O nome da influenciadora Kat Torres tomou conta da internet nos últimos dias. A empresária, ex-modelo e autodeclarada coach atua como guru espiritual nos Estados Unidos, e supostamente estaria diretamente ligada com o desaparecimento de duas jovens brasileiras.

Ela foi presa preventivamente no Brasil sob suspeita de manter pessoas em condições análogas à escravidão nos Estados Unidos, entre outros possíveis crimes.

O que é, afinal, uma bruxa?

Em seu site, Katiuscia promete, através de rituais com chás alucinógenos e até hipnose, objetivos como sucesso financeiro e até um marido. Com as promessas, ela teria atraído a mineira Letícia Maia Alvarenga, de 21 anos, e a paulista Desirrê Freitas, de 26. O caso está sendo investigado pela polícia norte-americana e pelo Itamaraty, que foi acionado pelas famílias das jovens. A família e amigos de Desirrê criaram um perfil no Instagram para denunciar o sumiço.

A história da influenciadora de 33 anos – que até recentemente mentia ter 29 -, começou em Belém do Pará, sua cidade natal. Ainda adolescente seguiu para o Rio de Janeiro para tentar a vida como modelo. Posteriormente, se mudou para Paris, na França, depois Nova York, depois em Los Angeles, nos Estados Unidos, onde se estabeleceu.

Aos 24 anos, em 2013, Kat viu o seu rosto estampar tablóides do mundo todo ao ser flagrada curtindo uma noite com o famoso ator Leonardo DiCaprio. Ela chegou a comentar com jornais brasileiros sobre a sua relação com ele e o definiu como “incrível”. Depois, voltou atrás e disse que eram apenas amigos.

Anos depois, Kat virou sensação na internet ao criar uma página no Instagram, chamada ‘Coisas da Kat’. Lá, ela publicou uma série de memes com fotos próprias, que viralizaram e atraíram mais de 1 milhão de seguidores. As imagens, com expressões tristes e exaustas dela, eram sobrepostas a situações cotidianas, como um encontro que deu errado, por exemplo, e arrancava risadas de quem compartilhava. Assim como tudo ligado a Katiuscia nesta rede social, o conteúdo não está mais no ar.

Meme da página de Kat Torres (Crédito:Reprodução / Instagram)

Uso de Ayahuasca

Kat Torres lançou em 2017 um livro intitulado “A Voz”. A influencer afirma que o conteúdo foi escrito por uma voz que vive dentro da sua cabeça. A publicação aconteceu na mesma época em que ela se declarou médium de uma “comunidade” que utiliza chá de Ayahuasca como uma espécie de libertação espiritual. Ela fazia atendimentos a fieis da seita nos EUA, e orientava pelo uso do mix de plantas.

A ayahuasca é um chá preparado geralmente com a mistura de duas ervas amazônicas, o cipó Mariri e as folhas de Chacrona. O chá, que também é conhecido como Daime, variam de pessoa para pessoa e podem incluir visões e alucinações. O recurso é, de fato, muito utilizado para fins religiosos.

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“As coisas que a gente vê lá dentro… eu já conversei com Jesus Cristo, e nem acreditava em Jesus Cristo. O ritual (com o chá psicodélico) deixa você 13 horas fora do seu corpo. Você visita pessoas, entes queridos que morreram, minhas seguidoras das redes sociais”, disse, em entrevista ao programa de Amaury Jr, há cinco anos.

Na mesma entrevista, ela disse que, apesar de haver uma orientação no grupo para que se use apenas uma vez o chá de Ayahuasca, ela usava uma vez por mês por ser considerada médium no movimento. Por vezes, falava coisas desconexas, que surpreendiam o próprio apresentador do programa.

Mais recentemente, Kat começou a se promover como life coach e vender um curso onde promete evolução espiritual, sucesso financeiro e em relacionamentos amorosos. Nesse programa, que custa R$ 700 por ano, ela chegar até a afimar que utiliza de hipnose para atrair e manipular tais relações interpessoais. A família de Letícia Alvarenga, uma das meninas desaparecidas, acredita justamente que a garota não está agindo normalmente, e que estaria sendo drogada, manipulada ou forçada, de alguma forma, a agir a favor de Katiuscia – como acontece em casos de “hipnose”.

Alienígenas

As pessoas que aderem ao curso são chamadas de ‘alienígenas’ pela ex-modelo. Kat ainda promete dá-las “poderes mentais”.

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“Lembrem quem vocês eram antes e depois das consultas”, diz em uma publicação onde se defende de críticas. Em outra, diz, de forma desconexa, que a “Terra está em perigo”.

Em um vídeo, mostra a iniciação de uma “cliente”, bebendo um líquido que seria Ayahuasca, em ritual chamado de “banho do alienígena”.

Letícia Maia, Kat Torres e Desirrê (Crédito:Montagem)

Após os pais de Letícia terem trazido o desaparecimento à tona, as redes sociais de Kat passaram a ser inundadas por pessoas cobrando explicações sobre o paradeiro da jovem. Outras jovens também surgiram dizendo já ter sido vítimas da “lavagem cerebral” com golpes financeiros da ex-modelo. Ela excluiu quase todas as redes sociais, menos o Facebook.

Foi quando vídeos e declarações atribuídos a Letícia começaram a surgir nas redes. Em um deles, a garota aparece pessoalmente dizendo ter sido abusada pelo pai – o que ele e o restante dos parentes negam veementemente –, e que a família já tinha “ido longe demais” em tentar encontrá-la.

Perfis também atribuídos a Letícia começaram a negar que a garota estava sendo mantida em cárcere e passaram, inclusive, a levantar suspeitas sobre terceiros, como nuvem de fumaça, acreditam os parentes. Prints de conversas publicados por Kat mostravam a garota supostamente pedindo a amigos que parassem de procurá-la.

Envolvimento de Yasmin Brunet

A jovem chegou a acusar Yasmin Brunet de ser a mentora do esquema. Na última terça-feira (18), um novo vídeo foi publicado no perfil de Letícia e também envolveu Desirrê. Nas imagens, ambas dizem estar em cativeiro e, de forma desconexa, acusam a famosa modelo e atriz brasileira de estar por trás do sequestro.

No início da noite, o mesmo perfil fez mais publicações confusas. Antes, as garotas já haviam aparecido pedindo, por exemplo, contato com o presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente da Meta, Mark Zuckerberg, para apresentarem propostas para o fim da guerra na Ucrânia, por exemplo.

Kat foi chamada para depor pela polícia. Ainda não se sabe se já foi ouvida. Em seu perfil, ela publicou um texto se defendendo das acusações de sequestro e debochando dos pais de Letícia, a quem chamou ironicamente de “pobres coitadinhos”.

Em outra publicação, do dia 14, ela afirmou que as garotas (Letícia e Desirré) são livres e estão “ricas e felizes”, e que são suas “melhores amigas”. Ela, então, ataca quem denuncia o sumiço das jovens.

“Eu literalmente tive que parar de aparecer aqui e as meninas também por causa do nível de perseguição. Mas não para…. agora eles querem obrigar as meninas a terem social media, e serem obrigadas a adar informação da vida delas enquanto elas não querem dar”, escreveu. “E quem me conhece sabe que falta de liberdade me tira do sério!!!! Porque eu nasci e vou morrer acreditando que o ser humano é livre”, acrescentou.

“Então, realmente, contra essa quantidade de gente pobre, eu não tive escolha. A minha única solução foi sumir e as meninas também, tudo culpa do Lula (ex-presidente e candidato ao cargo de chefe do Executivo pelo PT), que dá condição para pobre ficar em casa com a cabeça vazia sem trabalhar (…) Viva Bolsonaro (presidente e candidato à reeleição pelo PL) e Trump (ex-presidente dos EUA) e que eles sejam presidente para sempre, que aí a pobraiada (sic) vai ter que trabalhar e não vai ter tempo para ficar fazendo essas coisas absurdas”, finalizou.