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As perspectivas econômicas para 2022, traçadas em cima de uma inflação mais controlada, que deveria fechar o ano em 5%, de acordo com a meta do governo, já foram totalmente frustradas. Só em fevereiro, o IPCA mensal dobrou para 1,01%. O resultado foi provocado principalmente pela alta dos alimentos e do ensino regular. Só para dar uma ideia do tamanho do problema, na hora de comprar os ingredientes de uma salada, o consumidor pagou a cenoura 55,41% mais cara que em janeiro. As hortaliças, 15,42%. O aumento das mensalidades das escolas (6,67%) foi o item que mais impactou, segundo especialistas. Mas nem tinha acabado fevereiro – era dia 24 –, estourou a guerra na Ucrânia. O aumento das commodities foi instantâneo. O barril do petróleo passou de U$ 100, levando a uma escalada global do custo. No dia 12, a Petrobrás, que já acumulava internamente um aumento de 40% do petróleo herdado do ano passado, repassou parte dele: 18,8% para o custo final da gasolina e 24,9% para o do diesel.

“Este ano podemos chegar ao mesmo patamar de inflação do ano passado, que fechou com 10,06%”, alerta Cleveland Prates, professor de Economia da FGV Direito. “Vamos lidar durante o ano com as consequências de uma série de decisões equivocadas, irresponsáveis e na maioria das vezes populistas para resolver a questão da inflação.” Entre elas, medidas que visam controlar o preço da gasolina, independentemente do mercado internacional. No dia 10, o relator Jean Paul Prates (PT) aprovou com o apoio do governo o Projeto de Lei Complementar (PLP) 11/2020, que reduz a cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre os combustíveis. A taxa passa a incidir apenas uma vez no ano e não a cada aumento. O Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para o Financiamento e Seguridade Social (Cofins) também não serão cobrados sobre os combustíveis em 2022. O Comitê Nacional de Secretários de Fazenda calcula que estados e municípios terão prejuízo de R$ 24 bilhões.

Há ainda em tramitação no congresso o PL 1.472/2021, que propõe um Fundo de Estabilização de Preços do Petróleo (Fepetro). Prates lembra que em 2012, durante o governo Dilma Rousseff, o barril do petróleo atingiu o mesmo preço do atual. A única diferença entre os cenários é o câmbio do dólar, que custava R$ 1,95 e agora sai R$ 5,16. “Nessa época, a presidente resolveu não repassar os aumentos do petróleo, o que quase quebrou a Petrobrás e depois resultou em uma série de aumentos”, disse. Ele afirma que o não repasse dos preços também abala a competitividade do mercado. “Nenhum importador trabalharia no Brasil, se os preços aqui fossem mais baixos que em outros países.”

Para o consultor Maílson da Nóbrega, da Tendências Consultoria Integradas, o Brasil tem um complicador: “Bolsonaro acredita falsamente que o País é autossuficiente em petróleo e não deveria aumentar os preços.” Uma ideia que ganha distorções, ainda maiores, segundo Nóbrega, quando o presidente da Câmara, Arthur Lira, acha que a Petrobrás “é uma empresa com fim social”.

A escalada de preços também será percebida em outras commodities. “O mundo tem hoje uma grande rede comercial tão interligada, que a alta do petróleo vai causar a elevação do preço do açúcar, porque os usineiros brasileiros darão preferência à produção de etanol”, diz Roberto Dumas, professor de Economia Internacional do Insper. Outro impacto indireto do aumento do petróleo é, segundo Joelson Sampaio, o da logística. “Haverá um aumento do frete de transporte de cargas assim como o de passagens para pessoas.” Os especialistas também lembram que a guerra afeta exportações importantes da Rússia e da Ucrânia, caso do trigo, do milho e dos fertilizantes, o que vai afetar diretamente o agronegócio brasileiro. “Sem fertilizantes”, diz Dumas, “o jeito será produzir menos e o preço dos alimentos vão subir mais.”