Da esq. para dir.: João Fernando Gomes de Oliveira: Conselheiro da Embrapii, Paulo Mól: superintendente nacional do Instituto Euvaldo Lodi, Ana Cristina Costa: chefe do departamento de bens de capital, Mobilidade e defesa do BNDES, Luís Artur Nogueira: editor de economia da IstoÉ Dinheiro, Rafael Lucchesi: diretor geral do Senai, Constantino Seixas Filho: Managing Director e líder da prática indústria X.0 da Accenture para latam e Geovana Pagel: Editora do site da IstoÉ Dinheiro.

O termo foi cunhado, inicialmente, na Alemanha, em 2010. Hoje, o conceito de Indústria 4.0 permeia o desenvolvimento da chamada quarta revolução industrial. Trata-se de uma série de tecnologias que, em conjunto, vão transformar a manufatura e os modelos de negócios, não somente da indústria, mas também do setor de serviços. “O que há de novo é a convergência de diversas tecnologias, que habilitam várias mudanças”, afirma Ana Cristina Costa, chefe do departamento de bens de capital, mobilidade e defesa do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES). Como resultado, chega-se a um cenário de transformação estrutural do chão de fábrica, com consequências na economia, no emprego e, principalmente, na relação entre fabricantes e clientes. “Estados Unidos, Japão, Alemanha, China e Coreia do Sul são os líderes desse processo. O traço comum entre eles é que essa agenda não está subordinada à agenda macroeconômica”, afirma Rafael Lucchesi, diretor geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). A Indústria 4.0 faz parte de uma política nacional abrangente de fomento à atividade manufatureira. E é assim que os países desenvolvidos estão enfrentando esse momento de rupturas.

O Brasil tem um duplo desafio: sem ter resolvido, ainda, a agenda do século 20, deve se preparar para a agenda do século 21. Mas ainda há tempo para alcançar o passo nessa revolução industrial

No Brasil, a discussão, infelizmente, ainda está nos estágios iniciais. “O País tem um duplo desafio”, diz Paulo Mól, superintendente nacional do Instituto Euvaldo Lodi, entidade de fomento à inovação ligada à Confederação Nacional da Indústria (CNI). “Não resolvemos, ainda, a agenda do século 20 e já estamos diante da agenda do século 21”. A carência de competitividade é latente na indústria brasileira. Falta um plano que abranja vários atores trabalhando em conjunto, incluindo governo, iniciativa privada, sociedade e terceiro setor. Porém, ainda que o cenário seja temerário, dá tempo de correr atrás e alcançar o pelotão de frente nessa maratona em direção ao futuro. “A base de tudo está na educação. Temos de olhar para o ensino fundamental e preparar os brasileiros para essa nova realidade”, diz Constantino Seixas Filho, managing director e líder da prática Indústria X.0 da Accenture para América Latina.

Fotos: Cláudio Gatti

Essas foram as principais conclusões do debate “Inovação, o desafio da indústria”, realizado na terça-feira 7, pela revista DINHEIRO, em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), em São Paulo. O encontro foi transmitido ao vivo pela internet, a partir da página da DINHEIRO no Facebook (confira a íntegra do debate no site da revista). Os especialistas argumentaram em favor da criação de uma política nacional de desenvolvimento industrial que seja capaz de criar as condições para que o País acompanhe o dinamismo da indústria global. “Inovação é a capacidade de transformar conhecimento em negócios”, afirma Fernando Gomes de Oliveira, conselheiro da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), entidade que busca aumentar a competitividade brasileira por meio do desenvolvimento tecnológico. “E a forma correta de se fazer isso é, antes de tudo, detectar as necessidades e os problemas industriais a serem resolvidos.”

A compreensão do que significa inovação é o ponto de partida dessa discussão. “Inovar significa ganhar dinheiro com conhecimento”, afirma Luchesi, do Senai. “É o principal fator de competitividade.” Ele ressalta, no entanto, que o Brasil vem ficando para trás, em comparação a países desenvolvidos. “Nosso melhor desempenho aconteceu entre os anos 1930 e 1980. Tivemos índices de industrialização melhores do que os do Japão, isso graças a uma política bem definida”, afirma Lucchesi. “Nas últimas décadas, capotamos.” O resultado dessa derrocada é que o País acabou perdendo o passo em outras corridas desenvolvimentistas, como a da indústria eletrônica, nos anos 1970 e 1980, e a do software, nos anos 1990 e 2000. No momento em que o mundo se encontra em mais um ponto de inflexão, no qual os líderes da quarta revolução devem ficar com a maior parte dos ganhos provenientes da mudança, é preciso tomar a decisão de investir. “Nenhum país consegue liderar na indústria sem uma estrutura e uma estratégia para isso”, afirma Paulo Mól, do Instituto Euvaldo Lodi. “É uma escolha da sociedade.”

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Infográfico: Fabio x

Algumas iniciativas têm sido colocadas em prática. A própria criação da Embrapii, representada no debate pelo conselheiro Fernando Gomes de Oliveira, é um avanço importante. A entidade busca realizar, na indústria, trabalho semelhante ao feito pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no agronegócio. A digitalização das companhias nacionais, no entanto, ainda caminha num ritmo lento. Segundo dados da CNI, menos da metade das empresas brasileiras adota alguma tecnologia relacionada ao conceito de Indústria 4.0 (veja quadro ao lado). Entre as dificuldades apontadas, estão a falta de trabalhadores qualificados, infraestrutura de telecomunicações insuficiente e ausência de linhas de crédito apropriadas.

Nesse sentido, segundo Ana Cristina Costa, do BNDES, o Governo Federal vem adotando medidas para fomentar a inovação. Um exemplo é a criação do Grupo de Trabalho da Indústria 4.0, força-tarefa subordinada ao Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviço (Mdic). Mas ainda é insuficiente. “O que outros países fazem é envolver a academia, o setor privado e o público”, diz Costa. “As instituições comuns de desenvolvimento, como os Senais, que possuem conhecimento acumulado, precisam ser integradas às indústrias.”

A carência de competitividade é latente na indústria. Falta um plano que abranja vários atores trabalhando em conjunto, incluindo governo, iniciativa privada, sociedade e terceiro setor

Ao mesmo tempo, há, no âmbito da iniciativa privada, uma necessidade de incorporar a inovação ao centro dos modelos de negócios. “As grandes empresas têm mais dificuldades de inovar, pois não podem ter rupturas em seus processos de negócios”, diz Constantino Seixas Filho, da Accenture. “Isso não acontece com as startups, que são mais ágeis.” Há, nesses casos, a urgência de se iniciar uma transformação, iniciando pelo topo da gestão, mas que seja irradiada por todas as instâncias da companhia. “A fórmula das empresas que crescem é ter um sistema de gestão que investe continuamente no aumento da capacitação e premia por desempenho”, diz João Fernando Gomes de Oliveira, da Embrapii.

A capacitação, por sinal, é a chave para enfrentar outro desafio da quarta revolução industrial: a transformação do mercado profissional, com uma inevitável migração de postos de trabalho. O consenso entre os debatedores é de que as novas tecnologias vão impactar diretamente o mercado de trabalho. Funções vão deixar de existir, substituídas por robôs ou pela automação, no caso de trabalhos de back office. Para evitar que uma parcela grande da sociedade acabe sem emprego, o que traria consequências catastróficas para a economia, o País precisa investir na formação profissional. “Hoje, colocar um robô ou não na fábrica não é uma questão trabalhista, é de qualidade. Se não colocar, seu produto vai ficar pior”, diz Oliveira. “Por outro lado, novos modelos de negócios, possíveis graças aos avanços da tecnologia, vão criar oportunidades na área de serviços.” Está mais do que na hora de o Brasil escolher o caminho do desenvolvimento.

 


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