Incertezas sobre juros no Brasil e no EUA pesam no Ibovespa, que faz ajustes após recordes

A primeira semana de dezembro tem um início cauteloso na Bolsa brasileira, reflexo da parcimônia dos índices de ações internacionais do ocidente na manhã desta segunda-feira, 1º de dezembro, apesar da alta das commodities. Além disso, o principal indicador da B3 vem se sucessivas máximas em novembro, tendo encerrado o mês com ganhos de 6,37% – o melhor desde agosto de 2024 -, o que abre espaço para ajuste.

“Os mercados no exterior estão pesados, aqui tem o atrito entre o Executivo e o Legislativo em meio à indicação do nome de Jorge Messias para o STF, que gera cautela”, diz Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença.

No fim de semana, em mais um capítulo da crise do governo com o Congresso, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), divulgou nota com críticas a “setores do Poder Executivo”, que, segundo ele, tentam “criar a falsa impressão, perante a sociedade, de que divergências entre os Poderes são resolvidas por ajuste de interesse fisiológico, com cargos e emendas”.

Os investidores esperam sinais sobre corte de juros no Brasil e nos Estados Unidos. Hoje, as atenções ficam nos presidentes dos bancos centrais do Brasil, Gabriel Galípolo, e dos Estados Unidos, Jerome Powell, em eventos.

“Eventual reação a comentários de Powell ficará para amanhã, dado que falará hoje após os fechamentos dos mercados aqui e nos EUA”, ressalta o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus. “Parece que hoje será uma dia mais de ressaca, à espera de Powell, após o pregão encurtado em Nova York na sexta-feira, depois do feriado de Ação de Graças, na quinta passada.”

Já Galipolo, após o discurso considerado mais duro da semana passada, disse há pouco, em evento em São Paulo, que não irá “fazer qualquer tipo de adição ou modulação” em relação a sua última fala. Na semana passada, os juros subiram após Galípolo dizer que a política monetária está funcionando de forma “bastante lenta”, alertou sobre o crescimento do crédito e admitiu que a percepção de um fiscal estimulativo pesa nas expectativas desancoradas.

O mercado ainda digere as afirmações, em pronunciamento em rádio e TV ontem do presidente Luiz Inácio do Lula da Silva de que cálculos da Receita Federal mostram que o “dinheiro extra” resultante da ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda deve injetar R$ 28 bilhões na economia. O montante deve gerar mais consumo e consequentemente mais inflação.

Porém, a mudança da bandeira tarifária de vermelha para amarela nas contas de luz pode gerar alívio inflacionário, embora muitos especialistas já contassem com a alteração, anunciada na sexta-feira pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

A semana ainda tem divulgações importantes como o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e o índice de inflação americano PCE, além da pesquisa ADP de emprego nos EUA e PMIs mundiais, com alguns já sendo informados hoje.

Hoje foi divulgado o boletim Focus, com novo alívio na estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2025, de 4,45% para 4,43%, abaixo do teto da meta de 4,5%, mas manutenção nos seguintes anos. Já a projeção para a inflação suavizada nos próximos 12 meses passou de 4,09% para 4,10% e a Selic esperada para 2028 caiu de 9,75% para 9,50%. Para os anos anteriores, as expectativas não foram alteradas.

No exterior, após subir mais de 1%, em reação à confirmação feita pela Opep+ de seus planos de manter a produção no primeiro trimestre do ano que vem, as cotações futuras do petróleo desaceleravam. Além disso, a declaração do presidente americano, Donald Trump, de que o espaço aéreo da Venezuela deveria ser considerado “totalmente fechado” ainda gera insegurança entre os investidores. Já o minério de ferro negociado na bolsa de Dalian, na China, fechou em alta de 1,14%.

As ações da Petrobras caiam entre 0,35% (PN) e 0,27% (ON), enquanto as da Vale diminuíam o ritmo de alta a 0,22%. Papéis de grandes bancos cediam até 0,85% (BB).

Na sexta-feira, o Ibovespa fechou com alta de 0,45%, aos 159.072,13 pontos, em nível recorde. Perto das 11 horas, o Índice Bovespa caía 0,44%, aos 158.372,78 pontos, ante recuo de 0,66%, aos 158.029,48 pontos, na mínima, na comparação com alta de 0,10%, na máxima em 159.223,92 pontos, perto da abertura (159,073,46 pontos, com variação zero).

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