Depois de conquistar quatro títulos mundiais no skate vertical, o último deles em 2014, Karen Jonz parou a carreira para ser mãe. Ficou três anos longe das pistas cuidando da filha, Sky. O skate ficou encostado, fraldas e mamadeiras tomaram conta de sua casa. Hoje, a dona de duas medalhas nos X-Games está de volta. Com a menina a tiracolo, ela treina em busca de uma vaga nos Jogos de Tóquio na modalidade park. Aos 33 anos, a veterana une a responsabilidade de mãe e a retomada da carreira como skatista.

Obviamente, a frase “ela treina com a menina a tiracolo” é forçada. A Sky não desgruda da mãe, mas consegue ficar ao lado, só olhando, esperando sua vez. Para ela, é uma brincadeira divertida, o amor da mãe sobre as rodas. Para Karen, é o retorno a um ofício de quase 20 anos. Para facilitar essa parceria, a skatista construiu sua própria pista em sua casa, na zona oeste de São Paulo.

A vida de mãe esbarra na vida de atleta, não tem jeito. O ponto mais difícil são as competições mais longas. “Ela tem o sono leve. Às vezes tenho de acordar à noite e, pronto, já fico cansada para o dia da competição”, conta a skatista. “Nas primeiras competições, eu não queria passar para a final para não ficar muito tempo longe dela”, diz. “Mas é ótimo ser mãe e skatista”, sorri a veterana.

A maternidade também influenciou sua relação com as rodinhas. “Fiquei desesperada quando caí, machuquei o cotovelo e não consegui pegá-la no colo”, diz Karen. “Hoje, tento ser mais assertiva e mais determinada nas manobras. Sou mais cuidadosa.”

O socorro – para os tombos e a falta de tempo – vem sempre do marido de Karen, o músico Lucas Silveira, da banda Fresno, que cuida da menina enquanto a mãe compete e treina. Os treinos são controlados no relógio, três vezes por semana, três horas por dia.

Karen e Lucas formam um casal famoso. Além de mãe e skatista, ela é youtuber, empresária e artista. Na porta de sua casa, estão os tênis com sua própria marca. Na parede da sala, um quadro pintado por ela própria. No estúdio, ela toca um projeto musical com o marido, dono do sucesso Maior que as muralhas.

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Recomeço. Nesse retorno, Karen está reaprendendo, pois são grandes as diferenças entre o skate vertical – a modalidade na qual ela foi várias vezes campeã nas pistas em formato de “U”- e o park, que vai estrear em Tóquio propondo uma mistura de obstáculos, como piscinas, rampas e caixotes. Para disputar a Olimpíada, Karen precisa ficar entre as três melhores no ranking brasileiro. Em 2018, ela foi a quinta melhor. “A idade não atrapalha. Comecei tarde e sempre disputei com as mais novas. Estou bem fisicamente.”

Karen viu o skate mudar ao longo de sua carreira e também deu um empurrãozinho nessa evolução. Foi a primeira brasileira campeã mundial, em um período com pouquíssimas mulheres. Por causa disso, conta, não existiam banheiros femininos. Ela não podia usar top, roupa que hoje é comum. Karen inspira as mais novas como skatista e como mulher. Foi uma das fundadoras da Associação Brasileira do Skate Feminino, batalha pela igualdade das premiações. Articulada e extrovertida, a skatista representa as mais novas, mas não deixa de usar gírias como “tipo” e “cabulosa”.


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