigosas” que seus ataques no Líbano terão, enquanto o Hamas denunciou uma “agressão selvagem”.

– “Provocar o caos” –

Diante da escalada, os Estados Unidos, principal aliado de Israel, instaram os seus cidadãos a abandonarem o Líbano.

O presidente dos EUA, Joe Biden, reiterou nesta segunda-feira que está “trabalhando para conseguir uma desescalada”.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, está “muito preocupado com a escalada da situação e com o grande número de vítimas civis, incluindo mulheres e crianças” no Líbano, declarou seu porta-voz, Stéphane Dujarric, nesta segunda.

O Egito pediu nesta segunda-feira a intervenção do Conselho de Segurança da ONU, enquanto o Iraque solicitou uma reunião emergencial dos países árabes coincidindo com a Assembleia Geral das Nações Unidas. Já a Turquia acusou Israel de querer provocar o “caos” na região.

A guerra na Faixa de Gaza eclodiu em 7 de outubro de 2023, após o ataque do movimento palestino Hamas em Israel, no qual morreram 1.205 pessoas, segundo um relatório da AFP baseado em números oficiais israelenses.

Dos 251 sequestrados durante a incursão dos islamistas, 97 permanecem em cativeiro no estreito território palestino, incluindo 33 declarados mortos pelo Exército israelita.

A ofensiva israelense causou as mortes de pelo menos 41.455 palestinos, segundo dados do Ministério da Saúde deste território governado pelo Hamas, considerados confiáveis pela ONU, além de um desastre humanitário.

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