Os jornais europeus refletem neste sábado a dimensão histórica do Brexit, com a imagem de uma União Europeia (UE) de luto e obrigada a reagir para garantir sua sobrevivência.

Apenas parte da imprensa britânica, a que fez campanha contra a UE, comemora o “terremoto provocado pelo Brexit”, como o Daily Telegraph, que considera “este dia como o que os britânicos votaram por recuperar o controle de seu país”.

“Curve-se, Reino Unido!”, afirma na primeira página o Daily Mail. “Este foi o dia em que o povo silencioso se levantou contra uma classe política arrogante e desconectada e a elite depreciativa de Bruxelas”.

O Daily Mirror pergunta com angústia: “Então, o que diabos acontece agora?”.

No restante da Europa, a imprensa está atônita.

O holandês “Haagsche Courant” exibe na primeira página rostos deformados por um grito de horror inspirado na obra do pintor expressionista Edvard Munch.

O jornal escolheu a imagem para ilustrar o sentimento da chanceler alemã Angela Merkel, do primeiro-ministro holandês Mark Rutte e do chefe de Governo britânico David Cameron.

O jornal espanhol El País cita um “desastre” e uma “vitória de grande simbolismo para todos os inimigos do projeto europeu”.

O alemão Taz faz uma ironia ao felicitar os partidários do Brexit por uma vitória que faz “tremer o continente”.

“A Mancha não é mais um estreito, é um fosso”, afirma o jornal francês Libération.

“A Europa é uma casa comum, arde”.

Como outras publicações, o Libération busca uma explicação. “No Reino Unido, quanto mais pobre e mais idade se tem, mais se rejeita o projeto europeu”.

“As classes baixas do continente perderam a fé no projeto europeu e se inclinam pela nação, que consideram o único escudo contra os excessos da globalização”, completa.

“É uma boa notícia para os adversários da integração europeia, os populistas, os adeptos do egoísmo nacional, do isolacionismo e da xenofobia”, afirma o jornal polonês Gazeta Wyborcza.

“Traídos pela pátria dos Beatles” e “volta do egoísmo nacional”, afirma o italiano La Stampa. “Europa, acorda”, pede Il Sole 24 Ore.

A saída dos britânicos permite prevê dias sombrios para a Europa, afirma o tabloide alemão Bild, que prevê “meses ou anos de incerteza”.

O dinamarquês Politiken saúda a Europa de Rembrandt, Bruegel e Degas “que sofreu tanto e criou tanto”, e responsabiliza pelo fracasso, acima de tudo, David Cameron e os diplomatas europeus.

O francês La Voix du Nord pede uma ação rápida. “Talvez um dia agradeceremos aos nossos amigos ingleses por terem criado o choque elétrico que reanimou o paciente europeu”.

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