Fure a sua bolha. Esse é o recado de influenciadores PCD, sigla para pessoas com deficiência, que somam milhões de seguidores no Brasil e no mundo. Criadores de conteúdo no nicho quebram estereótipos na luta contra o capacitismo e apresentam uma necessária nova perspectiva ao público. “Redes sociais são importantes porque ganhamos uma voz. É uma oportunidade da sociedade aprender, pois a chave da inclusão é a informação”, diz a empresária Andrea Schwarz, 46 anos. Ela já era conhecida no LinkedIn por trabalhar com diversidade. Aos 22, foi diagnosticada com uma malformação congênita na medula espinhal. Hoje ela tem uma consultoria que já auxiliou mais de 20 mil pessoas com deficiência a serem empregadas. Com o Instagram e TikTok ela viralizou com sua cadeira de rodas e atingiu a marca de 500 mil pessoas conectadas em todos os seus perfis. Seu conteúdo de inclusão, diversidade e acessibilidade divide espaço com moda, beleza, maternidade, turismo e tudo que envolve seu cotidiano. Mulheres têm curiosidade, por exemplo, sobre seus looks de grife. “Os meus sapatos engajam demais”, diverte-se. “Salto alto é símbolo de empoderamento feminino. Chama a atenção porque não acreditam que uma mulher com deficiência pode ser dona da própria história”, diz. Outro viral são as viagens como cadeirante: “Fui para mais de 40 países e mostro que não vivo apesar da minha deficiência, mas com ela”.

Influenciadores PCD conquistam milhões de seguidores no Instagram

INCLUSÃO Paola Antonini é ícone de moda e beleza na web, onde compartilha a paixão por esportes (Crédito:HIGOR BLANCO)
Influenciadores PCD conquistam milhões de seguidores no Instagram

DIVERSIDADE Fenômeno na internet, a humorista Pequena Lo conquista com esquetes de humor (Crédito:IUDE RICHELE)

A modelo Paola Antonini, 28, também é líder em curtidas. Aos 20, sua vida mudou após ser atropelada e ter a perna esquerda amputada. Desde o acidente, passou a mostrar seu dia a dia com a prótese. “Criei coragem e comecei a postar vídeos e fotos. A reação das pessoas não poderia ter sido melhor”, relembra. Hoje são dois milhões de seguidores só no Instagram. Há três anos, ela observou uma satisfatória mudança no perfil de seu público. “Não procuravam só saber sobre a amputação, queriam ver como a vida poderia seguir depois disso”, conta. “É importante que pessoas com deficiência não sejam vistas apenas como ‘exemplos de superação’ ou que sejam limitadas por isso. É importante que sejamos vistos como pessoas normais, com sonhos, metas e trabalhos incríveis”, diz.

A humorista Pequena Lo — seu nome de batismo é Lorrane Silva — também é referência no meio. Em 2020, ela se tornou popular quando seu TikTok e Instagram viralizaram pelo humor. “Começaram a ver o meu trabalho e não a minha condição física”, relembra. Nascida com uma síndrome ligada à displasia óssea, ela usa muletas e uma scooter para se locomover. A “motinho”, aliás, é popular entre seus 10 milhões de seguidores. Em shows e baladas, a comediante costuma dar carona para famosos, como Anitta e Lexa. Internautas se divertem. Para Lo é mais do que isso. “É representatividade. Mostro que sou feliz com a minha moto”, afirma. “Mostro que tenho independência e que está tudo bem em conduzir minha scooter, pois estou nos mesmos lugares que os outros.” De acordo com o IBGE, 12,7 milhões de brasileiros possuem alguma deficiência. Para os influenciadores PCD, a luta ainda é grande. “Converso com muitas agências de influenciadores e o PCD é o menos procurado”, diz Andrea. “No mercado de trabalho ainda há muito a ser feito”, completa Paola. “Sabemos que o preconceito e o capacitismo estão longe de acabar”, diz Lo.