Insetos invasores ameaçam ecossistemas da Europa

"CampanhasEspécies como o mosquito-tigre e a vespa asiática se tornam cada vez mais comuns em todo o continente, com consequências devastadoras para a saúde humana, a agricultura e o meio ambiente.À medida que os invernos se tornam mais amenos devido às mudanças climáticas, insetos normalmente encontrados apenas nos trópicos começam a se sentir mais à vontade em toda a Europa. A velocidade das viagens e do comércio global está facilitando mais do que nunca o trânsito deles, em madeira importada, vasos de plantas ou simplesmente como clandestinos.

Mas esses recém-chegados exóticos estão longe de ser bem-vindos. Especialistas da Agência Europeia do Meio Ambiente (AEA) afirmam que espécies exóticas invasoras, incluindo insetos, formam uma "grande ameaça às plantas e animais nativos da Europa e são uma das cinco principais causas da perda de biodiversidade".

Embora pequenas, essas pragas competem por recursos com as espécies nativas e desestabilizam ecossistemas frágeis que já lidam com poluição, superexploração e os efeitos de um planeta em aquecimento. Elas também representam um problema sério para os humanos, ao disseminar doenças e destruir plantações, gerando prejuízos à União Europeia (UE) de cerca de 12 bilhões de euros (R$ 76 bilhões) por ano em de recuperação e erradicação.

Abaixo, apenas alguns dos insetos invasores que ameaçam atualmente a Europa.

Mosquito-tigre-asiático (Aedes albopictus)

O mosquito-tigre, assim chamado por suas listras brancas características, é nativo das florestas tropicais e subtropicais do Sudeste Asiático. Ele foi avistado pela primeira vez na Albânia em 1979, chegou à Itália e à França na década de 1990.

Agora está bem estabelecido nos Bálcãs, sul da Ucrânia, sudoeste da Rússia e em grande parte da região do Mediterrâneo. Devido a seus ovos resistentes e à tolerância adquirida a climas mais frios, ele também foi avistado nos últimos anos na Bélgica, Alemanha e até na Suécia.

O mosquito-tigre-asiático prospera em ambientes urbanos, reproduzindo-se em água parada em locais como vasos de flores ou sarjetas. Essa adaptabilidade – aliada à tendência de ser ativo durante o dia – tornou os humanos um alvo fácil para o inseto que pode se alimentar de sangue várias vezes ao dia. Além de causar coceira, suas picadas podem transmitir doenças contagiosas, como dengue, chikungunya e o vírus Zika.

Vespa asiática (Vespa velutina nigrithorax)

Originária do leste da Ásia, a vespa asiática chegou à França em 2004, e desde então se espalhou para mais de uma dúzia de países europeus, incluindo Espanha, Portugal, Bélgica, Itália, Alemanha e Reino Unido.

Também conhecida como vespa-de-patas-amarelas, é ligeiramente menor que a variedade nativa europeia, tem uma coloração geral mais escura e é ativa durante o dia. Não deve ser confundida com a vespa-asiática-gigante, também conhecida como "vespa assassina" por sua picada perigosa.

Embora a picada da vespa asiática possa ser bastante dolorosa para os humanos, o risco maior é para a segurança alimentar e a biodiversidade, de acordo com a organização ambiental agrícola sem fins lucrativos CABI.

A espécie se alimenta de centenas de polinizadores cruciais, como zangões, borboletas e moscas. Mas seu principal alvo é a abelha europeia, que poliniza mais de 80% das plantações e plantas selvagens da Europa. Um estudo publicado na revista Science of the Total Environment em março de 2025 revelou que a vespa asiática pode matar até 50 abelhas por dia.

Ela é uma das 88 espécies na lista da UE de "espécies exóticas invasoras preocupantes", cuja disseminação os Estados-membros devem impedir, e erradicar sempre que possível.

Formigas das Américas (Solenopsis geminata, Solenopsis invicta, Solenopsis richteri, Wasmannia auropunctata)

Também na lista dos mais procurados da UE estão quatro espécies de formigas estrangeiras: a formiga-de-fogo-tropical, a formiga-de-fogo-vermelha, a formiga-de-fogo-preta e a formiga-de-fogo-pequena.

Essas minúsculas invasoras foram introduzidas acidentalmente da América Central e do Sul, com a formiga-de-fogo-tropical aparecendo pela primeira vez na Europa já na década de 1860.

Dotada de picada dolorosa, que pode causar uma reação alérgica em humanos, essas espécies desalojam rapidamente outras populações de formigas nativas, perturbando ecossistemas e agricultura com hábitos alimentares agressivos.

Um estudo de 2023 do Instituto de Biologia Evolutiva de Barcelona revelou que 7% do continente europeu seria um habitat adequado para a formiga, sendo provável que essa proporção aumente devido às mudanças climáticas. Metade das cidades da Europa já estavam vulneráveis à invasão. Isso é uma má notícia também porque os insetos podem danificar equipamentos elétricos ao roer a fiação e causar curtos-circuitos.

Percevejo-marmorado-marrom (Halyomorpha halys)

Extremamente invasivo e proveniente da Ásia, o percevejo-marmorado-marrom está atualmente disseminada na França, Itália e Suíça, mas também presente na maior parte do continente. Ele é especialmente atraído por frutas, nozes e videiras, mas também se alimenta de verduras e de grãos cultivados como a soja. Na Itália, causou danos de cerca de 588 milhões de euros às plantações de frutas, somente em 2019.

Os agricultores tradicionalmente o ataca com inseticidas, mas pesquisadores também estão consideram um método mais ecológico: confrontar o percevejo asiático contra seu inimigo natural.

A vespa-samurai (Trissolcus japonicus), outra introdução acidental da Ásia, é um parasita que deposita seus ovos dentro daqueles do percevejo-marmorado. As larvas se alimentam dos "ovos hóspedes", matando-os.

Alguns pesquisadores alertaram que depender de outro inseto alienígena para lidar com o problema pode acabar causando novas perturbações ecológicas. Contudo, um estudo de 2023 liderado pelo CABI concluiu que a vespa tem aparentemente pouco impacto sobre a maioria das populações de insetos nativos.

Besouro-asiático-de-chifres-longos (Anoplophora glabripennis)

Listado entre as 100 piores espécies exóticas invasoras pela União Internacional para a Conservação da Natureza, o besouro-asiático-de-chifres-longos representa uma grande ameaça para árvores e arbustos caducifólios.

Os adultos se alimentam de folhas, caules e galhos, enquanto as larvas se enterram no tronco, matando o vegetal ao longo de alguns anos. As árvores urbanas, que ajudam a refrescar as cidades, são especialmente vulneráveis devido à sua proximidade com os portos. No leste dos Estados Unidos, onde o inseto chegou na década de 1990, até 35% das árvores das cidades estão ameaçadas.

Os besouros-asiáticos-de-chifres-longos insetos costumam ser introduzidos em embalagens de madeira, tendo sido encontrados na França, Alemanha, Itália, Suíça e Polônia. No entanto suas populações ainda não estão amplamente estabelecidas e algumas campanhas de erradicação tiveram sucesso.

Aprender a conviver com espécies invasoras

"Insetos exóticos invasores muitas vezes parecem mais difíceis de controlar do que plantas invasoras ou animais maiores. Eles são pequenos, móveis, reproduzem-se rapidamente, têm ciclos de vida curtos e muitas vezes passam despercebidos até que o estrago esteja feito", analisa a AEA.

Embora seja quase impossível erradicar completamente uma espécie invasora de inseto, os danos podem ser mitigados. As vespas asiáticas foram contidas em algumas áreas com a utilização de armadilhas especiais e a remoção de seus ninhos. Na Itália, pesquisadores recentemente usaram drones e inteligência artificial para detectar e monitorar percevejos.

Outros métodos envolvem deter o inseto na fonte, por exemplo, tratando embalagens de madeira com calor antes do transporte, para matar o besouro-asiático-de-chifres-longos. Em alguns casos, basta eliminar qualquer água parada na varanda ou quintal para impedir a propagação dos mosquitos.

Contudo especialistas enfatizaram que os insetos não são necessariamente piores do que outras plantas e animais invasores, observando que "cada grupo – e cada caso de invasão – apresenta suas próprias complexidades biológicas e ecológicas".