O incêndio que consumiu como um fósforo um prédio residencial na cidade espanhola de Valência deixou pelo menos dez mortos, segundo um novo relatório divulgado nesta sexta-feira (23) pelas autoridades, que continuam sua busca pelas vítimas.

O balanço anterior do incidente ocorrido na quinta-feira, um dos mais graves dos últimos anos na Espanha, era de quatro mortos.

“Podemos confirmar que, em uma primeira inspeção, a polícia científica apurou 10 corpos, 10 vítimas mortais”, informou Pilar Bernabé, delegada do governo na região.

A confusão reinou, porém, sobre o número de pessoas que ainda poderiam estar desaparecidas.

“Não podemos descartar” que haja mais mortes, “porque haverá mais inspeções”, acrescentou Bernabé.

Pouco antes do meio-dia, vários bombeiros equipados com trajes de proteção conseguiram finalmente entrar neste edifício de 14 andares completamente incendiado.

As temperaturas extremas atingidas por esta construção localizada no bairro Campanar impediram a entrada mais cedo dos serviços de emergência, que tiveram que trabalhar do lado de fora.

Slava Honcharenko, uma ucraniana de 31 anos, disse conhecer várias famílias dos seus compatriotas que moravam no prédio e que se instalaram em um hotel desde a tarde de quinta-feira.

“Estamos muito mal, sabemos o que é perder a nossa casa porque vivemos isso há dois anos na Ucrânia”, disse à AFP, perto do edifício, de onde ainda emergem nuvens de fumaça.

– “Horrível” –

Depois das violentas chamas que começaram na noite de quinta-feira às 17h30 (13h30 no horário de Brasília), esta construção, composta por dois blocos contíguos, amanheceu nesta sexta-feira como um enorme esqueleto carbonizado.

O presidente regional de Valência, Carlos Mazón, declarou à imprensa que 15 pessoas foram atendidas com ferimentos de vários níveis, incluindo sete bombeiros, mas suas vidas não correm perigo.

As chamas engoliram o prédio quase por completo de maneira muito rápida, deixando imagens impressionantes.

Foi “horrível”, disse à AFP Vicente Ferrer, um aposentado de 72 anos, afirmando que “as Fallas não ardem tão rapidamente como o edifício queimou”, referindo-se às grandes figuras de cartão, papel e poliestireno que todos os anos queimam em março em Valência para a festa de San José, atraindo um milhão de pessoas à terceira cidade da Espanha.

Queimou “como se tivessem derramado gasolina”, disse Sergio Pérez, um motorista de 49 anos.

O presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, visitou o local do incidente e expressou sua “solidariedade” e “empatia com os familiares” das vítimas.

– Dúvidas sobre material isolante –

Vários especialistas questionaram a possível influência de um material isolante instalado na fachada para a rápida propagação das chamas, como aconteceu na tragédia da Torre Grenfell, em Londres, em junho de 2017, na qual morreram 72 pessoas.

Em declarações à TV regional valenciana A Punt, a vice-presidente do Colégio de Engenheiros Técnicos Industriais de Valência, Esther Puchades, atribuiu a voracidade do incêndio a um revestimento de poliuretano na fachada, um material muito inflamável.

Outros mencionaram a presença de polietileno, o mesmo material usado na Torre Grenfell.

Segundo Faustino Yanguas, comandante dos bombeiros do município Valência, o “possível material, que deverá ser investigado”, aliado aos fortes ventos que atingiram a cidade na tarde de quinta-feira, foram fatores cruciais para a rápida expansão do incêndio.

Várias unidades de socorristas foram mobilizadas para combater as grandes chamas, incluindo agentes da Unidade Militar de Emergências.

As autoridades desta dinâmica região do Mediterrâneo espanhol decretaram três dias de luto oficial e anunciaram uma ajuda de vários milhares de euros para que as famílias que perderam tudo na catástrofe possam comprar roupas e alimentos.

A Prefeitura de Valência informou que colocará à disposição das vítimas 131 apartamentos em um prédio que acabou de adquirir.

A partida da Liga de futebol entre Valência e Granada, prevista para sábado, também foi adiada.

Em outubro de 2023, um incêndio em um complexo de discotecas na região vizinha de Múrcia deixou 13 mortos, um incidente pelo qual seis pessoas respondem na Justiça.

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