Indígenas que habitam as ilhas do norte da Austrália apresentaram nesta terça-feira (26) uma denúncia histórica para obrigar o governo a protegê-los da mudança climática, com reduções mais fortes das emissões de CO2.

Os moradores do Estreito de Torres dizem que o aumento do nível das águas do mar representa uma ameaça existencial para suas terras ancestrais e sua cultura, colocando-os “na linha de frente da crise climática”.

Advogados dos habitantes de Boigu e Saibai, as ilhas mais afetadas, querem que o Tribunal Federal australiano ordene o governo a “reduzir as emissões de gases de efeito estufa a um nível que impeça que os moradores do Estreito de Torres se tornem refugiados climáticos”.

Essa é considerada a primeira denúncia por mudança climática lançada por indígenas australianos.

A ação foi apresentada no mesmo dia em que o governo conservador australiano apresentou a meta de alcançar a neutralidade do carbono em 2050, com um plano pouco detalhado que levantou críticas por depender de tecnologias sem maior desenvolvimento e compensações de carbono.

Menos de 5.000 pessoas vivem no Estreito de Torres, um conjunto de 274 ilhas entre o território principal da Austrália e Papua Nova Guiné.

A denúncia argumenta que algumas ilhas se tornarão inabitáveis se as temperaturas globais aumentarem mais de 1,5 ºC sobre os níveis pré-industriais, algo que, segundo especialistas da ONU, será alcançado em 2030.

Paul Kabai, radicado na ilha Saibai, afirmou que o agravamento das inundações e os solos afetados pela salinização deixaram os moradores expostos a um futuro potencialmente nefasto.

“Tornar-se um refugiado climático significa perder tudo: nossa casa, nossa cultura, nossas histórias e nossa identidade”, afirmou.

Como antecedente da denúncia, oito adolescentes australianos conseguiram uma vitória judicial em maio, quando um juiz federal determinou que a expansão de uma mina de carvão perto de Sydney causaria danos associados à mudança climática.