A Fórmula E é a única categoria do automobilismo mundial que mais mostra preocupação com avanços tecnológicos e sustentabilidade. Prova disso é a mobilização que promove por onde passa. Mas, se engana que a modalidade é ‘apenas’ de carros elétricos. Se trata de futuro e de proporcionar aos fãs uma nova experiência aliada a iniciativas de sustentabilidade.

A reportagem falou com exclusividade com Jamie Reigle, CEO da Fórmula E. Ele conta que a categoria vai além de apenas substituir os já tradicionais combustíveis no automobilismo. “Nós somos distintos por algumas razões. Uma é que os carros são elétricos. Isso é o mais importante”, disse.

“Em segundo, nós corremos em cidades, e tentamos as cidades mais icônicas ao redor do mundo e cá estamos na Cidade do México. Nós tentamos ir para áreas abertas onde os fãs podem ter uma experiência muito íntima”, acrescentou. “nós também estamos na linha de frente da inovação. Nós nos preocupamos com o futuro. Nós temos uma ideia de para onde o mundo está indo e o lugar da eletricidade nisto tudo, como inovadora da indústria. E o poder do esporte em poder inspirar pessoas.”

A Fórmula E ainda é muito nova, está apenas em sua 8ª temporada. Muitos desafios ainda estão por surgir. Jamie conta, por exemplo, que um dos obstáculos é “quebrar” a tradição de que esportes a motor têm de ter o cheiro e o barulho dos carros movidos a combustível. “Estamos fazendo uma manifestação diferente disso. Os carros são quietos, você não sente o cheiro de combustível porque não há nenhum. E isso é um pouco da beleza disso”, avaliou.

“Eu tenho dois meninos, de 6 e 9 anos, que quando ouvem o carro falam que parece um veículo de Star Wars. Eles não associam carros a barulhos altos, ou cheiro. Eles pensam “esse é o som do futuro”. Para mim, este é o objetivo”, disse Jamie.

O dirigente lembra que a Fórmula E é sim uma entidade que se preocupa com o futuro do planeta, mas que também tem a função esportiva enraizada. “Temos que ter coisas que as pessoas relacionem a esportes. Você assiste esporte porque quer entretenimento, você quer ver coisas que desafiem as expectativas, como atletas talentosos. No caso dos esportes a motor, é o piloto combinado, com o motor, combinado com os engenheiros. Tudo isso vindo junto.”

Ele fala que a ideia é superar a expectativa das pessoas. Em Mônaco, no último ano, Jamie conta que ouviu muitas comparações com a Fórmula 1, que a modalidade elétrica deixaria muito a desejar neste quesito. Mas conta que, mesmo mais lenta, a corrida foi bem mais emocionante, com seis trocas de liderança e um pódio que só foi decidido na última volta.

“Não é uma crítica. Tudo que estou dizendo é que fomos ao mesmo percurso e mostramos uma versão diferente de corrida. E é sobre isso. Não é sobre ser uma réplica do que as pessoas já sabem. É oferecer uma nova experiência”, acrescentou.

DESAFIOS DA PANDEMIA – Assim como todos os esportes, o automobilismo sofreu bastante com a pandemia de covid-19. A Fórmula E, então, talvez seja a mais prejudicada. O motivo: a categoria usa dos grandes centros urbanos para acontecer. O momento coincide com as novas inovações tecnológicas envolvendo energia limpa. O desafio agora é conseguir atrair novamente o público para as arquibancadas e se adaptar à nova realidade imposta pelos avanços no uso da energia elétrica.

O calendário, obviamente, também foi afetado. A FE não poderá fazer um campeonato em dois anos diferentes. Terá, mais uma vez, de realizar todas suas corridas em um único ano. Ter um campeonato completo, que afeta ruas e avenidas, é quase que um sonho a ser alcançado. A distância entre as etapas do México e da Itália, por exemplo, é de dois meses.

“É engraçado, porque essa corrida, em 2020, foi a última que tivemos antes de se falar em covid. Claro, já sabíamos de alguns casos e pessoas falavam a respeito, mas ainda não era uma coisa “real”. Ninguém podia antecipar”, disse Jamie.

“Todos nós tentamos nos adaptar e entregar nosso produto de corrida assim como outros esportes, como futebol e basquete. Temos de ser respeitosos com a comunidade local, seguir os protocolos de testagem e uso de máscara… Agora é sobre tentar trazer os fãs de volta ao grid dentro da normalidade. Acho que ainda vamos passar por isso por um tempo” concluiu.

Quanto à corrida deste sábado, Jamie foi mais cauteloso. Para ele, ainda é cedo para fazer previsões. “É como no futebol. Achamos que a equipe que ganhar as primeiras partidas vai ser a campeã. Nós extrapolamos um ano todo com base num fragmento muito pequeno.”

“A graça está aí, no grau de imprevisibilidade, com muitas equipes lutando por pontos e lutando por títulos”, concluiu.

Neste sábado, a terceira corrida da temporada é realizada no autódromo Hermanos Rodríguez, na Cidade do México, às 18h45 (horário de Brasília). Mas, os fãs de automobilismo podem acompanhar os preparativos e os treinos classificatórios a partir das 14h30. No Brasil, o terceiro evento do calendário da competição terá transmissão pela TV Cultura.

Após a corrida deste sábado, no México, a próxima etapa será dupla, na Itália. A cidade de Roma recebe a Fórmula E nos dias 9 e 10 de abril. As duas primeiras corridas foram realizadas na Arábia Saudita, nos dias 28 e 29 de janeiro.