Em uma guerra às vezes é difícil conseguir manter em alta o moral da tropa, que luta incansavelmente dia e noite. Assim vem sendo a batalha do pessoal da saúde no combate ao coronavírus, que já contaminou 6,6 milhões de pessoas e tirou a vida de cerca de 180 mil brasileiros. Dez meses depois do início do maior desafio imposto à saúde, o Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (InCor) decidiu dar uma injeção de ânimo nos cerca de 4 mil empregados diretos e indiretos da instituição. Para isso, criou uma campanha não apenas de incentivo, mas de alento e reconhecimento ao intenso trabalho para salvar vidas, denominada “Meu coração está com você”. E o momento não poderia ser melhor, uma vez que às vésperas das festas de final de ano, a população está relaxando no isolamento e a contaminação voltou a crescer.

Segundo a diretora executiva do InCor, Marisa Madi, a campanha é um esforço para confortar quem está na linha de frente da pandemia e que precisar seguir forte, pois o vírus continua intenso. Para dar esse estímulo, foram convidadas personalidades como Jô Soares, Casagrande e Rogério Ceni, para gravar vídeos saudando os profissionais que lutam contra a doença desde março. “Nossa expectativa é que isso ajude a dar um gás no pessoal, especialmente com a segunda onda chegando”, afirma.

Ano de burnout

Para o diretor do Centro de Parada Cardíaca e Ciência da Ressuscitação do InCor, Sérgio Timerman, essa ação é essencial porque final de ano é sempre complicado, mas 2020 foi especialmente difícil. “Este foi o ano do burnout, estamos trabalhando com estresse pós-traumático de guerra”. Timerman explica que o InCor teve de atuar na pandemia dentro de outra crise sanitária, uma vez que as doenças do coração matam cerca de 748 pessoas por dia no Brasil. “O número de óbitos em casa disparou, com infartos e AVC, porque as pessoas deixaram de procurar os hospitais”, conta. O impacto na equipe é grande. Por isso, o maior hospital de doenças do coração do país criou, em novembro, um centro especializado em Ressuscitação Cardiopulmonar e atendimento cardiovascular de emergência, que aumenta a sobrevivência em casos de infarte.

Presidente do Conselho Diretor do InCor, Roberto Kalil Filho explica que as dificuldades foram grandes, porque o Hospital das Clínicas virou uma espécie de “Instituto Covid”, enviando os outros casos para os outros hospitais do grupo. Então o InCor, especializado em cardiologia, se viu atendendo tramatismos, transplantes e outras especialidades, além do atendimento aos cardíacos, o que exigiu ainda mais esforço dos profissionais. “Avançamos muito com os protocolos da telemedicina. Mas agora precisamos renovar as forças para enfrentar 2021, que não será fácil”, acrescentou Kalil.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias