Nada causa mais temor a dirigentes autoritários do que a liberdade dos meios de comunicação. A última vítima da coerção à imprensa foi o jornalista José Antônio Arantes, editor da Folha da Região de Olímpia. Arantes teve sua casa e o prédio do jornal incendiados. O jornalista e sua família acordaram a tempo de conter o fogo. “Acho que houve o financiamento do empresariado bolsonarista para a execução desse ato terrorista”, afirmou Arantes. O acusado do crime é o bombeiro Cláudio José Azevedo Assis. Segundo as investigações o bombeiro ateou fogo por discordar das notícias que incentivam o isolamento social. “O exemplo de Bolsonaro tem incentivado esse tipo de prática”, contou o jornalista.

INCÊNDIO Jornal e casa do editor são incendiados (Crédito:Divulgação)

A escalada de ataques à jornalistas tem crescido muito depois da vitória de Bolsonaro. Em uma das poucas oportunidades em que ele foi à TV no período eleitoral de 2018, deixou claro que se vencesse a eleição confrontaria os meios de comunicação, como fez na ocasião da entrevista aos jornalistas Willian Bonner e Renata Vasconcelos, no Jornal Nacional.

Em 2020, a batalha contra a informação foi espantosa. A ONG Repórteres sem Fronteiras fez um levantamento mostrando que o presidente, seus filhos e ministros mais próximos fizeram 580 ataques aos profissionais de comunicação. O relatório anual de direitos humanos dos EUA também identificou o que chamam de “violência contra jornalistas” promovidas por Bolsonaro. A Fenaj contabilizou um aumento de 105,77% nos ataques contra a liberdade de informação, praticados por grupos bolsonaristas.

A ONG Repórteres sem Fronteiras diz que o presidente, seus filhos e ministros mais próximos fizeram 580 ataques a jornalistas

A relação do presidente com a imprensa é traumática. O cientista político, Ricardo Ismael, conta que há um despreparo evidente. “Bolsonaro ficou 28 anos no Congresso, mas sempre pertenceu ao baixo clero. Ele tem um estilo agressivo e não sabe dialogar”, disse Ismael. Recentemente o presidente foi condenado a pagar para a jornalista da Folha de São Paulo, Patrícia Campos Mello, a importância de R$ 20 mil. O capitão disse que a jornalista “queria dar o furo, dar o furo a qualquer preço”. A frase é reveladora do tratamento dispensado pelo presidente aos jornalistas: desrespeito e afronta à liberdade de expressão.

Desde que assumiu a Presidência, o ruído de comunicação só aumenta. Bolsonaro é acusado de estruturar o “gabinete do ódio” no terceiro andar do Palácio do Planalto, de onde partem os ataques aos adversários