Os bombeiros conseguiram, nesta sexta-feira (23), entrar no prédio residencial da cidade espanhola de Valência devorado pelas chamas, em busca de 14 pessoas ainda desaparecidas nesta tragédia que deixou quatro mortos.

Segundo uma equipe da AFP presente no local, pouco antes do meio-dia (8h00 de Brasília) vários bombeiros equipados com trajes de proteção começaram a inspecionar o edifício, completamente carbonizado por um incêndio que deflagrou na quinta-feira.

“A prioridade agora (…) é a busca pelas vítimas”, disse aos jornalistas o presidente do governo, Pedro Sánchez, que se deslocou ao local do incidente.

O balanço oficial deste incêndio, que começou na quinta-feira por volta das 17h30 (13h30 no horário de Brasília) em um andar intermediário do edifício, é de quatro mortos.

Mas “temos 14 pessoas” que moravam neste prédio com dois blocos anexos e 138 apartamentos, que “não foram localizadas”, indicou a delegada do governo em Valência, Pilar Bernabé, à rádio pública RNE.

A prefeita de Valência, María José Catalá, falou em “entre 9 e 15 pessoas que não foram localizadas”.

Slava Honcharenko, uma ucraniana de 31 anos, disse conhecer várias famílias dos seus compatriotas que viviam no edifício e que se instalaram em um hotel desde a tarde de quinta-feira.

“Estamos muito mal, sabemos o que é perder a nossa casa porque vivemos isso há dois anos na Ucrânia”, disse à AFP, perto do edifício, de onde ainda emergem nuvens de fumaça.

– “Horrível” –

Depois das violentas chamas da noite de quinta-feira, esta construção, localizada no bairro Campanar, acordou nesta sexta-feira como um enorme esqueleto carbonizado.

O presidente regional de Valência, Carlos Mazón, declarou à imprensa que 15 pessoas foram atendidas com ferimentos de vários níveis, incluindo sete bombeiros.

Seis pessoas continuam hospitalizadas, mas estão fora de perigo.

As chamas engoliram o prédio quase por completo de maneira muito rápida, deixando imagens impressionantes deste imóvel localizado em uma zona residencial nos arredores de Valência, completamente em chamas.

Foi “horrível”, disse à AFP Vicente Ferrer, um aposentado de 72 anos, afirmando que “as Fallas não ardem tão rapidamente como o edifício queimou”, referindo-se às grandes figuras de cartão, papel e poliestireno que todos os anos queimam em março em Valência para dar as boas-vindas à primavera.

Queimou “como se tivessem derramado gasolina”, disse Sergio Pérez, um motorista de 49 anos.

O complexo foi construído há 15 anos, durante o boom imobiliário, quando diversas áreas da cidade de quase 800.000 habitantes registraram uma rápida expansão.

– Dúvidas sobre material isolante –

Vários especialistas questionaram a possível influência de um material isolante instalado na fachada para a rápida propagação das chamas, como aconteceu na tragédia da Torre Grenfell, em Londres, em junho de 2017, na qual morreram 72 pessoas.

Em declarações à TV regional valenciana A Punt, a vice-presidente do Colégio de Engenheiros Técnicos Industriais de Valência, Esther Puchades, atribuiu a voracidade do incêndio a um revestimento de poliuretano na fachada, um material muito inflamável.

Outros mencionaram a presença de polietileno, o mesmo material usado na Torre Grenfell.

Faustino Yanguas, comandante dos bombeiros do município Valência, o “possível material, que deverá ser investigado”, aliado aos fortes ventos que atingiram a cidade na tarde de quinta-feira, foram fatores cruciais para a rápida expansão do incêndio.

Várias unidades de socorristas foram mobilizadas para lutar contra as grandes chamas, incluindo agentes da Unidade Militar de Emergências.

As autoridades desta dinâmica região do Mediterrâneo espanhol decretaram três dias de luto oficial, além de anunciarem uma ajuda de vários milhares de euros para que as famílias que perderam tudo na catástrofe possam comprar roupas e alimentos.

A prefeitura de Valência informou que colocará à disposição das vítimas 131 apartamentos em um prédio que acaba de adquirir.

Em outubro de 2023, um incêndio em um complexo de discotecas na região vizinha de Múrcia deixou 13 mortos, um incidente pelo qual seis pessoas respondem na Justiça.

bur-al-du-rs/an/aa/fp