Por Mateus Machado

Atualmente com 31 anos e um cartel de 18 vitórias e seis derrotas no MMA profissional, Jennifer Maia está próxima de fazer a luta mais importante da sua carreira. No dia 21 de novembro, no card do UFC 255, a brasileira vai disputar o cinturão peso-mosca diante da atual campeã, Valentina Shevchenko, em duelo que promete fortes emoções. Contratada pelo Ultimate em 2018, a curitibana já fez cinco lutas pela organização, com três triunfos contabilizados, no entanto, desde que fez sua estreia nas artes marciais mistas, em 2009, a lutadora construiu uma trajetória repleta de grandes combates e conquistas.

Apaixonada por esportes e exercícios físicos, Jennifer se encontrou a partir do momento em que passou a praticar Muay Thai em Curitiba. Logo depois, a atleta também iniciou no Jiu-Jitsu, por influência do seu treinador, e a transição para o MMA não demorou a acontecer. Com passagens por eventos nacionais, a casca-grossa, que hoje é faixa-preta da arte suave, se destacou no período em que esteve no Invicta FC, organização americana que promove somente combates femininos e “oferece” diversas lutadoras para o Ultimate. Na franquia, a brasileira lutou entre 2013 e 2017 e se destacou ao se tornar campeã peso-mosca – e também ao defender seu título – antes de ser contratada pelo UFC.

– O momento mais marcante para mim, até agora, aconteceu quando fui campeã do Invicta FC, era um sonho lutar nesse evento. Quando eu estava lá, eu me vi junto com as atletas que eu era fã e, de repente, me vi lá no meio e ainda fui campeã. Uma das lutas que eu considero que foi uma das mais difíceis, por eu ter saído mais machucada, foi minha última luta no Invicta, defesa de título contra uma polonesa (Aga Niedzwiedz), um duelo de cinco rounds – relembrou Jennifer, em entrevista à TATAME.

A paixão da lutadora pela prática esportiva não se resume somente ao começo no Muay Thai, a migração para o MMA e as conquistas ao longo de sua carreira. Jennifer Maia é formada em Educação Física desde 2018 e ministra aulas para atletas mais jovens, conciliando a rotina com seus treinos e os compromissos ligados ao Ultimate. Ao longo da entrevista, a curitibana falou sobre o seu início nas artes marciais, a migração para o MMA, os primeiros passos no esporte, a questão do preconceito por ser uma mulher em um esporte que, tempos atrás, era predominantemente masculino, e muito mais.

Confira a entrevista completa com Jennifer Maia:

– Como surgiu o interesse pelas artes marciais e como foi seu início?

Eu sempre gostei de esporte, e um dia, na academia que eu fazia musculação, iam começar a ter aulas de Muay Thai, fiz uma aula e nunca mais consegui parar, me apaixonei pelo esporte e me dediquei a isso. No começo eu tive dificuldade, porque como eu estava na fase de começar a achar trabalho/estágio, a minha família achava que eu não teria muito futuro no esporte, então eu tinha que provar para eles que eu ia conseguir me superar e que eu estava feliz fazendo o que eu amava.

– A partir de que momento ocorreu a migração para o MMA e o que foi mais desafiador?

Eu iniciei no Muay Thai e, com um ano e meio de treino, mais ou menos, já comecei a praticar o Jiu-Jitsu também. Não era uma opção minha, mas meu treinador me aconselhou a fazer isso, já que eu estava tão envolvida com o esporte, então ele disse que seria bom, já para eu usar isso futuramente. Quando eu fui para o MMA, a gente viu que o foco estava mais no MMA, que no Muay Thai, talvez, eu não teria um futuro tão brilhante. O esporte, em si, não estava tão valorizado, ao contrário do MMA. O que foi mais desafiador no meu começo no MMA era acreditar no meu Jiu-Jitsu. Embora eu já estivesse treinando há muito tempo, eu não tive a oportunidade de disputar muitas competições, então eu não tinha muita segurança. Tive que passar por essa experiência do MMA para tirar esse bloqueio de mim.

– Com a migração para o MMA, como você lembra dos seus primeiros passos no esporte?

O início de qualquer esporte, para qualquer atleta, é muito difícil, ainda mais para uma mulher no MMA. Foi muito desafiador para mim, eu mesma tive que tirar esse ‘bloqueio’, acreditar em mim, que eu teria um bom futuro. O que foi muito marcante é que em vários eventos aqui em Curitiba, a minha cidade natal, eu fiz a luta principal diversas vezes, tanto em eventos amadores quanto em eventos profissionais. Isso marcou muito para mim, uma mulher fazer a luta principal de um evento.

– Por estar em um esporte que, por muito tempo, foi predominantemente masculino, você sofreu algum tipo de preconceito?

Por eu dar aula de artes marciais também, o que eu mais vivi de preconceito foi um aluno chegar e querer me questionar na aula, não saber que eu tenho um histórico bom. Isso na primeira aula do aluno, já aconteceu mais de uma vez, com mais de um aluno. E aí quando esse aluno retornou, depois que saiu da primeira aula, foi ver meu histórico e minhas lutas, ele já voltou na outra aula me olhando diferente, comentando que viu minhas lutas, viu meu histórico, meu card… Na primeira impressão, as pessoas acabaram tendo um preconceito comigo, achando, talvez, que eu não fosse capaz, mas depois de olhar meu histórico, pesquisar, voltaram com um olhar diferente e respeitando mais.

– Quais momentos você considera mais marcantes em sua carreira no MMA?

O momento mais marcante para mim, até agora, aconteceu quando fui campeã do Invicta FC, era um sonho lutar nesse evento. Quando eu estava lá, eu me vi junto com as atletas que eu era fã e, de repente, me vi lá no meio e ainda fui campeã. Uma das lutas que eu considero que foi uma das mais difíceis, por eu ter saído mais machucada, foi minha última luta no Invicta, defesa de título contra uma polonesa (Aga Niedzwiedz), um duelo de cinco rounds. Com certeza, também cito a estreia no UFC, pela adrenalina, a estreia, contra uma atleta bem conhecida, a Liz Carmouche, também foi uma luta bem difícil.

– Antes de partir para o MMA, você chegou a pensar em seguir outra profissão?

Eu sempre fui apaixonada por esporte e sempre quis me formar em Educação Física, então se eu não estivesse nesse meio de luta, eu estaria no meio do esporte, como sempre, nunca me vi em outra situação. Se não fosse a luta, talvez eu seria atleta de algum outro esporte, não sei qual (risos). Antes de lutar, eu gostava de jogar Futebol, mas graças a Deus, eu conheci a luta e pude ter um ótimo desempenho. Através da luta, também consegui me formar em Educação Física, então eu estou na área onde sempre gostei e sonhei em estar. Acho que eu não teria outro caminho, a não ser o esporte.