O ex-presidente boliviano Gonzalo Sánchez de Lozada foi considerado responsável nesta terça-feira (3) por execuções extrajudiciais em 2003 na Bolívia por um tribunal dos Estados Unidos, que o condenou a indenizar em 10 milhões de dólares familiares de oito aimaras mortos.

Os 10 membros do júri chegaram a esta conclusão em seu sexto dia de deliberações no processo contra Sánchez de Lozada e seu então ministro da Defesa, Carlos Sánchez Berzaín, que começou em 5 de março em um tribunal federal em Fort Lauderdale, no sul da Flórida.

Os dois ex-funcionários foram considerados responsáveis por “execuções extrajudiciais” cometidas durante os distúrbios de 2003 na Bolívia, mas o júri os exonerou de terem cometido “homicídio culposo”.

Esta diferença foi acusada pelos advogados de defesa como uma incongruência que valeria anular o julgamento.

“O tribunal considera que (as duas respostas) não são irreconciliáveis”, respondeu o juiz federal James Cohn, validando a decisão do júri.

Ao deixar a corte, o advogado de Sánchez de Lozada e de Sánchez Berzaín, Stephen Raber, disse a jornalistas que está “em desacordo com o veredicto” e que espera que este seja revertido “quando aplicarem a lei corretamente”.

Cinco dos nove demandantes ouviram a decisão, mas não reagiram até deixarem a sala e receberam explicações de seus sorridentes advogados.

O julgamento ocorreu graças a uma lei americana que permite julgar civilmente acusados de torturas ou execuções extrajudiciais ainda que todas as partes sejam estrangeiras e o suposto crime tenha sido cometido no exterior.

Sánchez de Lozada foi o primeiro ex-presidente a ir a julgamento nos Estados Unidos por abusos de direitos humanos, segundo o Center For Constitutional Rights (CCR), que representa os demandantes.

Os distúrbios de setembro e outubro de 2003, em um episódio conhecido como “Guerra do gás”, forçaram a fuga do presidente e facilitaram a ascensão ao poder em 2006 do aimara Evo Morales, então um líder cocaleiro.

Na ação, os familiares de oito bolivianos mortos exigiam indenização dos dois políticos por “massacres extrajudiciais, crimes contra a humanidade e homicídios culposos” que, em 17 de outubro, deixaram 58 mortos e mais de 400 feridos em El Alto, próximo a La Paz.