A relação entre Bolsonaro e Hamilton Mourão nunca foi muito boa, mas está atingindo níveis insuportáveis. O presidente não tolera mais o vice e a ruptura parece inevitável. Mourão até vinha segurando uma explosão pública, mas no sábado, 31, ele não aguentou e publicou um post na sua conta no Twitter em resposta aos amigos que o aconselhavam a renunciar. “Nunca abandonei uma missão. Sigo neste governo até o fim.” Ele lembra que tomou essa atitude “em respeito às muitas pessoas que falam que votaram na chapa JB-Mourão em 2018 por confiar em mim”. De fato, em 2018 o general deu uma garantia tácita ao eleitor de que o Exército poderia bancar a escolha do ex-capitão. Agora, quando Bolsonaro não precisa mais de Mourão, o joga na beira da estrada e o trata como inimigo.

Golpistas

O que fez Mourão perder a paciência foi ser comparado a um parente intruso.“Vice é igual cunhado. Você não pode mandá-lo embora.” O presidente não gostou de ver o general criticar suas ameaças à democracia, quando afirmou que sem voto impresso não haverá eleições. Mourão mostrou não compactuar com as ideias golpistas do mandatário.

Impeachment

As divergências entre os dois, porém, não começaram por causa do sistema de votação. Mourão não queria
que Bolsonaro se aproximasse do Centrão e ficou irritado quando ele trocou o general Ramos por Ciro. A crise na relação, na verdade, teve início quando os filhos suspeitaram que Mourão insuflava parlamentares a pedirem o impeachment.

Pacificação no ninho tucano

Marco Ankosqui

Mesmo com dores na coluna, Fernando Henrique Cardoso, 90, fez questão de ir à inauguração do Museu da Língua Portuguesa para gravar um vídeo: “Doria é candidato a presidente e tem meu voto”. Recentemente, ele causou mal-estar ao receber Lula e dizer que num eventual segundo turno entre o PT e Bolsonaro, votaria no petista. Doria vai usar a gravação de FHC para tentar ganhar as prévias no PSDB.

Retrato falado

“Lula representa o passado” (Crédito:Jarbas Oliveira)

Ciro Gomes (PDT) vem fazendo duras críticas ao candidato do PT a presidente em suas mídias sociais. Em uma das mais recentes postagens, insinua que Lula está “velho” para disputar novo mandato. “Envelhecer não é nenhum problema. Terrível mesmo é o envelhecimento das ideias”, diz o cearense, criticando o petista por ele ter abandonado o projeto de taxar as grandes fortunas.“Caiu a máscara de Lula”, afirma. Ele acredita que pode ser o candidato da esquerda contra Bolsonaro.

Desemprego lascado

Como uma das instituições governamentais mais sérias do setor de pesquisas econômicas, o IBGE estima que o desemprego atingiu, no trimestre encerrado em maio, o mais alto índice de desemprego na história do País, com 14,8 milhões de pessoas sem emprego e outras 34,8 milhões na informalidade. São quase 50 milhões de desalentados. Os dados contrariaram Paulo Guedes, que disse ter dados do Caged, tabulados por seu ministério, de que a situação é melhor do que a apurada pelo instituto.“O IBGE está na idade da pedra lascada”, afirmou o ministro. Guedes agiu como Dario III, o rei da Pérsia, que mandou matar o mensageiro que trouxe notícias ruins do campo de batalha.

Sucateamento

Afinal, o IBGE não se moderniza por sua culpa, já que cabe a ele liberar recursos à entidade. Sem dinheiro, o instituto não consegue nem realizar o censo, para sabermos, por exemplo, a real situação do emprego. Este ano, o orçamento de R$ 2 bilhões foi reduzido para R$ 71 milhões, inviabilizando a pesquisa.

Toma lá dá cá

Marcelo Ramos (PL-AM), vice-presidente da Câmara (Crédito:Divulgação)

Por que o senhor, que sempre foi aliado do governo, rompeu com o presidente?
Ele me responsabilizou, indevidamente, pela aprovação do fundo eleitoral de R$ 5,7 bilhões, que era uma proposta dele. A atitude do presidente foi de uma deslealdade sem tamanho. Diante disso, minha relação com ele não tem mais volta.

O senhor virou oposição?
Sempre ajudei o governo a aprovar suas pautas econômicas, mas sempre reagi aos seus arroubos autoritários. Não sou um radical para atrapalhar o País, mas Bolsonaro não terá mais minha boa vontade.
Como assim?
Isso ficará claro já na votação da Reforma Tributária. Ela é uma proposta ruim. Antes, ajudaria a melhorar o texto. Agora, vou agir mostrando que ela é muito ruim.

Salvem a Amazônia

Sem a presença de Bolsonaro, o enviado especial dos EUA para o clima, John Kerry, promoveu, na sexta-feira, 30, uma videoconferência com sete governadores brasileiros, sob coordenação de Renato Casagrande (ES), para tratar de projetos contra o aquecimento global, como os que colocam fim ao desmatamento da Amazônia.

Divulgação

Novo fundo

Participaram ainda do encontro virtual os governadores Doria (SP), Leite (RS), Azambuja (MS), Wellington (PI), Barbalho (PA) e Dino (MA), falando pela Amazônia. Kerry disse que Biden deseja ajudar os brasileiros na criação de um fundo para financiar iniciativas na área da conservação ambiental que contribuam para combater as mudanças climáticas.

Os negacionistas reincidentes

Wellington Maced

Eles não se emendam. Bolsonaro e sete dos seus mais fiéis seguidores nas três motociatas realizadas em São Paulo nos últimos dois meses — como a de Presidente Prudente no sábado passado — foram multados pelo governo estadual por não usarem máscara. Entre eles havia três deputados, como Carla Zambelli. Por serem reincidentes, as multas podem chegar a R$ 290,5 mil.

Rápidas

* O Centrão é insaciável. Além de comandar a Casa Civil, Secretaria de Governo, Comunicações e Trabalho, agora o grupo fisiológico quer os ministérios do Turismo e do Meio Ambiente. Deseja também a recriação do Ministério do Planejamento para dar a um senador.

* Como o grupo liderado por Ciro dominou o Palácio do Planalto com ascendência sobre todos os ministérios, inclusive o de Paulo Guedes, Bolsonaro poderá virar uma “rainha da Inglaterra”, diz um deputado influente.

* Sem partido, Bolsonaro tem menos de nove meses para se filiar a uma legenda para disputar a reeleição. Inúmeros partidos vetaram sua entrada. Terá que aceitar o Progressistas, mas sem colocar o pé na porta: o PP já tem dono.

* O voto impresso não deverá ser aprovado no Congresso. Segundo pesquisa do Instituto Ideia, 14 dos 18 presidentes de partidos consultados consideram as urnas eletrônicas seguras e descartam o voto em papel.