Uma das grandes dúvidas do mercado em relação a uma eventual vitória de Lula (PT) no pleito era sobre que postura o ex-presidente assumiria, se eleito novamente. Em 2002, quando venceu pela primeira vez, Lula deu sinais de pragmatismo. Na Carta ao Povo Brasileiro, assumiu o compromisso de respeitar contratos e seguir o tripé macroeconômico, base do Plano Real (câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário). A nomeação de Antonio Palocci para o Ministério da Fazenda foi também bem recebida pelo mercado na época.

Agora, após sua vitória, Lula anunciou seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), como coordenador da equipe de transição, o que tranquilizou o mercado financeiro. Um sinal de que Lula III se pareceria mais com Lula I do que com Dilma I e II. A Bolsa reagiu bem, o dólar caiu. Mas as mensagens posteriores do presidente eleito provocaram novamente fortes dúvidas entre os agentes econômicos sobre o compromisso fiscal do novo governo. As declarações de Lula, por exemplo, quando disse que o mercado fica nervoso à toa, não têm ajudado. No Egito, durante sua participação na COP27, declarou, sobre a mudança na regra do teto de gastos, que as pessoas têm de ter paciência se o dólar subir e se a bolsa cair.

Lula ganhou a eleição. Precisa descer do palanque. Suas falas agora têm reflexo na economia. E, no limite, acabam prejudicando justamente os mais pobres. Dólar alto significa mais inflação, inclusive em alimentos. O Brasil importa trigo e fertilizantes, por exemplo. Se a inflação sobe, o Banco Central precisa aumentar a taxa de juros. Juros mais altos encarecem o crédito e reduzem o consumo. O resultado é menos emprego e economia em recessão. Já vimos esse filme antes. E não terminou bem.

Lula anunciou seu vice, Geraldo Alckmin, como coordenador da equipe de transição, o que tranquilizou o mercado

Os termos da PEC de Transição também foram mal recebidos pelo mercado, por embutirem uma licença para gastar por prazo indeterminado. Por mais que o Congresso possa fazer ajustes – e certamente os fará –, a PEC acaba sinalizando para o mercado que o perfil do governo eleito é gastador. Sem compromisso com as contas públicas. Há um enorme esforço e muito jogo
de palavras de aliados próximos ao presidente eleito tentando convencer o País do contrário. Mas fato é que os sinais emitidos até aqui, em termos econômicos, são ruins.

Liberar gastos de R$ 200 bilhões, conforme proposto pelo novo governo, é uma tragédia fiscal. Lembrando que a Reforma da Previdência aprovada em 2019 previa economizar R$ 800 bilhões em dez anos. É exatamente o montante que seria torrado em quatro, se essa proposta fosse aprovada. Quem pode colocar um limite na farra, por incrível que pareça, é justamente o chamado Centrão. Ruim com ele, pior sem.