Em decorrência do total descaso do governo federal, cerca de mil e duzentos indígenas, pertencentes a cento e sessenta povos, morreram de Covid-19. A trágica contagem é do grupo Articulação dos Povos Indígenas do Brasil. Na semana passada, ele apresentou ao Tribunal Penal Internacional, em Haia, mais uma denúncia contra o presidente Jair Bolsonaro, acusando-o de genocídio. Trata-se da terceira ação contra Bolsonaro que desembarca no tribunal, todas elas motivadas pela evidente política anti-indigenista desenvolvida em sua gestão — e que pode ser exemplificada no incentivo ao garimpo ilegal nas reservas. Nessa última representação frisa-se que ocorre no Brasil, contra os indígenas, “um ataque generalizado e sistemático”. Mais: é destacado o fato de as atitudes do governo serem intencionais, a ponto de ele valer-se da pandemia para implementar o seu plano de extinguir os mais diversos povos.

1200 indígenas morreram no Brasil devido à Covid-19. Esse número de óbitos envolve 163 povos

“Não suportamos mais tanta dor. Ao longo da pandemia, assistimos à morte de dezenas de índios do povo Xavante e Kokama. E vimos o extermínio do último homem do povo” Juma Sonia Guajajara, líder ativista

COMPORTAMENTO
Anatomia do cinismo

LOUCURA O presidente nas redes sociais: ele quer o direito legal de mentir (Crédito:Divulgação)

Os cínicos se acham perspicazes. São tolos que não percebem o quanto escancaram suas más intenções. Jair Bolsonaro, por exemplo, colocou ponto final em projeto de lei que visa a proibir as redes sociais e empresas de tecnologia de removerem conteúdos de suas páginas, a não ser por decisão judicial. Bolsonaro já teve diversos posts removidos por iniciativa das redes, pelo fato de eles conterem fake news — como apologia à cloroquina ou mentiras sobre o STF. Ele quer chegar às eleições de 2022 entupindo as redes de mentiras. Ao mesmo tempo, Bolsonaro impôs sigilo aos documentos sobre a maracutaia do governo na compra da vacina covaxin (os papéis estão com a CPI). Ou seja: ninguém pode retirar as mentiras que ele fala; e ninguém pode saber das verdades que falam sobre ele.

CPI
Para prender Bolsonaro, basta um escrivão e um investigador

É caso de delegacia, que não precisa sequer de delegado, basta o escrivão e um investigador. Vexame total: Jair Bolsonaro será indiciado por cinco crimes, dentre eles os de curandeirismo e charlatanismo — isso por enquanto, mais delitos virão a engordar a “capivara”. Tais crimes constam do pedido de indiciamento que a CPI da Covid decidiu enviar ao Ministério Público Federal, argumentando que o presidente incentivou o “uso de medicamentos sem eficácia comprovada” contra o coronavírus. Tal pedido constará do relatório final da CPI, que dirá que o presidente foi o grande “garoto-propaganda” da cloroquina e ivermectina, disseminando mentiras e levando mais de meio milhão de brasileiros à morte. O entendimento de que é preciso pedir o indiciamento ganhou força após o depoimento de Jailton Batista, diretor-executivo da Vitamedic, fabricante de ivermectina. À CPI, Jailton admitiu que a empresa robusteceu seus lucros, patrocinando a publicação de anúncios favoráveis ao tratamento precoce — método condenado pela OMS, com ineficácia cientificamente comprovada. Mesmo assim, o PhD em medicina, capitão Bolsonaro, seguiu estimulando essa inverdade.

Por enquanto, cinco delitos praticados pelo presidente do Brasil integram a requisição que seguirá ao MPF:

Charlatanismo
(três meses a um ano de prisão)
Causar epidemia
(dez a quinze anos de prisão)
Curandeirismo
(seis meses a dois anos de prisão)
Publicidade enganosa
(três meses a um ano de prisão)
Corrupção passiva
(dois a treze anos de prisão)

O líder nervosinho

DEPOIMENTO Ricardo Barros: irritação e mentiras na CPI (Crédito:Jefferson Rudy)

Ao prestar depoimento à CPI da Covid, na quinta-feira 12, o líder do governo na Câmara, deputado federal Ricardo Barros, falou mentiras agressivas e causou a interrupção dos trabalhos. Disse ele: “o mundo inteiro quer comprar vacinas e espero que essa CPI traga bons resultados para o Brasil, produza efeito positivo (…) porque o negativo já produziu muito, afastou (…) empresas interessadas em vender vacina (…). O presidente da Comissão, Omar Aziz, deu-lhe a resposta merecida: “afastamos as vacinas que vocês do governo queriam tirar proveito, rapaz (…). Reunião está suspensa, e vamos avaliar o convite do deputado”.