O procurador da República e coordenador da Operação Lava-Jato no Paraná, Deltan Dallagnol, foi o convidado da live de Istoé, na terça-feira (21). Em conversa com o diretor de redação da revista, Germano Oliveira, ele comentou sobre os entraves que o Congresso, o Supremo Tribunal Federal (STF) e outras instituições criam para investigar os casos de corrupção no Brasil.

De acordo com ele, a Operação Lava-Jato trouxe esperança na luta contra corrupção, mas considera difícil punir corruptos no Brasil sendo preciso mudar a legislação para garantir que os criminosos que cometam esse tipo de crime sejam presos.

“A Justiça tem a mão leve com os poderosos no Brasil. Várias instituições, como o Congresso e o Supremo, estão devendo no combate à corrupção. Espero que o Congresso tome uma postura mais firme contra a corrupção a favor da prisão em segunda instância, que é extremamente importante no combate à corrupção”, afirma.

No Ministério Público desde 2003, Dallagnol ganhou notoriedade por integrar e coordenar a força-tarefa em Curitiba, no Paraná, que investiga crimes de corrupção na Petrobras e em outras estatais. Deltan formou-se em direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e fez o mestre em direito em por Harvard (EUA).

Na live, ele disse sobre a mais recente crise entre a Operação e o STF, depois que o ministro Dias Toffoli proibiu o cumprimento de busca e apreensão de provas no gabinete de José Serra no Senado por “entender que poderia haver a apreensão de documentos e provas relacionados ao desempenho da atividade parlamentar”.

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Em oposição ao que justifica o presidente da Suprema Corte, Dalton argumenta na entrevista que em 2019 o ministro Celso de Mello avaliou que barrar buscas no Senado seria uma espécie de tentativa de criar um “círculo de imunidade virtualmente absoluta” ou um ‘santuário de proteção’ em torno dos gabinetes dos parlamentares e dos imóveis funcionais que ocupam e que essa “proteção” é incompatível com o princípio republicano, inconciliável com os valores ético-jurídicos.

“Foi uma decisão equivocada de Toffoli. Trata-se de um caso mais antigo e que não existe foro privilegiado”, avalia o procurador.

Para ele, a ação envolvendo o tucano José Serra “é fruto do sucesso do modelo de força-tarefa, implantado agora também na atuação eleitoral do Ministério Público de SP.

“Não faz menor sentido o Supremo barrar a investigação”, frisou.

Especialista em crimes contra o sistema financeiro nacional e lavagem de dinheiro, ele disse no bate-papo com Istoé que “a corrupção política nem sempre coloca dinheiro no bolso do político. A grande questão nem sempre é o destino do dinheiro, mas a origem”, avalia.

Segundo Dallagnol, a proposta de anistiar o caixa dois, discutida na Câmara dos Deputados, representaria também a anistia à corrupção e à lavagem de dinheiro.

O procurador disse ainda também o que ocorreu nos recentes conflitos entre os operadores das investigações no MP e a PGR (Procuradoria-geral da República).

Uma inspeção feita técnicos da PGR de Brasília teria encontrado gravadores de voz no local de trabalho dos procuradores da Operação. Após, surgiram boatos de que a força-tarefa do Paraná teria três aparelhos guardiões, dos quais dois teriam desaparecido. “É uma narrativa para prejudicar as forças-tarefas. Nós entendemos que o combate à corrupção precisa continuar”, disse.

Sobre os aparelhos, Dallagnol afirmou que são apenas gravadores de voz, comprados por licitação pública, no valor de R$ 15 mil e serve para gravar os ramais quando solicitado pelo dono, usualmente em casos de ameaças. Um guardião, por outro lado, pode ser usado para interceptar ligações, e custa mais de R$ 1 milhão. Para isso, ressaltou o procurador, é necessário, porém, que as empresas telefônicas desviem chamadas, o que é feito somente mediante ordem judicial.


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