Maria Fernanda Cândido não para. Em pouco mais de um ano, gravou três filmes em pelo menos três países, França, Itália e Brasil. Agora, em Portugal, rodando mais um longa, a atriz fala sobre um de seus projetos, O Traidor, de Marco Bellocchio, escolhido pela Itália para concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro, em 2020.

“Recebi a notícia com muita alegria e fiquei extremamente feliz pelo Bellocchio”, destaca a atriz, que interpreta Maria Cristina de Almeida Guimarães, a mulher do mafioso italiano, Tommaso Buscetta, vivido pelo ator Pierfrancesco Favino.

Inspirado em uma história real, o filme narra a trajetória de Buscetta (1928-2000), que teve sua vida diretamente ligada ao Brasil e entrou para a história como o primeiro grande delator da Cosa Nostra, grupo criminoso que se desenvolveu na Sicília.

Buscetta fugiu para o Brasil duas vezes para escapar da guerra deflagrada pelos Corleone pelo controle da máfia e foi extraditado para a Itália. Na volta ao país de origem pela segunda vez, passou a colaborar com a Justiça e deu informações inéditas sobre o funcionamento da Cosa Nostra. Maria Cristina, sua terceira esposa, foi a grande responsável por influenciá-lo a colaborar com as investigações.

“Como brasileira, carrego a responsabilidade de ter colaborado em um filme que, para os italianos, é simbólico, uma vez que se trata da história verdadeira da máfia siciliana. É parte da cultura deles”, salienta a atriz.

Descendente de italianos, Maria Fernanda tem bastante apreço pelo país europeu. “Sinto-me muito bem na Itália e tenho profunda admiração pela cultura. Reconheço que eles são o berço da estética, da bela forma e da Renascença. É um país que cultiva a beleza de forma cotidiana. Fora isso, falo um pouco a língua, pois cresci dentro dessa cultura e minha mãe sempre fez questão de deixar isto presente”, conta.

Mesmo com certa intimidade e admiração, foi um desafio para a atriz viver Maria Cristina, a começar pela pesquisa do personagem. Advogada, na época, a brasileira era uma mulher culta, de família aristocrática carioca, que se apaixonou por um criminoso, tornando-se uma ótima madrasta e vivendo ao lado dele até sua morte, em 2000.

Para Maria Fernanda, trata-se de uma história de amor forte e, ao mesmo tempo, paradoxal e inusitada, pelo fato de uma mulher como ela se apaixonar por um mafioso.

“Ela foi uma presença feminina dentro de um mundo totalmente masculino, violento e machista. Foi um desafio até mesmo dentro do set, uma vez que minhas cenas eram sempre neste universo. São questões importantes que o filme aborda e que não foram simples de serem realizadas.”

Os mais de 20 anos de carreira deram bagagem suficiente para que a atriz superasse tais desafios e ainda fosse agraciada com duas premiações pela sua interpretação: o de melhor atriz no Kinéo Awards, em Veneza, e o Prêmio das Nações no Festival de Taormina, na Sicília.

Maria Fernanda atribui o sucesso, principalmente, à direção. “Contar história de máfia, muitos já fizeram. Mas a forma como Bellocchio aborda o tema é genial. Há também o trabalho de Pierfrancesco Favino como o protagonista”, conta.

O filme é uma coprodução Itália, Brasil, França e Alemanha e, por isso, as premiações também têm significado especial para os brasileiros, acredita a atriz. “É muito importante. Estamos atravessando um momento muito específico no País e todas as conquistas dentro do audiovisual refletem o nosso potencial e a nossa força.”

A Academia de Hollywood deverá indicar, entre o fim de dezembro e o início de janeiro, uma lista de pré-indicados à premiação de 2020. O Brasil concorre com o longa A Vida Invisível, de Karim Aïnouz, que estreia no dia 31.

Dos filmes recém-estrelados por Maria Fernanda Cândido, somente O Incerto Lugar do Desejo, de Paula Trabulsi, já estreou. O Traidor está previsto para chegar às salas brasileiras em 2020, assim como A Paixão Segundo GH, de Luiz Fernando Carvalho, inspirado no livro de Clarice Lispector, e que celebrará o centenário da autora. Paralelamente, a atriz já começou a gravar um novo longa intitulado Vermelho Monet, de Halder Gomes, em Lisboa.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.