Se Sigmund Freud fosse vivo, sua pergunta clássica sobre o que desejam as mulheres seria em parte respondida: as que são artistas querem sucesso. Se avançaram enormemente em áreas como o cinema e a literatura, na música elas simplesmente tomaram o trono dos homens. Taylor Swift, que chegou a ser mencionada pelo Banco Central norte-americano por sua influência positiva na economia do país, pode ser a primeira que vem à mente, mas está longe de ser a última. Basta olhar ao redor para constatar que a indústria musical foi dominada por elas.

Apesar da juventude, um dos destaques desse cenário tem qualidades de veterana. A maturidade musical de Billie Eilish é tão evidente que é fácil esquecer que ela tem apenas 22 anos. Hit me Hard and Soft, seu terceiro álbum, traz uma artista segura e com plena consciência de está no auge.

Gravado em parceria com seu irmão, o produtor Finneas, Billie traz canções originais e letras intimistas. Formam um retrato da fluidez com que sua geração encara a sexualidade. Há declarações de amor ambíguas, desilusões e triângulos amorosos desfeitos.

No mundo digital, atingiu números estratosféricos. Billie ultrapassou os 73 milhões de ouvintes no Spotify. Mas o mundo real também reconhece seu talento — dois Oscars e nove Grammys decoram as prateleiras de sua casa na Califórnia.

Indústria musical tem novos donos: as mulheres
Beyoncé: sucesso com country music quebrou barreiras culturais (Crédito:David Becker)

O Grammy 2024, aliás, é bom parâmetro para mostrar como as mulheres dominam a indústria musical.
O prêmio mais importante, a gravação do ano, ficou com Flowers, de Miley Cyrus.
Victoria Monét levou a estatueta de revelação.
A própria Billie Eilish teve a canção do ano, “What Was I Made For?”, tema de Barbie.
Taylor Swift venceu como álbum do ano, Midnights.

E os homens? Ficaram para trás, com menções técnicas e estilos de nicho, como rap, rock e reggae.

Beyoncé é outra que acaba de lançar um álbum histórico. Uma mulher negra gravar um disco de country music nos EUA já seria uma revolução, mas ela foi além: com Cowboy Carter, a cantora é a primeira artista negra a alcançar o topo da parada no estilo.

Com participações de nomes tradicionais como Willie Nelson e Dolly Parton, Beyoncé não quebrou apenas uma barreira musical, mas rompeu um limite racial e cultural. Nem os conservadores estados do meio-oeste resistiram, e por uma única razão: seu disco é muito, muito bom.

Embora divida os críticos no Brasil, no Exterior Anitta já é vista como uma estrela internacional. Seu novo disco foi elogiado até no site da Recording Academy, órgão que reúne a nata da indústria musical norte-americana: “Anitta brilha em Funk Generation. Ela não apenas traz holofotes para esse gênero tipicamente brasileiro, mas o leva a um novo patamar. O futuro do funk parece brilhante em suas mãos”. A turnê mundial da carioca, que teve início no México na semana passada, segue agora para Nova York, Londres e Paris.

fotos: Arturo Holmes/GETTY IMAGES NORTH AMERICA/Getty Images/AFP; reprodução; David Becker/GETTY IMAGES NORTH AMERICA/Getty Images/AFP
Anitta: lançamento recebeu elogios da poderosa Recording Academy dos EUA (Crédito:AFP)

Para Adel Hattem, CEO da empresa D Music Marketing, esse domínio feminino é reflexo das mudanças sociais surgidas nas últimas duas décadas e da presença maior de personalidades femininas que se tornaram exemplos para as novas gerações. “Essas mulheres fortes e inspiradoras influenciam o público e o mercado. Um bom exemplo é a cantora Mitski, um fenômeno entre o público de 14 a 18 anos. Suas letras são profundas e fazem com que as garotas, desde essa idade, já se sintam representadas por alguém que admiram”, afirma Adel. O mundo da música agora é delas — e isso é uma boa notícia.