A nova secretária especial de Cultura, Regina Duarte, está em uma posição frágil. Mal assumiu e já vem levando pancadas de todos os lados. Pelo menos oito nomeações que ela queria fazer foram vetadas pelo presidente Jair Bolsonaro. De um modo geral, o que se vê até agora é Regina sendo desautorizada pelo presidente e ironizada pela ala mais ideológica do governo, que segue o astrólogo Olavo de Carvalho e é liderada por Carlos Bolsonaro. Se continuar assim, sua manutenção no cargo estará seriamente ameaçada. Bolsonaro já a orientou a não liberar verbas para projetos ligados a bandeiras de esquerda, em particular para os relacionados a temáticas LGBT e a diversidade. Carlos declarou que pretende tirá-la do governo. Ficou claro que não há nenhuma possibilidade de Regina formar uma equipe de maneira livre e autônoma. Cada um de seus passos estão sendo vigiados com atenção por um grupo especial que assessora o presidente e verifica a adequação de qualquer nome indicado a cargos de confiança, segundo as regras do novo regime, que veta esquerdistas e propagadores do marxismo cultural.

A primeira invertida de Regina veio com a rejeição ao nome do produtor teatral Humberto Braga, ex-presidente da Funarte, que ela queria como número 2 da Secretaria de Cultura. Depois surgiu o caso do jornalista Sérgio Camargo, que assumiu a direção da Fundação Palmares. Regina anunciou que iria tirá-lo do cargo, mas Bolsonaro a desautorizou. A outra bordoada veio do veto à nomeação da assistente social Maria do Carmo Brant de Carvalho para a Secretaria da Diversidade. O governo constatou que Maria do Carmo havia trabalhado para Dilma Rousseff e Bolsonaro, alertado por Carlos, suspendeu a nomeação. Nos três casos, Regina ficou rendida e se resignou.

No seu discurso de posse, a secretaria criou desconforto quando disse que recebeu carta branca do presidente, mas ouviu em troca que ele faria questão de exercer seu poder de veto. Em uma entrevista que deu para o programa Fantástico, da TV Globo, também se atrapalhou ao chamar de facção a ala ideológica do governo. Regina disse que há um grupo que quer ocupar seu lugar. “Quer que eu me demita, que eu me perca”, afirmou. “Já tem uma hashtag #ForaRegina e eu nem comecei”. Pelo uso do termo facção, a secretária foi criticada publicamente pelo ministro da Secretaria do Governo, Luiz Eduardo Ramos. Ele disse que o uso do termo “dá a entender que há divisões inexistentes e inaceitáveis em nosso governo”. “O presidente valoriza a Cultura, que deve se espelhar na família tradicional e nos princípios cristãos”, disse Ramos.

“Bom dia a todos, exceto a quem chama o negro que não se submente a seus amigos de esquerda” Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares (Crédito:Divulgação)

Facção bolsonarista

A secretária também foi criticada por Olavo de Carvalho, que a chamou de “véia” pelo Twitter. “A Regina Duarte age como se o seu emprego no governo lhe pertencesse por direito natural contestado apenas por ‘uma facção bolsonarista’, quando na verdade foi essa facção, representada pelo presidente, quem lhe deu o emprego”, afirmou. “A óbvia inversão psicótica da realidade mostra que a veia não está boa da cabeça e não deve ocupar cargo nenhum”. Sérgio Camargo, que foi nomeado pelo apologista do nazismo Roberto Alvim, também ironizou a primeira entrevista da secretária, que o chamou de “problema” e disse que ele é “um ativista, mais que um gestor público”. Camargo retrucou pelo Twitter. “Bom dia a todos, exceto a quem chama apoiadores de Bolsonaro de facção e o negro que não se submete aos seus amigos da esquerda de ‘problema que vai resolver’”, afirmou na segunda-feira 9. Na sua primeira semana no cargo, Regina enfrentou um ritmo de trabalho intenso. Na quarta-feira 11, ela se reuniu com deputados e senadores que não fazem parte do governo e foi aconselhada a defender a derrubada dos vetos feitos por Bolsonaro relacionados à continuidade até 2024 dos incentivos fiscais ao cinema. Regina teria se mostrado sensível à pauta. Mas dificilmente Bolsonaro vai aceitar a proposta, que tem tudo para se tornar um foco de confronto do governo com o Legislativo. Pelo andar da carruagem, Regina ficará, em breve, em uma situação insustentável no cargo ou fará uma gestão de fachada, de coadjuvante, de namoradinha do governo. A secretária perceberá logo que na posição estratégica em que se encontra só lhe restará receber ordens.