11/02/2021 - 20:43
Grupos indígenas equatorianos se mobilizaram nesta quinta-feira (11) em Quito em defesa do candidato presidencial Yaku Pérez, impulsionando seus pedidos de recontagem de votos e denúncias de uma suposta fraude para deixá-lo de fora da disputa.
“A fraude foi consumada quando ontem tentamos a todo custo que simplesmente (…) abrissem as atas presidenciais” para revisá-las na delegação eleitoral do porto de Guayaquil (sudoeste), disse Pérez à imprensa, cercado por 600 indígenas e ativistas de organizações sociais, em frente à sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
“E não permitiram”, enfatizou o líder indígena de esquerda, que na quarta-feira perdeu o segundo lugar e o acesso ao segundo turno das eleições gerais para o ex-banqueiro de direita conservador Guillermo Lasso.
Pérez insistiu que pedirá a recontagem de votos em várias províncias, incluindo nas quatro com maior eleitorado, como Guayas (cuja capital é Guayaquil) e Pichincha (Quito).
Seus apoiadores agitaram bandeiras multicoloridas, do movimento indígena, e ergueram cartazes que diziam “Yaku é Equador. A vontade do povo deve ser respeitada”.
Pérez, um advogado ambientalista de 51 anos, obteve 19,47% dos votos contra 19,69% para Lasso, de 65 anos.
O economista Andrés Arauz, 36 anos, o candidato do ex-presidente socialista Rafael Correa (2007-2017), manteve-se na liderança desde o início, conquistando 32,62% dos votos, segundo a apuração de 99,90% das urnas eleitorais, das quais 1,25% estão pendentes de revisão.
– Margem “muito estreita” –
“A margem entre os candidatos que ocupam o segundo e o terceiro lugar é muito estreita. Portanto, é fundamental que as chapas em conflito tenham a certeza de que seus votos estão sendo considerados pelas autoridades eleitorais”, afirmou a missão de observadores da OEA.
Mas ressaltou que “é importante que todas as partes se comportem com responsabilidade e resolvam suas diferenças institucionalmente”.
A chefe do CNE, Diana Atamaint, disse na quarta-feira que “nas próximas 48 horas” a organização pode terminar a contagem preliminar.
Assim, serão conhecidos os dois participantes do segundo turno, marcado para 11 de abril, quando será eleito o sucessor do impopular presidente Lenín Moreno, cujo mandato de quatro anos terminará em 24 de maio.
Em pé em frente à sede da CNE em Quito – que é cercada por cercas de metal e protegida pela força pública – o líder indígena expôs suas alegações de fraude, culpando o correísmo e aliados de Lasso.
O ex-banqueiro, que aspira pela terceira vez à cadeira presidencial, quer ir para o segundo turno apenas “por questão de ego”, afirmou Pérez. Ele sabe que não vai vencer o senhor Arauz; está jogando contra o correísmo”, disse o líder ambientalista, ferrenho opositor da política do ex-presidente socialista.
“É por isso que estamos aqui presentes, para defender e dizer chega de fraude”, alegou a líder indígena Blanca Chancoso, recebendo da multidão gritos de “chega de fraude, chega de fraude”.
Os apoiadores de Pérez também se reuniram em frente a delegações eleitorais em outras capitais proviciais, como Guayaquil, um reduto da direita conservadora.
– Contra a direita –
Há “fraude eleitoral em algumas províncias, pelas quais defendemos a democracia”, disse à AFP Oswaldo Rea, que fazia vigília em frente à CNE na capital equatoriana.
“Vamos defender até a última consequência. O Dr. Yaku Pérez tem que ser o presidente dos equatorianos, dos mais pobres, dos mais necessitados”, acrescentou.
Para o presidente do Movimento Indígena e Camponês de Cotopaxi, Leonidas Iza, “está em jogo todo um projeto político”. “Estamos prontos para nos mobilizar imediatamente para defender este processo democrático” e “contra a direita”.
Pérez pediu a seus apoiadores que se acalmem e “esperem com paciência os resultados, mas estejam atentos a cada um dos votos que apostaram neste projeto que busca um Equador sem corrupção”. “Juntos vamos conseguir”, completou.
Em outubro de 2019, fortes protestos liderados pelo movimento indígena forçaram Moreno a revogar a eliminação dos subsídios aos combustíveis que haviam sido exigidos pelo FMI em troca de empréstimos. Os distúrbios deixaram onze mortos e mais de 1.300 feridos.
Rebeliões lideradas por povos indígenas no Equador levaram anteriormente à derrubada dos líderes Jamil Mahuad (direita, 2000) e Lucio Gutiérrez (centro, 2005).