Insensidade e criatividade: entenda o estilo ‘Zizou’ do Real

Depois de nove meses de gestação, o Real Madrid versão Zidane enfim nasceu: valorização da posse de bola, como Ancelotti, nada de retranca ‘à la Mourinho’ e liberdade total aos jogadores, longe do tom professoral de Benítez.

Reverenciado pela torcida pela magia com bola no pé, ‘Zizou’ está conseguindo impor sua marca como treinador e já foi premiado com o título da Liga dos Campeões.

. Sempre para frente

Quando assumiu o cargo em janeiro, no lugar de Benítez, o ex-craque francês já deu uma ideia da nova cara que pretendia dar ao time ‘merengue’.

“Meu conceito é tentar jogar o tempo todo, aconteça o que aconteça, desde atrás, com saída de bola rápida, jogando no campo adversário e mantendo a posse de bola”, resumiu o treinador.

Nove meses depois, consolidado pelo título europeu, o Real de ‘Zizou’ apresenta um futebol vistoso, longe da retranca e do jogo 100% vertical da era Mourinho (2010-2013).

Como era de se esperar, o francês se espelha muito mais na proposta de jogo do italiano Carlo Ancelotti (2013-2015), do qual foi auxiliar na campanha de ‘La Decima’, o décimo título do clube na Champions, em 2014.

O Real de Zidane também tem outras armas, como a transição rápida ou a bola parada.

Nas primeiras sete rodadas da Liga Espanhola, os ‘merengues’ tiveram em média 53% de posse de bola e ficaram em terceiro lugar do ranking dos times que trocam mais passes, atrás do Barcelona e do Sevilla.

“A ideia é jogar sempre para frente, defender avançando e tentar impor nosso ritmo, usando os lados, mas também a profundidade”, analisou nesta segunda-feira o zagueiro francês Raphaël Varane.

“Temos que aproveitar nossas qualidades técnicas. Nossa equipe é ofensiva, com jogadores que se projetam rápido para frente”, acrescentou.

Ao contrário de Benítez, Zidane não é obcecado pela tática. “Não inventei o futebol, só quero contribuir com minha experiência”, admitiu o francês.

. Intensidade constante

O Real tem talento de sobra, mas, para ser efetivo, precisa mostrar também sua força física.

‘Zizou’ tirou muitas lições dos seus tempos de jogador na Juventus, antes da chegada à Espanha, e vem cobrando sempre mais intensidade, principalmente depois da série de quatro empates seguidos nas últimas semanas.

No sábado, o francês foi ouvido: Cristiano Ronaldo e companhia não deixaram o Betis respirar e acabaram com a ‘empatite’ com goleada de 6-1 fora de casa.

Os jogadores ofensivos mostraram todo seu talento e não deixaram de ajudar na marcação.

“Quando colocamos a intensidade necessária no nosso jogo, complicamos muito a tarefa do adversário. Trabalhamos para isso, para manter essa intensidade constante. Esse jogo pode ser usado como referência”, comentou Zidane depois da vitória sobre o Betis.

Nesta terça-feira, na Liga dos Campeões os ‘merengues’ não podem se dar ao luxo de entrar de salto alto contra o Legia Varsóvia.

“Muita gente acha que tem uma enorme diferença. Certamente é o caso, mas temos que mostrar isso em campo. Não existe jogo fácil”, alertou o francês.

Para manter o grupo motivado e em plenas condições físicas, ‘Zizou’ é adepto do rodízio, o que pode gerar algumas desavenças, como a cara de poucos amigos de Cristiano Ronaldo quando foi substituído contra o Las Palmas (2-2), no fim do mês passado.

. Liberdade como lema

Apesar desse problema pontual com CR7, Zidane continua considerando a escalação do trio ofensivo ‘BBC’ (Bale-Benzema-Cristiano) “inegociável” no seu esquema em 4-3-3.

O ex-craque dá liberdade total aos astros, desde que a equipe seja equilibrada, como um bloco muito compacto atrás deles.

Foi assim que o brasileiro Casemiro ganhou mais espaço no time. Com seu trabalho defensivo incansável, o volante também ajudou os meias Modric e Kroos a participar mais da criação das jogadas. Lesionado, o jogador revelado no São Paulo vem fazendo muita falta.

Enquanto o Barça de Luis Enrique aposta mais na qualidade do seu toque de bola para deixar o trio ‘MSN’ (Messi, Suárez e Neymar) em condições de finalizar, o Real de ‘Zizou’ depende mais das inspirações individuais dos seus craques.

Mesmo assim, o time mostrou no sábado que é capaz de obras-primas coletivas, como o golaço em contra-ataque contra o Betis, com o zagueiro Pepe se projetando lá na frente para dar o último passe, na conclusão de uma jogadaça com toques de primeira.

O mais importante é que o elenco de estrelas do clube comprou a ideia: Benítez era criticado por ser muito diretivo, mas Zidane é elogiado pela sua capacidade de diálogo.

“Zizou é muito tranquilo, profissional e trabalhador. E ele sabe ouvir os outros, é uma grande vantagem”, resumiu CR7, maior artilheiro da história da Liga dos Campeões, com 96 gols marcados, que espera passar a barreira dos cem no duplo confronto com o Legia.

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