Uma análise do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) endossa a posição da Petrobras sobre a impossibilidade de aumento significativo na oferta de gás natural para o mercado doméstico no curtíssimo prazo.

Industriais, agentes do mercado de gás e, mais recentemente, o próprio Ministério de Minas e Energia (MME) têm promovido uma cruzada contra o volume de gás reinjetado pela Petrobras em campos de petróleo com objetivo de aumentar a pressão dos reservatórios e elevar sua produtividade.

Mas, segundo o Ineep, além das reservas de gás do País serem limitadas, a interrupção da reinjeção do insumo em reservatórios de petróleo e sua aplicação como combustível no curtíssimo prazo não são triviais e encontram obstáculos como ausência de infraestrutura pronta para para escoamento, e falta de viabilidade financeira e ambiental.

Além disso, destaca o Ineep, é preciso observar a maturação da implantação de novos projetos. A temporalidade dos projetos em execução, como os gasodutos Rota 3 e BM-C-33, e atividades na Bacia de Sergipe-Alagoas não poderiam atender os pleitos pelo aumento de oferta imediatamente.

O escoamento efetivo do Rota 3 está previsto para o segundo semestre de 2024, enquanto as outras duas fontes só estarão aptas entre 2027 e 2028. De acordo com previsões da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a oferta nacional de gás natural saltará dos atuais 40 milhões de metros cúbicos diários para 60 milhões m3/d em 2027, considerando as estruturas citadas e algum aumento na importação da Bolívia.

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, já disse ao Estadão/Broadcast que tenta uma aproximação com o governo boliviano para rever os termos dos contratos de importação e reforçar a atividade relacionada a gás no país vizinho.

Reinjeção

Sobre a reversão da reinjeção de gás em campos do pré-sal, o estudo do Ineep aponta impossibilidade técnica. O trabalho foi encomendado pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), um dos braços políticos de apoio à presidência de Jean Paul Prates na Petrobras dentro do PT.

O Ineep mostra que, de fato, o Brasil reinjetou, na média, 51% da produção de gás natural nos quatro primeiros meses de 2023. No ambiente marítimo, esse porcentual sobe para 54% e, no terrestre, fica em 38%.

Esses volumes de gás natural reinjetados no Brasil subiram de maneira constante desde 2014, sobretudo na atividade offshore, onde saíram de uma média de 17% entre 2007 e 2013 para 51,3% em 2022. No ambiente terrestre, o volume de gás natural reinjetado se estabilizou a partir de 2020, em cerca de 32,8% do total produzido.

O Ineep lembra que as práticas e os níveis de produção e de reinjeção atuais foram definidos em pesquisas e indicadores aprovados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) há anos, o que é de “difícil alteração no curto prazo”.

Limitação de reservas

O Ineep também reforça o que vem sendo reiteradamente colocado por Prates e membros de sua diretoria sobre as reservas brasileiras de gás. O País teria baixo volume de reservas de gás natural, cerca de 12 trilhões de pés cúbicos (TCF), quando comparado aos maiores produtores de gás no mundo: Rússia (1.321 TCF); Qatar (870 TCFs); EUA (400 TCFs).

Além disso, as maiores reservas de gás natural brasileiras estão localizadas em alto mar, em águas profundas e ultraprofundas, o que torna o custo de extração mais alto que o verificado em outros países, onde o gás fica em terra. No mais, no pré-sal, o gás natural é associado ao petróleo, o que exige operações de separação de alto custo e complexidade, e longa maturação

Aspecto ambiental

Segundo um dos autores do estudo, o pesquisador Mahatma Ramos, a redução da reinjeção implicaria uma regressão das metas de mitigação das emissões de GEE, no processo de descarbonização e de captura de carbono (CCS) da indústria de petróleo e da Petrobras.

Isso porque 40% do insumo reinjetado é CO2 associado a gás natural. Caso o gás não fosse reinjetado, esse CO2 seria separado e lançado na atmosfera, piorando os indicadores ambientais da companhia. A separação completa do gás natural e do CO2 também requer equipamento de alto custo, alerta o Ineep.