A quarta vitória do brasileiro Helio Castroneves nas 500 Milhas de Indianápolis, nos Estados Unidos, no domingo, foi uma façanha histórica. Com o tetra, o brasileiro entrou para o hall dos maiores vencedores da lendária prova. Apenas outros três pilotos têm quatro vitórias na corrida: Anthony Joseph Foyt, Al Unser e Rick Mears. E o brasileiro fez isso aos 46 anos. “Os velhinhos ainda dão para o gasto”, brincou em entrevista ao Estadão.

Castroneves também correu diante de um público de 135 mil pessoas, outro fato marcante na prova. “Indianápolis sem público não é Indianápolis”, disse, referindo-se ao momento em que as competições do país foram disputadas sem torcedores, uma cena que muda diariamente.

A idade deve ser destacada porque marca um recomeço na sua carreira. No ano passado, depois de 20 anos, ele saiu da Penske. Muito apostaram que ele estaria acabado para o automobilismo. Mas ele insistiu e fechou com um contrato com a MSR por apenas seis corridas. A mais importante corrida do calendário da Fórmula Indy esgotou seus ingressos e teve, segundo a organização, o maior público registrado em eventos esportivos durante a pandemia do novo coronavírus.

Já vacinado contra o novo coronavírus, Helinho viveu uma semana angustiante. Sua mãe teve covid-19 e se recupera em casa, em Ribeirão Preto (SP). “Eu ligava três, quatro vezes ao dia, com o coração na mão, para saber se estava tudo bem. Nos Estados Unidos, já existem muitos vacinados e as restrições estão mais brandas”, disse o piloto em uma comparação ao Brasil.

A prova histórica foi transmitida pela TV Cultura, que alcançou boa audiência – ficou em quarto lugar entre as emissoras abertas – com uma aposta nova no esporte e no automobilismo.

O que significa se tornar um dos maiores vencedores de uma prova lendária como as 500 Milhas?

Pra te falar a verdade, a ficha não caiu ainda. Está caindo aos poucos, melhor dizendo. Eu desejei tanto essa quarta vitória e bati tantas vezes na trave que parece um sonho. Estar ao lado do AJ Foyt, Al Unser e Rick Mear como o maior vencedor da maior prova do mundo é um orgulho muito grande. Sou abençoado e tenho de agradecer muito a Deus, minha família, a equipe … quatro Indy 500 … uauuu!

Esta foi a mais emocionante das suas quatro conquistas? O que ela teve de especial?

Não sei se você tem filhos, mas, se tiver, tenho certeza de que não dá para preferir um ou outro. Você ama todos da mesma forma. A Indy 500 é mais ou menos isso, não tenho como dizer eu prefiro essa ou aquela. Cada uma é especial do seu modo e essa, rapaz, foi pra lá de especial. Se você pensar, em 2001 eu cheguei aqui como estreante e venci pela Penske. Eu fiquei na Penske de 2000 até o ano passado e agora, fiz minha estreia por uma equipe nova, a Meyer Shank Racing, que nunca tinha corrido com dois carros, que nunca tinha corrido em Indianapolis e nesse contexto todo veio essa vitória maravilhosa. Especial nesse caso é que é um novo começo, sinal de que os velhinhos ainda dão pro gasto. O que aconteceu comigo no ano passado parecia o fim, mas na verdade foi um começo maravilhoso de uma nova fase na minha carreira.

Em que momento sentiu que podia vencer? Como foram as voltas finais?

Meu carro estava muito bom no tráfego. Não, minto, não estava bom, estava fantástico! Mas quando eu ficava de cara para o vento, saía um pouco de frente, o balance não estava ideal. Por causa disso, andei muito próximo do (espanhol Álex) Palou nas últimas voltas, meio que comboiando. Só não podia errar na hora de dar o bote. Graças a Deus, deu certo.

Quais fatores foram mais importantes para essa vitória?

Trabalho e união. Foi a minha primeira corrida pela Meyer Shank Racing e a primeira deles e Indianapolis e também a primeira vez com dois carros. Era muita novidade junta e a gente precisou trabalhar com dedicação, humildade e crescendo aos poucos. É um time de pessoas maravilhosas, a começar pelo Mike Shank e o Jim Meyer. Os problemas foram sendo resolvidos com objetividade e tranquilidade, sem atropelo. É uma fórmula vencedora.

Quais as lembranças que você tem das suas outras vitórias (2001, 2002 e 2009)?

Imagina um garoto de garoto chegar a Indianapolis como estreante e vencer a maior prova do mundo. Aquele momento foi sensacional. No ano seguinte, em 2002, aconteceu o que parecia impossível e venci a segunda consecutiva. A de 2009 foi um renascimento, pois aconteceu logo após o julgamento na justiça americana, quando minha irmã Kati e eu fomos acusados por supostos crimes contra o imposto de renda e fomos totalmente absolvidos. E agora, 12 anos depois, estou aqui de novo, podendo festejar com minha filha Mikaella, que nasceu em dezembro de 2009. Cara, é demais!

Como foi participar de uma corrida com 135 mil presentes, o maior público esportivo da pandemia?

Indianapolis sem público não é Indianapolis. No ano passado foi aquela coisa estranha, sem público e sem a energia da galera que é tão importante para todos os pilotos. Neste ano já deu para sentir aquela coisa boa novamente e peço a Deus que no ano que vem a lotação possa estar completa novamente. É tanta gente, é tanto carinho, é tanta energia boa que vem do público que é mais ou menos como entrar no Morumbi, do meu querido São Paulo Futebol Clube, e não ter ninguém. É um desfile de escola de samba no Sambódromo sem gente. Acho que consegui ilustrar bem, né?

Qual foi a sensação de celebrar com os torcedores no alambrado? O que passou pela sua cabeça? Teve algum receio, alguma preocupação? Como tem sido competir durante a pandemia?

A pandemia é uma tragédia mundial, que exige responsabilidade individual e coletiva. A união em torno dos cuidados e da necessidade de vacina são fundamentais. Enquanto falo com você, minha mãe está se recuperando da covid-19 em casa, em Ribeirão Preto. A semana toda liguei três, quatro vezes por dia para saber como estava, com o coração na mão. Aqui nos Estados Unidos tem muita gente vacinada – eu mesmo já me vacinei – e as restrição começam a ficar mais brandas. Prova disso foi que metade do público foi admitido em Indianapolis.

Como foram as comemorações depois da corrida? O que você fez após a conquista?

Pra falar a verdade, não parei desde a bandeirada. Perdi a conta de tantas entrevistas que já dei, inclusive essa para o Estadão, e não sei quando isso vai terminar. Estou exausto e rouco, mas faço isso com tanta felicidade que não é nenhum incômodo, não. No meio de tudo isso, a gente não para de comemorar com a equipe, família e amigos.

Quais são seus planos a partir de agora, a curto e médio prazo?

Meu contrato com a MSR é para seis corridas neste ano. Só fiz a primeira e tem mais cinco até o final da temporada da IndyCar. Em junho e julho vou participar com SRX, campeonato criado pelo Tony Stewart, em ovais curtos, inclusive de terra. Serão seis eventos em um mês de competição. Agora, para 2022, nada tenho assinado. Vamos ver o que acontece.