Se há cerca de dez anos o sonho de muitas mulheres era ser como uma modelo de lingerie da clássica marca Victoria’s Scret, hoje o cenário é outro. A empresa que levou manequins como as brasileiras Adriana Lima e Gisele Bündchen ao imaginário popular do que significa ser uma mulher bonita, hoje enfrenta dificuldades financeiras. Com diversos processos de falência em vários países em que opera, mais o fechamento de 250 lojas e o encerramento de seus desfiles televisionados, a marca que era sinônimo de modelos altas e magras, pode não sobreviver à pressão popular. Agora é o tempo de mulheres como Jojo Todynho, Mc Carol ou da americana Lizzo, muito mais próximas do mundo real.

MILIONÁRIA Vencedora de reality show, Jojo Todynho representa várias marcas: mulher do mundo real (Crédito:Divulgação)

Não é de hoje que as mulheres não se sentem representadas pelo que vêem nas passarelas e a derrocada da gigante de lingeries é apenas um sintoma do que está por vir. A busca pelo corpo perfeito que entra em roupas minúsculas e padronizadas oferecidas pelas lojas de departamento, ainda não acabou por completo. Mas a mudança é irreversível e aparece nos mais variados setores do consumo, sendo acelerada pelas mídias sociais. Acesso à informação, pluralidade de ideias discutidas por qualquer pessoa com acesso à internet e pura ousadia transformaram a indústria da beleza: não há mais um padrão a ser seguido. A mulher de feição europeia: loira, magra e de olhos azuis ainda vende, claro, mas há tempos não é a escolha principal das empresas na hora de fazer publicidade, já que esse biotipo representa apenas uma pequena parcela da população do País.

Mc Carol, cantora, negra, gorda e periférica, como gosta de se apresentar, define o momento: “Estamos brilhando e não podemos mais ser ignoradas”, disse ela à ISTOÉ. Mc Carol, nome artístico de Carolina de Oliveira Lourenço, acaba de ser capa de uma das revistas de moda mais importante do mundo, a Elle, publicada em dezenas de países. O mesmo acontece com a cantora americana Lizzo, que foi a primeira mulher negra e obesa a aparecer na capa da Vogue, considerada a bíblia do mundo fashion. “Cresci ouvindo muita besteira, sabendo que ser negro é lutar contra ser diminuído e ser mulher e negra é ter que lutar muito mais. Eu nunca me via representada, me ver na capa da revista foi um sonho”, diz. Lizzo foi além e também desfilou, de fio dental e meia arrastão, para a marca de lingeries Fenty, da cantora Rihanna. Os desavisados que comentam na internet que cultuar a gordura é errado e que essas pessoas não deveriam ser exemplo de nada, perdem o foco da discussão. Aqui se fala em representatividade e não em regras de conduta. Mulheres gordas e negras existem, fazem sucesso e nunca lucraram tanto como agora.

MODELO A cantora americana Lizzo desfilou de lingerie: primeira mulher negra e obesa a aparecer na capa da Vogue (Crédito:Divulgação)

Por falar em dinheiro, a cantora e influencer Jojo Todynho, nome artistico de Jordana Gleise de Jesus Menezes, acaba de ganhar R$ 1,5 milhão como vencedora do reality show “A Fazenda”, da Rede Record. No início do programa era comum ver comentários de fãs da atração dizendo que não iriam assistir à edição por terem “nojo” da participante. Palavras pesadas e que nem sempre foram levadas com leveza por Jojo. “Nunca me importei com julgamentos e carrego comigo somente as opiniões que me fazem crescer. Ninguém é obrigado a gostar de ninguém, mas é obrigado a respeitar”, diz. Foi sua participação em “A Fazenda”, inclusive, que garantiu boa parte desse respeito à Jojo. Na telinha ela mostrou que era “uma pessoa normal”. Sua personalidade, frases de efeito e jeito brincalhão conquistaram o Brasil e contratos “bem gordos” para ser a garota-propaganda de diversas marcas nacionais. Com mais de 15 milhões de seguidores só no Instagram, Jojo começou a fazer sucesso ao participar de biquíni em um clipe da cantora Anitta. Depois veio o hit “Que tiro foi esse?” tocado à exautão e que rendeu à cantora dinheiro para ajudar a família. Hoje ela diz não se ver como milionária, mesmo com o prêmio que recebeu. “Sou uma trabalhadora que está alcançando seus objetivos com muito foco e dedicação. Tenho muita estrada pela frente, muitas lutas e conquistas. E sinto que estou pronta pra isso”, afirma. Tanto Jojo quanto Mc Carol já se cansaram de ouvir gente opinando sobre seus corpos e sugerindo dietas milagrosas. Se quiserem perder peso, o farão e se quiserem se aceitar como são, tudo bem também. Cabe apenas a elas decidir o destino de seus corpos. E quando o assunto é regime, Mc Carol é implacável: “Não sei se pode falar palavrão aqui então… Acho que o melhor seria mandar cada um olhar para sua própria vida”, diz.

Os últimos dados do IBGE, de 2019, apontam a realidade: uma em cada quatro pessoas acima de 18 anos estava obesa, o equivalente a 41 milhões de pessoas. Já o excesso de peso atingia 60,3% da população, o que corresponde a 96 milhões de pessoas, sendo que 62,6% são mulheres e 57,5%, homens. Mas o que isso significa? Que devemos abandonar uma dieta saudável e adotar o sedentarismo porque ser gorda está na moda? Não. Significa que devemos aceitar as pessoas como elas são, independente do possível nível de colesterol que ela possa vir a ter. Afinal, a anorexia e o excesso de magreza de muitas celebridades chegam a ser motivo de elogio e não causa de preocupação pelo exemplo que podem dar para a juventude. Agora é a vez das gordinhas!