25/02/2022 - 9:30
Assistentes virtuais como Alexa, da Amazon, e Siri, da Apple, trouxeram a Inteligência Artificial (IA) para o cotidiano das pessoas, tirando essa tecnologia da esfera da ficção cientifica. Longe dos centros urbanos, no entanto, a IA ganha outras funções e se transforma em uma importante ferramenta para cientistas que trabalham com a análise de informações com foco na preservação ambiental. Na Austrália, a tecnologia vem ajudando a rastrear os coalas, pequenos mamíferos herbívoros que vivem em árvores; na África, com a ajuda de câmeras, captam e analisam o comportamento de animais selvagens, como chimpanzés e pangolins; no Brasil, a inteligência artificial evita que as baleias jubartes entrem na rota de colisão com o transporte marítimo de carga.
Em Abrolhos (BA), o maior santuário reprodutivo de baleias jubartes, o sistema começará a ser usado no segundo semestre de 2022. “Já está tudo pronto e testado. Estamos esperando apenas começar a temporada das baleias, quando elas migram da Antártica para o litoral brasileiro com o objetivo de se reproduzirem”, afirma Milton Marcondes, coordenador de pesquisa do Instituto Jubarte. Abrolhos recebe entre 16 mil e 20 mil animais, que chegam à costa nacional. Nessa rota, porém, também trafegam navios usados para o transporte de celulose. “As embarcações mais sofisticadas possuem transponders e radares que identificam baleias até no escuro. Muitas delas, porém, não têm esses recursos tecnológicos instalados”, explica Marcondes.
A preocupação com o trânsito marítimo já é antiga. Em 2005, o Instituto Baleia Jubarte montou um grupo para discutir soluções para o problema com a transportadora Norsul e a empresa de celulose Veracel. No início, os pesquisadores treinaram as tripulações para identificar as baleias à distância. Em uma segunda fase, os biólogos do instituto viajavam com as empresas para ajudar nos estudos de observação. Mesmo com toda essa integração, as viagens noturnas continuavam a oferecer riscos para as baleias. “A embarcação carrega oito mil toneladas de madeira e não tem freio. Mesmo depois que os motores são desligados, ela continua a deslizar no mar”, diz Tarciso Matos, coordenador de meio ambiente da Veracel. “Podemos ferir um mamífero desses e nem perceber.”
Iniciativa pioneira
No ano passado surgiu a ideia de usar uma câmera térmica acoplada a um software desenvolvido especialmente para a identificação das baleias. “É uma iniciativa pioneira no Brasil”, conta Marcondes. Com a inteligência artificial, os softwares conseguem analisar uma quantidade imensa de informações e, em um piscar de olhos, resolver problemas com o aprendizado direcionado e supervisado. O programa já foi abastecido com imagens de baleias, mas o sistema precisa de tempo e de mais informação para se aperfeiçoar. De qualquer forma, a barcaça já está com o equipamento acoplado no alto da cabine do comandante que faz soar um alarme, caso perceba a presença de baleias em um raio de 2 km.
As câmeras térmicas foram instaladas no Parque Nacional da Zâmbia em 2019, para supervisionar uma área de 19 km2. O programa passou a identificar a presença de barcos que entravam na região clandestinamente, facilitando a fiscalização. A tecnologia também identifica os recursos naturais disponíveis para alimentação dos animais. Imagens de satélites da NASA, agência espacial americana, permitiram que pesquisadores pudessem montar o Mapa dos Biomas, e descobrir, por exemplo, que o Brasil perdeu 15% da superfície de água nos últimos 30 anos. A condição piora ainda mais no Rio Negro (22%) e na região do Pantanal (74%), que abriga quatro mil espécies de plantas e animais. Falta agora implementar um sistema inteligente para reverter essa situação.
