Integrar apesar da incerteza, o desafio dos ucranianos no exílio

Integrar apesar da incerteza, o desafio dos ucranianos no exílio

Em sua vida antiga em Kherson, Tetiana Chepeliova era contadora. Em Berlim, está desempregada, como seus 16 compatriotas ucranianos com quem estuda alemão em um curso destinado a facilitar sua integração.

A mulher de 47 anos é uma dos mais de um milhão de ucranianos que chegaram à Alemanha desde o início da invasão russa em fevereiro, o maior número em um país da União Europeia (UE), depois da Polônia.

Com a chegada de sírios e afegãos que voltam a tomar a rota dos Bálcãs, a Alemanha enfrenta uma onda migratória que pode ultrapassar a de 2015, segundo as autoridades.

A situação de acolhimento “é tensa”, admitiu recentemente o Ministério do Interior alemão.

A principal dificuldade dessa população ucraniana exilada, principalmente mulheres e crianças, “é a grande incerteza”, disse à AFP Benjamin Beckmann, chefe dos cursos de integração do Departamento Federal de Migração e Refugiados.

Muitos se perguntam se retornarão ao seu país quando a guerra acabar, acrescentou.

No entanto, quase 160.000 se inscreveram em um curso de alemão, como Tetiana, que com seu filho de 12 anos fugiu de Kherson, a primeira grande cidade ucraniana a cair nas mãos dos russos em março.

– Muito motivados –

Em uma escola de idiomas em um subúrbio de Berlim, a mãe de rosto amigável aprende como falar em uma consulta médica.

O curso de três horas por dia, gratuito para ucranianos, é oferecido por nove meses.

“Eles estão muito motivados”, diz Petra Schulte, professora de Tetiana.

Mas sua participação também é marcada pela frustração: “eles trabalham há anos (…) e de repente seus títulos não são reconhecidos e eles não podem praticar”, lamenta a professora.

A ex-contadora de Kherson, que está separada do pai de seu filho, vê seu futuro na Alemanha: “é o melhor lugar para mim e o país é muito acolhedor para os ucranianos”.

Para o filho, “começar na escola foi muito difícil (…) Mas depois de um fim de semana prolongado com toda a turma, foi como se um muro tivesse caído, ele perdeu o medo de falar alemão”.

– Cidades lotadas –

Mas outras mulheres da turma planejam voltar para a Ucrânia, onde deixaram seus entes queridos.

Tetiana mora com uma amiga, enquanto muitos de seus compatriotas recebem ajuda do Estado alemão ou ficam em casas particulares. Os refugiados ucranianos também recebem benefícios sociais mínimos de 449 euros por mês e subsídios familiares.

Algumas cidades recentemente soaram o alarme. Depois da prefeita de Leipzig (leste), a prefeita de Berlim, Franziska Giffey, alertou que a capital estava chegando ao limite de sua capacidade de recepção.

Friedrich Merz, chefe dos democratas-cristãos de oposição – o partido de Angela Merkel, que abriu as portas aos refugiados em 2015 – acusou um “turismo social” dos ucranianos que vão à Alemanha para receber benefícios e depois retornam ao seu país.

Mais tarde, ele se desculpou pela expressão, mas destacou o desafio de receber um número tão grande de pessoas.

Na semana passada, um local para refugiados ucranianos foi incendiado no norte da Alemanha. A polícia suspeita que o incêndio tenha origem criminosa depois de encontrar uma suástica pintada na porta.