Instinto maternal: especialista explica a decisão de Vera Holtz de não ter filhos

Ao falar sobre maternidade, a atriz de 71 anos abriu o coração ao revelar sua decisão de não ter filhos

Vera Holtz
Vera Holtz Foto: Reprodução

Ao participar do programa ‘Sem Censura’, comandado por Cissa Guimarães na TV Brasil, a atriz Vera Holtz, de 71 anos, falou sobre maternidade e explicou sua decisão de não querer ter filhos.

“Sempre, desde pequena, eu não queria ter filhos. Eu tinha 12 anos… A maternidade não é para mim. Eu não tenho o ‘sim’. Não faz parte da minha vida. Desde pequena, eu dizia: não existe instinto maternal. Isso é uma invenção social”, relatou Holtz.

Na ocasião, a veterana também lembrou das mulheres que não podem ter filhos em sua argumentação. “E vocês esquecem de quem não tem útero, de quem não pode ter filhos. Por que inventaram isso para a mulher? Por que rotular essa questão? Todo mundo quer colocar a gente numa caixinha, rotular, virar um produto… Eu nunca realmente acreditei nisso.”

“Eu acredito na maternagem, que cuida, que forma. E todos nós devemos ter muitas pessoas que a gente cuida”, completou.

Procurada pela IstoÉ Gente, Telma Abrahão, especialista em inteligência emocional e idealizadora da Educação Neuroconsciente, analisa o fato de a atriz Vera Holtz e outras pessoas não terem o desejo de ser mães. Leia na íntegra!

“A fala de Vera Holtz abre espaço para uma discussão importante e, ao mesmo tempo, delicada. Compreendo e respeito profundamente o fato de nem toda mulher desejar ser mãe — e que isso não a torna menos mulher, menos completa ou menos digna. Mas também acredito que existe, sim, algo dentro de nós que anseia por vínculos, por pertencimento, por continuidade. Um ‘sim’ interno que tem mais a ver com o desejo de formar uma família, de se conectar com outro ser, de cuidar e ser cuidada — e isso pode se manifestar de diferentes formas, não necessariamente pela maternidade biológica.

O que acontece é que esse instinto, muitas vezes, é silenciado ou distorcido pelas dores da infância. A relação com a própria mãe, a ausência de cuidado, a negligência emocional, o medo de repetir padrões ou de não saber como fazer diferente podem construir uma barreira interna tão forte que a mulher acredita genuinamente que não quer ser mãe. E isso pode ser verdade — mas também pode ser um mecanismo de proteção.

Eu mesma, por muito tempo, não quis ter filhos. E só depois de um profundo mergulho na minha própria história é que entendi que esse ‘não’ vinha das marcas da minha infância, do medo de repetir aquilo que vivi, da falta de referência de uma maternidade segura e acolhedora.

Por isso, quando escuto uma mulher dizendo que não quer ser mãe, o que me vem à mente não é julgamento, mas curiosidade e compaixão. O importante não é querer ou não querer — o importante é saber de onde vem essa decisão.

É uma escolha consciente, livre, baseada em quem ela é hoje? Ou é uma decisão inconsciente, moldada por traumas, defesas e experiências não elaboradas?

A Educação Neuroconsciente nos ensina que muitas das nossas escolhas são respostas automáticas ao que vivemos na infância. Quando não revisitamos essas experiências com honestidade e profundidade, corremos o risco de viver protegendo uma ferida que nem sabemos que está aberta.

Então, sim, toda escolha é válida — mas toda escolha merece consciência. Especialmente aquelas que dizem respeito a gerar, cuidar e amar.”

Referências Bibliográficas

Telma Abrahão – Neurocientista, especialista em desenvolvimento infantil e traumas de infância . Formada em Biomedicina há mais de 20 anos e pioneira em unir ciência à educação dos filhos, ensina os pais a educarem de maneira respeitosa e visando o bem estar da saúde emocional e física do futuro adulto. Autora dos best-sellers "Pais Que Evoluem" e "Educar é um ato de amor, mas também é ciência".