Pelo menos 100 pessoas morreram, e outras 150 ficaram feridas, em um incêndio durante um casamento em um salão de festas de uma pequena cidade no norte do Iraque, informaram as autoridades de saúde nesta quarta-feira (27).

No principal hospital de Karakosh, a pequena cidade cristã onde ocorreu a tragédia, um fotógrafo da AFP testemunhou diversas ambulâncias chegando com as sirenes ligadas no meio da noite.

Dezenas de pessoas estavam reunidas no pátio do centro médico, incluindo familiares das vítimas e voluntários dispostos a doar sangue, de acordo com a mesma fonte.

Uma multidão também se amontoou diante das portas abertas de um caminhão frigorífico que transportava várias sacolas mortuárias, relatou o fotógrafo.

Karakosh, também conhecida como Bajdida, ou Al Hamdaniya, está localizada na província de Nínive, no norte do Iraque, 51 km a sudeste da metrópole de Mossul.

As autoridades sanitárias de Nínive “registraram 100 mortos e mais de 150 feridos no incêndio em um salão de festas em Al Hamdaniya”, informou a agência de notícias oficial iraquiana INA em um “balanço preliminar”.

O porta-voz do Ministério da Saúde, Saif al-Badr, confirmou esses números à AFP. “A maioria dos feridos sofreu queimaduras e asfixia”, disse, antes de citar que o incêndio também provocou um grande tumulto entre os convidados do casamento.

O diretor dos serviços de Saúde de Nínive, Mansour Marouf, disse hoje à tarde, no entanto, que 94 pessoas morreram e que seus corpos foram levados para diferentes hospitais. Destes, apenas 30 foram identificados por familiares até o momento, acrescentou, em entrevista coletiva.

A organização Crescente Vermelho iraquiana informou que registrou mais de 450 vítimas, mas não explicou quantas morreram na tragédia.

Nesta quarta, centenas de pessoas se reuniram à tarde no cemitério de Qaraqosh para enterrar seus entes queridos.

Cerca de 20 caixões, alguns cobertos com tecidos de cetim ou arranjos florais, chegaram no meio da multidão. Mulheres chorando, vestidas de preto, só conseguiam caminhar amparadas por outras pessoas.

– “Estávamos sufocando” –

Os serviços de defesa civil detectaram a presença de painéis pré-fabricados “altamente inflamáveis e em desacordo com as normas de segurança” no salão de festas onde ocorreu a tragédia.

“As informações preliminares indicam o uso de fogos de artifício durante um casamento, o que provocou um incêndio no salão”, informaram por meio de nota.

As chamas provocaram o “desabamento de partes do teto, devido ao uso de materiais de construção altamente inflamáveis e baratos”, acrescentaram as fontes.

O perigo foi agravado, prosseguiram, “pelas emissões de gases tóxicos vinculadas à combustão dos painéis”.

Os recém-casados “dançavam, os fogos de artifício começaram a subir até o teto, todo o salão pegou fogo”, declarou Rania Waad, de 17 anos, sem conter as lágrimas, enquanto aguardava por atendimento para uma queimadura na mão, ao lado da irmã no hospital de Karakosh.

Ela disse que o casamento tinha “muitos convidados”. “Não conseguimos ver nada, estávamos sufocando, não sabíamos como sair”, acrescentou.

No salão destruído, o fotógrafo da AFP viu socorristas e policiais inspecionando o local com lanternas e a luz dos telefones celulares. Cadeiras de metal e destroços amontoavam-se no salão, enquanto a estrutura do teto pendia.

– Nove detidos –

Em um comunicado breve, o primeiro-ministro iraquiano, Mohamed Shia al-Sudani, convocou as autoridades sanitárias e do Ministério do Interior a “mobilizar todos os esforços de resgate” para auxiliar as vítimas.

O Ministério da Saúde anunciou “o envio de caminhões de ajuda médica” de Bagdá e outras províncias do país, e garantiu que suas equipes em Nínive estavam dedicadas a “tratar os feridos”.

O porta-voz do Ministério do Interior, general Saad Maan, informou à AFP que “nove funcionários foram detidos” e que “quatro ordens de prisão foram emitidas contra os donos” do salão de festas.

As autoridades também anunciaram a detenção de três dos quatro proprietários do salão na região autônoma do Curdistão, no norte do Iraque.

O respeito às normas de segurança no Iraque é frágil, tanto no setor da construção quanto na área de transportes.

O país, com infraestruturas deterioradas após décadas de conflito, é regularmente palco de incêndios, ou acidentes fatais.

Em julho de 2021, um incêndio em uma unidade anticovid em um hospital no sul do Iraque provocou a morte de 60 pessoas.

Meses antes, em abril do mesmo ano, uma explosão de cilindros de oxigênio provocou outro incêndio em um hospital em Bagdá dedicado ao tratamento da covid-19, deixando mais de 80 mortos.

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